segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Nus

Despir-se é muito mais
que despojar-se das vestes
é deixar a descoberto
a alma, pra TI.
Corpo e alma desnudos.
Nus
Nós
Dois
.
29.12.2008 - madrugada

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

"Se tudo der certo"

(...)
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos...
(...)
Gonçalves Dias
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Quando tudo der certo
o jogo de palavras
virá com manual;
os magos a mais
- ou a menos, tanto 'faiz' -
não terão a menor importância,
dadas as mágoas
deixadas do lado de fora
dos nossos portões
que esquecemos de fechar
com enferrujados cadeados
de cristal.
Achei que tivesse tI perdido.
E me perdi ao isso achar.
Fiz do medo a poesia.
Um verso a mais pra TI
que ME sabes poetar.
25.12.2008 - 03h36min
(Tu não és otimista. Tu és ÓTIMO.
Obrigada pelo farto material de espelho.
Só o que faço é refletir essa tua aura brilhante,
que eu amo. FELIZ NATAL!)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Nomenclatura

Não é por acaso
que as três primeiras letras
do meu nome de batismo
sejam uma afirmativa...
19.12.2008 - 14h36min

Antes

Meu relógio está sempre adiantado talvez essa seja a melhor explicação sobre quem eu sou... 19.12.2008 - 14h35min

Fuga

Lápis
Papel
19.12.2008 - 14h12min

Eu quero TI dizer

O que eu quero dizer
é o que eu não disse
e a palavra me foge,
livre, nos campos da vida.
O que eu quero dizer
é o que eu não fiz
o que não pensei
o que deixei escapar
entre os dentes
em forma de SIM.
O que eu quero dizer
é uma frase desgastada
desgraçada na boca de uns
abençoada na de outros
mentirosa algumas vezes
profunda quase todas as outras.
O que eu quero dizer
é só um repeteco do eco
das esquinas e dos sussurros
cansados de descansar nos ouvidos
de outrem.
Mas a palavra me foge
mas a frase fica pela metade
mas a boca não abre
para dizer...
E o que eu quero dizer
fica dançando no ar
bem na minha frente,
deboche constante
dessa minha falta de coragem.
E o que eu quero mesmo dizer
é o que eu digo brincando
é o que não levas a sério
é o que ouves sem importância
todos os dias,
de outras formas,
com outras palavras,
ou até com as mesmas,
em outros tons.
E o que eu quero mesmo dizer
é que eu TI amo.
(...dizer...)
19.12.2008 - 14h06min

Agradecimento

Obrigada por teus olhos
exigirem-me os sorrisos
que eu, às vezes, esqueço
que sei criar...
19.12.2008 - 13h20min
(Pra TI)

As tristezas

... são versos, que a gente não soube rimar... 19.12.2008 - 13h15min

Da morte

Descanso (?) nunca bem-vindo. 19.12.2008 - 11h31min

Ambição

Não tenho grandes ambições nada impossível espero: minha filha feliz e saudável meu livro publicado e lido o homem que amo, ao meu lado. Mas como isso é difícil de conseguir... 19.12.2008 - 11h02min

Dizer

Tenho mil crônicas atravessadas na garganta e milhares de palavras reclamando o direito ao grito. Direito conquistado a suor escorrido na testa mesmo gosto da silenciosa lágrima que mancha meu rastro na estrada aberta por mim. As pérfidas razões dos verbos-espadas que cortam as não-palavras caladas soam confusas em suspiros sem significância (in?) alguma nessa minha realidade (i?) vertida sabe-se lá de onde. Cortam-me os pulsos os pesos das frases que pousam sobre lugar algum. Coerência é coisa pra poucos escolhidos a dedo; e eu não sei por quê mas não sou deles o um. Os estalos do telhado que a chuva fere são contratos jurados de morte pela extensão dos vocábulos proferidos. Fusão de dizeres. Fartura presa na língua. Não-dita. Silenciada. Engolida. 19.12.2008 - 10h15min

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Passagem

O caos desacelera o passo da harmonia complica os atalhos já gastos desgosta o império erguido a dor. A ferro e fogo o calmante cala meu verso cala minha saliva cala a sílaba dispersa que procurava a folha branca pra, borboleta, pousar. O caos estanca o fluxo e a partícula é o meio do mundo que não vislumbro que não prevejo que não adivinho na borra de chá do fundo da xícara de café. O caos espanta a linha. O cúmulo do absurdo é não ter uma expressão que se encaixe entre meus dedos pr'eu saber que a vida excede qualquer textura ou texto ou intenção de orvalhar os dias com pimenta e sal... Um dezembro outonal... 16.12.2008 - 17h55min

Desistência

Não quero mais mudar o mundo.
Não quero mais impossíveis atos.
Não quero mais a ilusão
de que tudo pode,
afinal,
dar certo,
no final
(e quando chega esse tal de "final"?).
Não quero mais mudar o mundo.
Eu, hoje, órfã da minha idéia mais querida...
16.12.2008 - 17h10min

A frase

É esse silêncio que rasga o poema na intenção não alcançada e que agora paira no ar.... 16.12.2008 - 04h12min

O Grito

Publico um grito.
Escuta e aquiesce,
que os tempos dirão
do freio das tramas.
Além disso
silêncio...
Shhhhhh....
16.12.2008 - 04h10min

