sábado, 16 de outubro de 2010

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Minha poesia está em ti

mora em teus poros
sua o teu suor
escorre pelos teus cabelos
e dança nos acordes da tua guitarra
nos anéis de caveiras nos teus dedos
na tua barba por fazer.
Minha poesia está
nos mais de cem versos que te devo
no ciúme controlado
no sotaque carregado
na linha do tempo que eu perdi.
Minha poesia está
na milionésima parte tua
a metade da metade da metade
a  que me pertence inteira
a parte mais ínfima
um quase nada
de todas as tuas frações diárias.

Minha poesia está em ti.






16.10.10 - 03h06min

Ne me quitte pas

("Fui Jacques Brel quando você se foi")


fui o sofrimento dele

o mesmo que escapou de ser dito

o mesmo que não pode ser traduzido

em língua alguma

pois fui isso

menos que nada

quando tu te foste

de mim.


Fui muito além da dor dita

ou da dor escondida

fui a dor desesperada

a que se crê maldita

a que se rasga

e que se odeia

essa mesma dor

que foi Suzanne Gabrielle

talvez "uma mistura de Brel y Pagliacci"

não tive tintas pra pintar o rosto

já que nenhuma permanecia

posto que as lágrimas apagavam

qualquer pintura, qualquer disfarce, qualquer fuga.

Eu fui A Dor

a solitária Dor de quem se sabe condenado

à distância e ao silêncio.

Eu fui essa Dor

promíscua.

Eu fui essa Dor

rasgada.

Eu fui a Morte

de mim.






16.10.10 - 02h50min