Rasura

Se rasgo o raio
e solto o verbo
sobre o corpo resvalo
em estrelas multicores,
é porque me faltam olhares
suficientes
que te alcancem os braços
tatuados de vertigem e sopro quente.
Se enveredo pelas alamedas
confortavelmente já conhecidas
é porque maltratam-me as retinas
as centelhas do fogo de ontem
que consumiu-me os arrepios
e as censuras
e os cuidados
e os limites todos da lucidez.
(Embriagada sede de loucura vã.)
Se te dou ouvidos e olhos e bocas
é porque me faltam as palavras
que enchem esses espaços vazios.
Cadarços abertos nos sapatos
esquecidos na soleira da porta
que deixamos de abrir.
Jaz ali o desejo imediato
e a sensação inusitada
do belo
do ralo
do sempiterno
assovio...
(Escuta o vento
vislumbra a fada.
Solidão é algema que mata
nas minhas mãos
o teu suor.
A veia que verte de TI...)
16.12.2008 - 04h07min

Movimento

Pareço parada.
O movimento me é;
estanco o palanque
que afronta meus brios.
O destino afoga o afago
que esperava por mim.
Não tenho sossego
embora pareça sempre a mesma...
16.12.2008 - 01h15min

Aflição

Esperei, de novo... Logo eu, que detesto a espera, que guardo o desejo secreto de ter todas as estações ao mesmo tempo só pra não ter que esperar pelas flores primaveris ou pelo orvalho frio das madrugadas de inverno ou pelo calor do sol forte de um verão escaldante ou pelas folhas secas dos plátanos cobrindo meus caminhos. Logo eu, que detesto a espera, sento aqui, debaixo dessas estrelas de mil cores e espero. Sina sem badalos. Espero... E nada... 16.12.2008 - 03h09min

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Charme/Ternura/Sensualidade

CHARME
Leque
guarda-chuva aberto
em dia de sol forte
copo d'água gelada
rasteirinha
cabelo dele, cortado rente
banho de chuva
piercing no dente
abraço apertado;
semente...
TERNURA
Mãos dadas
olhos nos olhos
cumplicidade
sorriso
companhia
copo compartilhado
história cumprida
abraço demorado;
semente...
SENSUALIDADE
Pele dele, nua
corpo suado
língua no lábio
vestido branco molhado
decote profundo
roupa no armário
cama desfeita
vapor de chuveiro
- espelho -
abraço explorado;
semente....
11.12.2008 - 17h01min

Pecado

Depois do amor, ir ocupar-se, imediatamente, de outros afazeres.... 11.12.2008 - 16h43min

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Aniversário

Espelho talhado na pedra do tempo
vinte anos em um
quarenta e três pedras preciosas
cravadas em miúdas batalhas de horas...
...e esse teu costume
de enfeitar-me o dia
co'as pontas dos dedos
pintadas de prata e calor.
09.12.2008 - 16h25min
(Felizes nós, neste aniversário conTIgo)

domingo, 7 de dezembro de 2008

Para TI

*Obrigada por manteres o meu jarro cheio...
Exerço o direito de permanecer falante
digo e repito, pra quem quiser ouvir
e pra quem não quiser
e pra quem não entender
e pra quem não se importar
que minha vida,
que meus olhos,
que meus pensamentos,
que meus minutos todos,
que todas as contradições,
que todas as celebrações,
que todas as impertinências,
que todas as indolências,
que todas as menções
e todas as alegrias
e todas as lágrimas
e todas as festas
as canções
as loucuras
as decências
e as in
e todos os abraços
e todos os jogos
e todos os desejos
e todos os encantos,
são teus
são pra TI.
07.12.2008 - 12h03min
(...e tu sabes que é assim...)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Impressões

Colho um verão úmido
entre as folhas trêmulas
de um passado qualquer.
Cheiros
são visões rei(n)ventadas
com direito a euforia
e jogos de artifício em cristais.
Os passos empastam a estrada
afundam as trilhas deveras
alimentam um sentido maior.
(Desencontro de mensagens
com hora marcada pra viver.)
Transcorrem salgadas as lutas
as grutas engaroadas
nos vales que me antecedem
que me dormitam
que me anunciam sem dúvida alguma:
você...
27.11.2008 - 17h53min

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Intensidade

Intensidade. Garra que fere fundo que sorve o sopro que suga a alma. IntensIDADE. Fogo, afoga o assunto água, consome a sanidade. Intensidade. Salto alto em manhã de primavera entrega inteira em madrugada de verão luz de vela em pleno sol de meio dia lamparina lampião... INTENSidade.... 24.11.2008 - 17h

Despedida

Sempre a mesma tecla sempre a mesma corda produzem sempre a mesma nota: não tenha nunca DÓ de MIm. Sou chama e cinza hoje logo adiante siso e tempestade. Ai que os risos são longos e os dias normais. Ai que o perto é distante e os sonhos reais. Ai que a clareira me expõe mas a hora é assim. Muitas vidas tenho cá não tenha nunca DÓ de MIm... 24.11.2008 - outro dia...

Constatação

sábado, 22 de novembro de 2008

Um presente

Viaja

Tantas terras por vir
tanto mar
tantas águas sem fim
e a tua estrada aqui.
Tanto sonho por vir
tanto mel
tantas ruas sem fim
e o teu abraço aqui.
Nosso céu
construir...
Nosso sol
ver sorrir....
21.11.2008 - madrugada
(Uma canção)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mistério

É verde a timidez nos sérios olhos que me fitam de além-mar. Nos fios lisos dos cabelos escuros escuto a canção que escorreu do teu peito e veio cá, pousar em mim. Doce presente de luar amanhecido nos acordes das estrelas que te espreitam enternecidas. São breves as horas contigo voam os ponteiros voam as esperas voam as imagens que não previ. A catarse aguarda as núpcias e as melodias de voz misturam desejos. Não temo. Sou asa voando pra ti. 21.11.2008 - 17h (Portugal)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Karma

Partituras e cifras Si bemóis a escorrer. Si, sem o Dó maior que não arreda pé de ser Sol. Calor a se espalhar na harmonia da canção distante de distinto DNA. Sintonia Kármica... Vocação. Para AKAI, nesta madrugada do dia 16.11.2008 - 04h30min

Futuro

Quando eu crescer quero ser verbo partitura traço de nu. Quero ser sopro suave fragrância mapa ao avesso na nuca, arrepio. Da teia da aranha, o fio crista de galo, fino assovio galho enfeitado de pinheiro de Natal extrato de erva medicinal brisa de mar perfumada uma pitada de sal. Quando eu crescer quero ser página de livro rasgada coleção de enciclopédia velha tentáculo de polvo furioso mordida de maçã. Quero ser azul-anil a boca do funil a luz no fim do túnel raio de sol enluarado riso alto de criança réstia de calor na calçada quadro louco de Dali. Quero ser feitiço folha de árvore frondosa balançando os cabelos ao vento beijo molhado de namorado gato preto no telhado um curto pavio um surto na sala de espera da vida. Quando eu crescer quero da canção ser o cio... 18.11.2008 - 15h27min

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Amorais

Entrelaçadas teias laços virtuais trançados em fios de uma realidade absurda. Sinuosas combinações morais. Amorais são as velas que circundam os caminhos talhados de verbos e vírgulas no espaço comum. Ah! Essas nossas pretensas morais nossos ais amores a mais nossas febres e fomes nossos amores nossos ais. Ah... morais... Nossos amores reais? 17.11.08 - 10h

sábado, 15 de novembro de 2008

Alegria

Minh'alma tem sede
de pisar alegria
ritual diário
ao qual me atenho
com indisfarçável prazer.
Construo meus vínculos.
Costuro de flores os laços
que abraçam essa tua vinda.
Meus vasos são rios...
Minhas águas, perfumes...
Meus amores, ventania...
15.11.2008 - 15h15min

Pontos de vista

Arte é lixo para alguns.
Lixo é arte para outros.
15.11.2008 - 13h48min

Extremos

Trago no riso um rasgo de lágrima. No dia, madrugada gelada. Na noite, uma réstia de sol. Trago no gosto do suor um toque de doce magia. No auge do prazer uma ponta de agonia. Em pleno Oceano a luz de um farol. "Trago em mim todos os sonhos do mundo"* e estou vazia... 15.11.08 - 13h15min *Verso de Álvaro de Campos

Razões

O que me prende também é o que me perde: emoção... 15.11.2008 - 13h39min

Segunda vida

Quantas vidas ainda terei? Se gata, teria sete mas, de gata, já passei... 15.11.2008 - 13h20min
(Foto: Eu, no Second Life - Poesy Rhiadra)

Amar é...

A maré assovia a canção: amar é assolar a partida Ah! O mar respira um adeus talvez um cumprimento distante perdido num Oceano de persistentes ilusões. Ir ao mar diminuir distâncias destrancar a dor. Amizade e paixão num só aperto; se perto é longe se o pouco é medo se a tarde é fruta se a lua, tormento, então desminto o eco e sufoco a perda. Amar é ir perder-se na imensidão do fluxo salgado in-ter-mi-ten-te. Amar é es va IR se. Amar é ir... 15.11.08. - 12h50min (Para AKAI PARX)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Saliva

Escolho a gota
que pinga de ti
pra misturar a mim
feito saliva exposta.
Te(n)são...
04.11.2008 - 04h46min

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Tricotar

Com minhas próprias mãos
tricoto meus caminhos.
Às vezes encontro pontos
frouxos
outras vezes encontro pontos
com nós
preferiria encontrar conosco...
03.11.08 - 03h45min

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Condição

Se danças, inda que só,
danças.
E teu corpo é só energia.
Se cantas, inda que mudo,
cantas.
E tua canção é pura magia.
Se amas, inda que em sonho,
amas.
E teu peito é
só...
30.10.2008 - 18h22min

Quietude

Compenso tua ausência buscando teu rosto na minha própria voz. Excluo qualquer suposto que me impeça as vírgulas, necessárias esperas, té que teu riso me alcance. Sopro as espumas das letras que lacrimejam tua verdade. Brindo, enfim, à certeza de tua presença, inda que distante de mim. Saudade.... 30.10.2008 - 18h15min

Olhar

Eu não tenho olhos azuis.
Eu não tenho olhos castanhos.
Eu não tenho olhos de cor alguma
que se perceba à claridade
de um olhar qualquer.
Eu não tenho sonhos azuis.
Eu não tenho sonhos castanhos.
Eu não tenho sonhos de cor alguma
que se perceba à claridade
de um olhar qualquer.
Eu não tenho caminhos azuis
muito menos caminhos de rosas brancas
ou de espinhos, sequer, eu tenho.
Eu não tenho caminhos.
O que me há
é um tal gemido constante
que pinta meus olhos
de cores berrantes,
nem um pouco sutis.
O que me tem
é um estado de alerta distante
um tremor de dentro
um desejo ardente, persistente,
de imperiosa meretriz.
O que me leva
é a força de um tudo
dissolvido nas partículas
de minha particular esfera.
Eu não tenho um olhar.
Eu SOU.
30.10.2008 - 18h05min

Lembrança

Das janelas fechadas do velho casarão de minhas pretensas memórias curtas desprende-se o salgado gosto da pele que eu não lambi... 30.10.2008 - 17h53min

Peso

O vento não beija cortinas de crochê... 30.10.2008 - 17h51min

Relance

Escorre a luz
entre as frestas
das janelas desses teus olhos
que resgatam
as fronteiras dos meus.
Nenhum Império
comporta teus braços
nenhuma sombra
cobre-te os passos.
És asa e tatuagem no vento;
és presa da liberdade
breve delírio viajante.
Passagem....
30.10.2008 - 17h48min

terça-feira, 28 de outubro de 2008

... e a vida segue...

28.10.2008 - 03h23min

In Memorian

A vida?
Eu seria redundante se dissesse que ela é breve.
Eu seria infantil se dissesse que é longa.
Eu seria cega se dissesse que é perfeita.
E, finalmente,
eu seria hipócrita se dissesse que não vale a pena.
A vida?
Vale todas as penas
de todos os seres.
Essa vida mesma, que dura sempre a medida exata
da nossa falta de medida.
Essa vida mesma, que brilha no brilho dos olhos
ainda que cerrados pelo sono dos justos, dos injustos,
dos vivos.
Essa vida mesma, que acompanha-nos os sonhos,
ainda que eles se transformem em pesadelos.
A vida?
Vale cada segundo,
mesmo o mais doído,
mesmo o mais doido,
mesmo o mais torto,
mesmo o mais sofrido.
Não importa.
A vida vale.
E o peso da vida haverá de ser peso de ouro.
A vida,
no vale da vida.
A vida,
no vale da sombra da morte.
A vida
vencendo, nem que seja a saudade.
28.10.2008 - 03h03min
Para Silvia, amiga querida, sepultada no dia de ontem.
A vida que havia em ti, permanecerá.
Saudade...

Eu sou

Sou de tudo um pouco
tenho uma alma louca
e aflito coração.
Sou procura, espera
e intenção.
Sou quimera,
aprendiz de vida
alegria e cansaço.
Sou santa e guerreira,
nas horas vagas, rameira;
nas horas inteiras, solidão.
Sou o teu NÃO.
SIM?
28.10.2008- 02h30min

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Teus olhos

Tu tens uns olhos tristes,
desses que vêem tudo
e que alcançam tudo.
Por isso mesmo, tristes.
Tu tens uns olhos fundos.
Desses que alcançam tudo
e vêem tudo.
Por isso mesmo, tristes.
Tu tens uns olhos firmes.
Desses que entendem tudo,
desses que alcançam tudo
e vêem tudo.
Por isso mesmo, tristes.
Tu tens uns olhos fixos.
Por isso mesmo fundos,
por isso mesmo firmes,
por isso mesmo tristes.
Tu tens os olhos que eu amo.
22.10.2008 - 23h35min
Para Adrebal, meu amigo querido,
que eu amo de paixão.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Da violência

A violência? A violência é maldita. Melhor é a malemolência, que não faz mal a ninguém, apesar de começar com 'mal'. A violência suga a alma, rasga a carne, provoca chuvas de água salgada no peito das gentes. A violência é maldita e malditos os seus dissidentes. Torno-me, eu mesma, violenta, contra a violência, tamanho é o poder dessa infeliz. Varre a decência, escurraça a decência, cospe na decência, ela, a violência. Toma conta de tudo à sua volta e não pergunta se é bem-vinda, por se saber sempre indesejada. Mas toma conta de tudo, mesmo assim, a maldita. E nessa conta, toma as vidas de quem amamos, toma os sonhos de quem amamos, toma os amores, toma até as dores, toma os créditos, toma os desejos e toma a alma, de quem amamos. Ceifa vidas feito campo aberto. Ninguém a segura. Ela, a maldita; ela, a violência. E apesar de acreditarmos que amar é que vale a pena, violentamente desejamos que os violentos se danem. Eu desejo. Talvez uma parte dessa violência que tanto maldigo esteja arraigada em mim, também. Maldita violência!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 21.10.2008 - 02h40min

sábado, 11 de outubro de 2008

Cultura

Cultura alimenta
o espírito
a mente
o corpo
a alma
a semente
do qu'inda nem nasceu.
Cultura dá brilho
dá compasso
dá certidão de nascimento
pra alegria
que dormia
no quarto ao lado.
Cultura dá poesia
e dá o que não vende
e vende o que desvenda
e empresta o que desprende
do corpo
do olho
do pão de centeio
que o corvo não comeu.
Cultura não é ópio
não é disfarce
não é desfalque
não é distorção.
Cultura é o culto
ao que surge do povo
que brota da veia
que vela pela veracidade
do que anda escondido
por detrás das cortinas
das individuais solidões.
Cultura é o cara que declama
o poema do poeta eterno.
Cultura é o índio que dança
e divulga o som da sua tribo.
Cultura é a peça em cartaz
há anos e anos e anos
e é sempre nova,
e é sempre honesta.
Cultura é o que a gente espelha
é o que a gente espera
é o que a gente É.
A cultura anda nas ruas
sai de casa e vai ver...
11.10.2008 - 23h12min

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Quando a atração é só física

A gente pode morrer de atração por alguém aí se chega perto, se olha nos olhos, se conversa e o inesperado pode acontecer: a atração por esse alguém pode morrer na gente... 09.10.2008 - 20h41min

Troca

Eu sei que parece injusto,
mas tudo o que eu queria
era que fosses TI
no lugar dele...
09.10.2008 - 20h39min

O jogo, o mesmo

Um passo.
Uma hora.
Um começo.
Um interesse.
Um sentido.
Uma descoberta.
Uma percepção.
Uma alegria.
Outro passo.
Outra hora.
Outro começo.
Outro interesse.
Outro sentido.
A mesma descoberta.
A mesma percepção.
A mesma alegria.
Outra descoberta.
Outra percepção.
Outra alegria.
A exatidão do que vejo.
A visão do exato.
A vida, a mesma.
A visão, a mesma.
A alegria, a mesma.
O jogo, o mesmo.
As cartas na mesa.
E eu disse NÃO.
A alegria, a mesma.
A alegoria, a mesma.
A vida, a mesma.
09.10.2008 - 0h22min

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

The best real life

Existe.
E, um dia,
passas por 'ele',
olhas,
constatas O fato,
és correspondida
e segues teu caminho.
No entanto,
no instante seguinte,
'ele' está do teu lado.
Mais uma alucinação?
Mas 'ele' está falando contigo.
De verdade.
E é real...
The first life! Então te dás conta
de que a realidade
é muito mais excitante
que a fantasia.
Ele sorri,
te elogia,
tenta ser gentil.
Tu sabes que faz parte do jogo.
Tu sabes o que ele quer.
Tu sabes o que também queres.
E sabes jogar muito bem.
E esta é a vida real...
The best real life...
08.10.2008 - 03h13min
(Porque é bom olhar para o lado
e saber que a vida pulsa, apesar de tudo,
e não apenas ao teu redor,
mas também dentro de ti...
e é muito bom redescobrir
o melhor da vida real...)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Tranca

Um passo depois do outro uma arrastada pegada na terra molhada de lágrimas e ventos significantes. Um rastro depois do outro um toco de cigarro amassado no meio de um caminho que jamais percorri da fumaça que jamais traguei do delírio de onde jamais saí. Um posto rente ao chão o pasto gasto de tantos círculos desenhados pelo andar da carruagem que, longe de ser de princesa, é de sombria indignação. Um dia depois do outro uma noite depois da outra um tijolo sobre o outro e eis edificada a cura. Basta que a porta se abra basta que a mão se estenda basta que se encontre a chave. A chave a chave a chave a chave a chave a chave... A chave ainda agüenta... Aos dois segundos do dia 07.10.2008

Voltando... devagar... bem devagar...

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (Gregório de Matos)
É como acordar de um longo sono. Não um sono restaurador, daqueles que te renovam as forças, que te fazem respirar diferente, que te trazem fôlego para o dia que te aguarda depois da madrugada. Não. É como acordar de um sono agitado, desses que te fazem acordar cansado, suado, exausto, louco de vontade de dormir de novo.
Mas desperto.
A despeito da inconstância deste Sol que não dura.
A despeito da pouca firmeza dos dias que ignoro.
A despeito da baixa destreza de minhas mãos trêmulas.
Desperto.
E tenho minha vida inteira pela frente.
E temo minha vida inteira pela frente.
E tremo minha vida inteira pela frente.
Desperto.
Se a beleza se desfigura, se são tênues as conquistas,
se os passos que dou são trôpegos
e me fazem hesitar entre as ruínas do que de mim sobrou
depois do terremoto,
desperto.
E despertar é uma escolha.
Escolhemos o tempo inteiro, inclusive a doença.
Escolho despertar.
Por mais que a alegria seja ilusória
por mais que a tristeza seja palpável
por mais que a vontade seja de morte
por mais que a verdade seja de sorte,
desperto.
Escolha feita.
Volta sacramentada.
Assim,
devagar,
lenta,
imprecisa quase.
Mas escolhida.
Desperto.
06.10.2008 - 20h51min

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Aviso aos navegantes

Queridos leitores, eu sei que estou em falta com vocês. Garanto que essa ausência 'obrigatoriamente voluntária' não se estenderá, ainda, por muito tempo.
Estou tentando me adaptar a novas situações. Bem, digamos que não sejam assim tão novas, apenas que agora é que se desvendam e também explicam muitas coisas nessa minha complexa vida real.
Não tenho conseguido, por 'N' razões, escrever, e não sei de quanto tempo ainda precisarei, mas, como já afirmei acima, espero que, em breve, minha produção se normalize.
Até lá, alimento minh'alma com os escritos dos que me são queridos, no Recanto das Letras: MSanttos, Jorge Fernandes, Glauco César II, Gianluca Garbatti, Ibrahim Zukr.
Até lá, alimento meu espírito com os escritos dos eternos: Quintana, Clarice Lispector, Borges, Drummond...
Perdoem, então, esse meu silêncio. Encarem como um curativo sobre uma ferida que está sendo tratada, e vai melhorar... quando isso acontecer, voltarei.
Obrigada por apreciarem, durante todo esse tempo, meus versos, contos, crônicas, minicontos, e até minhas bobagenzinhas...rs...
Obrigada.
Beijos e até a volta.

domingo, 14 de setembro de 2008

Do homem, do mundo e do amor*

Asas de seda em homens-dragões
que cospem fogo e perguntas,
sempre as mesmas.
Asas de seda derretendo
ante o calor do fogo ininterrupto.
Homem-dragão, acabando consigo mesmo
no desespero da busca
pelas mesmas respostas,
que estão a um palmo do seu nariz,
mas que ele não vê,
entretido que está
com a própria guerra.
As respostas?
Estão nas perguntas.
Estão nas perguntas,
derretidas entre as asas de seda
dos dragões que se pensam
INVENCÍVEIS,
mas que rumam à própria extinção.
Falta de amor...
12.09.2008 - 13h15min
*Comentário para o poema
DO HOMEM, DO MUNDO E DO AMOR,
do incrível Jorge Fernandes

sábado, 13 de setembro de 2008

Mãos II

Escondo o rosto entre as mãos
Entre as mãos tricoto o destino
Comprometo o dia entre as mãos
Entre as mãos prometo um novo dia
Escrevo a linha da vida entre as mãos
Entre as mãos transcrevo a linha fantasma da vida
Medito de mãos postas
Ponho as mãos para trás
e meço a distância
entre mim e
essa minha
enorme
ignorância
.
.
.
13.09.2008 - 02h47min

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Rotina

Cravo as unhas na paredes da rotina. Ranhuras diárias rugas que contam a história do que poderia ter sido e, por isso mesmo, foi. Previsíveis rusgas estorvos estouvos extorções de uma energia já parca. Parto, para partilhar de graça o que jamais tive. Participo do ritual do leite da carne, do sangue, do vinho, da sede das multidões omissas. Omito que sou uma delas. Só uma delas, minto. Uma. Delas. E nada mais. 11.09.2008 - 16h36min

Desalinho

Desiludo a energia; concentro a nudez diante do véu vazio. Escrevo pra entender mas também pra mostrar que não entendo. Desenho pra pretender encontrar o traço que perdi n'algum lugar desse trajeto que desconheço. Escancaro as portas e janelas e pesco palavras em outros idiomas na busca d'alguma tênue ligação com o resto da humanidade. Desiludo a concentração que já desistiu de mim faz tempo. A saudade não me dói mais. Anestesio meus passos a r t i f i c i a l m e n t e... Decido dormir mais cedo decido fazer mais coisas decido roer meus dedos decido rompantes outros pra depois decidir desistir de todos eles. As pessoas se perdem nas ondas de um mar d'águas dessalgadas; nem doces nem pequeninas, muito menos acesas por ventarolas agitadas. As pessoas se perdem na marola. Desiludo a folha seca que esvoaça ao vento feito pena feito feno feito flor em movimento devasso. Desiludido de tudo. Desencontrado de nada. De-se-qui-li-bra-do. Quem, eu? 11.09.2008 - 01h08min

Mãos

As mãos espalmadas sobre a bancada de vidro esperam. Espreitam os exercícios que chamam de lamentos e desencontros chamuscados por invisíveis labaredas de ilusórias canções. Estreitas são as estradas por onde trafegamos nós, voluntários aprendizes de nada. As mãos espalmadas sobre a bancada de vidro esparramam os líquidos os sentidos das viagens não feitas. As mãos espalmadas sobre a bancada de vidro espalham pedidos de cidra de contato disfarçado de verdade e cordel. As mãos espalmadas sobre a bancada de vidro não passam de senões... Aos 45min do dia 11.09.2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Ostra

. Sou Ostra. É o que te bastará saber. No mais, escreve e sonha; que os dragões dormitam longe vomitam incoerências ardentes e sanguinolências indecentes. Sou Ostra. E que o orvalho da madrugada te entregue um verso soprado por um deus qualquer daqueles que não se importam com nomes daqueles que não têm rosto ou história conhecida mas que te sabem ver. Sou Ostra. É o que te bastará viver. No mais, mergulha e sonha; que as balbúrdias pedem passagem que as horas urgem sedentas que as entregas atrasam deveras e os mortais não ousam morrer. Sou Ostra. Ladeio meus versos com pérolas. Sou eu tua pérola, Ostra, santa E meretriz. E que te bastem tuas próprias gárgulas... O S T R A! E que te bastem teus próprios demônios... 10.09.2008 - 01h03min

Passado/Presente

Ontem esgotei todas as possibilidades de dizer. Ontem esvaí meus líquidos meus perfumes d'alma meus mais sinceros votos de boa vizinhança com o verso. Ontem dei vida da minha vida pra linha que tracei aqui. Ontem pendurei a roupa limpa no varal de roupa recém lavada na pureza do que de mais leve encontrei em mim. Ontem abandonei-me aos meus próprios dedos permiti que dançassem sozinhos no teclado que sempre me ofertou poesia. Ontem derramei desventuras sorri voluntariamente e voluntariamente verti meu sangue diluído em rimas emprestadas das estrelas que não cheguei a ver. Ontem madruguei. Madruguei por não dormir. Ontem. Hoje ferve-me um novo suor. Hoje estou recém-nascida. Hoje converto a voz em clave de sol. Hoje circundo a planilha da noite e não encontro nenhum outro motivo pra tornar a acontecer. Hoje renovo a escolha da castidade para terceiros porque pra mim ela não serve. Hoje recolho meus trapos meus brincos meus rascunhos todos mas, principalmente, meus espelhos. Hoje é o teu grito que eu quero ouvir... Aos 40 minutos do dia 10.09.2008

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Descanso

Existe?
09.09.2008 - 04h53min

Orgasmo

Poetar e fazer amor são pares...
09.09.2008 - 04h35min

No sétimo verso, descansar...

A exaustão me toma
devora-me as forças
grita-me dores
suga-me os nervos.
Exausta,
no ato da criação.
Depois de seis versos,
pelo certo,
mereceria um sétimo
de descanso.
Mas a arte não pede licença. O poema exige completude.
Em suas mãos entrego meu silêncio...
09.09.2008 - 04h24min

Dores

Que me importa se me roubam os versos? Pois que meu coração já não mora em meu peito fugido de mim faz tempo. Desertou-me. Esses verbos que engasgo na folha suja de sangue são os restos das veias ovais palpitantes ainda do tanto de vida, que te ofereço. Bebe meu cântico desafinado nessa noite fria de um inverno que se recusa a partir. Também meus olhos desistem de dormir. Não querem sonhar com os teus. Não querem chorar na escuridão. As lágrimas ficam coloridas na claridade de um dia de sol. Viram poesia e dóem menos. Pretextos pra não morrer. Ilusão... 09.09.2008- 04h11min

Parturiente

Trago tantos versos em mim
que sinto vertigens e enjôos.
Uma quase gravidez me cerca.
Se acerca de mim o parto prematuro
do filho legítimo: poema único.
Não há tradução que o defina.
Nenhuma língua o garante.
Nem a original, em que foi escrito.
Talvez, de longe, sem certeza alguma,
a língua dos anjos, suficiente.
Talvez, não afirmo.
Porque o poema tem alma
um coração que pulsa
e um sangue que escorre
goela abaixo de quem o lê.
Lê?
Não.
Poemas não são nascidos
para leitores.
Poemas são paridos
para amantes.
Declama!
09.09.2008 - 03h55min

Trabalho

Uma noite inteira escrevendo? Ora! Não sou eu quem escreve. São minhas mãos que escorregam pelo teclado e vão juntando letras na labuta que corta a madrugada na disputa por um espaço nessa minha vida que eu não sei quanto dura... 09.09.2008 - 03h48min

Mapa Mundi

Alguém do outro lado do mundo
embora não me conheça
sabe que eu existo.
Mas quem disse que eu,
no mesmo lado do mundo
em que existo
me conheço?
Poesia tem disso.
Ou talvez seja a Internet.
Descobre a alma
esconde a gente.
Descobre a gente.
Esconde tudo.
E fica o dito pelo não-dito.
De passageiros.
De subterfúgios.
De novos roteiros.
Vôos diários.
Mapa mundi.
Poesia.
Virtual?
09.09.2008 - 03h44min

Paz?

A paz é coerente demais pra virar verso...
09.09.2008 - 03h26min

Miragem

Desenho a silhueta que vejo no espelho confronto meu rosto com o dela e sei que não sou quem mora em mim mas pareço muito comigo mesma e engano os mais renomados artistas. A farsa diária se repete ininterruptamente; matutina construção do personagem que eu desconheço por completo. Não quero rimar com flores ou amores ou palavras leves, suaves, femininas. A mulher é aguda e grave concentra a força e a magia dos mistérios que deslizam lágrimas abaixo, saliva protegida de silêncios. A mulher está vazia. 09.09.2008 - 03h21min

Escravidão

Escrava das linhas que escrevo
deixo-me conduzir pelo vocábulo
que soa suave nesse setembro
de madrigal madrugada.
Sou o que eu quiser ser aqui.
Sou anjo ou sagitário,
esperma fecundante,
flor pisada no asfalto,
insuportável inseto esvoaçante.
Sou literata, culta, séria.
Seria inclusive sereia
se assim desejasse.
Mas sou apenas eu mesma,
escrava dessas linhas que escrevo...
09.09.2008 - 03h

'Perambulâncias'*

Atravesso a madrugada
como quem dobra uma esquina.
Assumo forma nenhuma
quando finalmente me perco de sono.
Viajo sem nunca ter ido.
Ando sem saber porquê.
Não faço perguntas.
Detesto as respostas
sempre exatamente iguais.
O surpreendente é meu destino
e eu não sei onde ele mora
e eu não sei onde ele vive
e eu não sei se ele existe.
Enquanto isso desalinho
um horizonte certinho.
Enquanto isso todos os gatos
são pardos, são pretos,
são os gatos errados.
Enquanto isso o olfato
me engana
e eu penso ter descoberto
a América
ou a Europa
Oceania
qualquer coisa diferente
que me defina melhor
a visão do que me foge.
Enquanto isso o medo
atinge seu auge.
Enquanto isso a solidão
Ah...
a solidão...
09.09.2008 - 02h50min
*Licença poética auto-concedida

Estou

A foice me fia.
Enfraqueço.
Soluço sozinha.
Amordaço.
A faca força o açoite.
Contagio.
Respondo ao ritual da noite.
Neutralizo.
Assumo significado e significante.
Desisto.
Resisto.
Insisto.
Invisto.
Persisto.
Existo.
Sou isto.
ESTOU.
09.09.2008 - 02h30min

!!!

Por ermos caminhos
amo...
09.09.2008 - 02h19min

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sombras de mim

Assombro as formas
sobro na luz
um sopro me guia
meu rastro rasteja na areia;
escureço...
08.09.2008 - 23h54min

Psico - A Poesia

Há que se exercer controle
sobre si mesmo
sobre as circunstâncias
sobre a insensatez
sobre a sisudez
ainda que os ritos
matematicamente impostos
não passem de rituais
castrantes das possibilidades
que se valem das manhãs ensolaradas
de um abril que nunca vem.
Há que se exercer controle
sobre as manias
que atropelam as calmas
e impõem seus próprios
alucinantes ritmos
que jamais se detêm.
Há que se exercer controle
sobre as horas malditas
que escorrem dos relógios de pulso
expostos nas vitrines
dos impulsos protegidos por alarmes
guardados dos desejos dos olhos
nos bolsos vazios de moedas furadas.
Há que se exercer controle
dos ventos dois de agosto
dos perfumes primaveris de setembro
das espalhafatosas infâncias de outubro
das presenças infames
do resto do ano invisível e infeliz.
Há que se engolir desgostos
desgastar as preces
invalidar vertigens
proteger o peito
dos entulhos desvairados
que sobre ele esvaziam
os atlas, mapas diariamente mundi.
Mundanos espaços
de estoques controlados.
Há que se controlar as loucuras
indecências
incêndios
impertinências
impotências
inaceitáveis verbos hostís
incalculáveis doçuras.
Doçuras?
Sim, há que se controlar as doçuras
e os afetos
e os infectos
e os desertos.
Há que se cultivar incertos.
Há que se distribuir desperdícios.
Há que se mesclar orações
religiões
recomeços.
Há que se exercer controle
sobre si mesmo.
Caso contrário...
08.09.2008 - 12h15min

'Seni Seviyorum'

Aos 40 minutos do dia 08.09.2008
*Da série: Mulheres sem rosto

domingo, 7 de setembro de 2008

Sem a letra

A letra desapareceu
perdida nas tralhas da vida
escorregada nos limos
das discordâncias várias
a letra sumiu
ninguém sabe
ninguém viu.
Inconformados os poetas
os literatos
os críticos
os incrédulos
não rimam
com diários
nem com nada
mais.
Nada que combine
a sílaba no espaço.
Nada que culmine
em beleza.
Nenhum ritmo
suficiente.
Nenhum laço.
Nenhum lapso.
Nenhum impertinente
pensamento.
Nenhuma orientação.
Não há Norte.
Não há morte.
Não há confusão.
Tudo na mais perfeita paz.
Harmonia artificial
sem a letra.
Sem a canção da voz.
Não há motivo
nem solução.
Hoje o sol não nasceu.
Hoje não se estendeu a mão.
Hoje falta o sentido
o significado
a razão.
A letra não apareceu.
Não houve chance de pedir perdão...
07.09.2008 - 23h58min

A esmo...

A esmo, esmoreço.
Estremeço
na estreita estrada.
Escadaria.
Ensurdeço na espera
insalubre.
Amanheço
sem querer.
Sem querer
me nutro
de ausências.
Escuto.
Nenhum ser
absoluto.
Necessidade
absurda.
Absorvo
o luto.
Entardeço.
Sou crepúsculo.
Esmoreço...
07.09.2008 - 23h40min

Banho de chuva

07.09.2008 - 17h
*Da série: Mulheres sem rosto

Mar

Ah, eu queria escrever-te um poema. Descrever tuas ondas que derrubam minhas resistências. Todas as minhas reticências. Eu queria escrever-te uma canção, que cantasse teus encantos enfeitiçasse qual canto de sereia, na alma de quem ouvisse: invasão. Mas a inversão de valores te trouxe pra praia, fez de ti um homem grande, forte, viril, sedento de mim sedento de ti mesmo e desses teus versos que acompanham o vir e ir das tuas ondas. Essas ondas que derrubam minhas resistências. Essas tuas ondas que desembarcam e desesperam meus obstáculos. Os obstáculos que insisto em erguer pra impedir teu avanço. Essas ondas que apagam minhas interrogações e molham minhas pernas bambas. Essas tuas ondas que acentuam minha dança quando explodem na praia, ensurdecedor marulho. Ensandecido murmúrio aos meus ouvidos sonolentos no início da manhã-surpresa em que me despertas marejando-me os olhos marcados pelas tuas íris castanhas. Meu Mar particular. Eu, tua areia úmida. Queria escrever-te um poema. Não consegui. Porque só sei te aMAR. Aos 45 minutos do dia 07.09.2008

Tom

Eu quero o tom
o tom da lua
o teor da luz neon.
Eu quero o tom
da voz. Da voz madura
que se profere nas ruas
e prefere a circunstância
à cicatriz.
Eu quero o tom de azul
na minha lente
na minha camisa
na minha estante
de livros virtuais
que inda não li.
Eu quero o tom da tua
língua diferente da minha
a me dizer o que não sei
o que não aprendi.
Eu quero o tom da descoberta
do incerto, do impreciso, do indiscreto.
Eu quero o tom do que escolhi
entre tantas escolhas mal feitas
fadadas ao fracasso total,
eu quero o tom das que temi
porque tinham chance
de vingar, afinal.
Eu quero o tom da linha
de costura da minha mãe.
Eu quero o tom do saxofone
que ouvi distante,
na Praia Vermelha,
há anos atrás.
Eu quero o tom que não tive
o tom que ainda terei
o tom do dom lilás
do sorriso
que
te
dei...
07.09.2008 - 0h16min

sábado, 6 de setembro de 2008

Medidas

Qual é a medida certa?
De tudo?
Se deixo de dizer, perco.
Se digo, esqueço.
Se exponho, experimento.
Se imponho, implemento.
Qual é a medida exata
do riso que te ofereço?
Qual é a medida exata
do interesse que te ofereço?
Qual é a medida exata
do poema que te ofereço?
Com quantos versos
se abre uma porta?
Com quantas imagens
se sonha uma sorte?
Com quantas esperas
se alcança o começo?
...
06.09.2008 - 18h

A Hora

Não acredito em coincidências. Acredito na hora certa pra acontecer... Seja lá o que for. 05.09.2008 - madrugada

Gotas de chuva*

Sozinhos, os pingos são homens que passeiam à procura de tempestades, nas mãos das mulheres que deixaram de amar. Tormentas. Sem raios, sem ventos, sem dós nem piedades. Perdões extrapolam as letras e sopram obscenidades sobre as cortinas molhadas de grossos pingos azuis; quedas impossíveis de impedir. Chuvas são lágrimas pelo que não fizeram. Chuvas são gotas dos que gostaram, dos que tiveram, dos que amaram. Os pingos deixam de cair, quando encontram os 'is' e sobre eles se postam. Aposto que teu 'i' te aguarda n'algum canto desta noite vazia, sem amores... 06.09.2008 - 15h *Comentário para o poema GOTAS DE CHUVA, do fabuloso Jorge Fernandes

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ainda...

Têm sono esses meus olhos risonhos. Tem risos essa minha boca de sono. Tem sonhos essa minha vida de passos trôpegos pousos de vento... O riso é meu desafio diário que carrego debaixo do braço para as ocasiões premeditadas não por mim, pelas cartas marcadas dispostas sobre uma mesa invisível que eu não aprendi a virar. Ainda. Ando em zigue-zague e apronto a refeição de sempre: poesia. Porque meu trem já descarrila na linha reta que se aproxima; sem passageiros outros, além de mim. A folha seca pelo sol estala debaixo do meu pé. (Ou será o sol que estala o meu pé, sem querer?) Conjectura infantil de quem se recusa a crescer. As unhas se quebram. Alguém quebrou a vidraça da loja. Alguém quebrou o relógio da praça. Alguém não quer que as coisas durem. Dura é a partilha da dor. Parto a laranja ao meio e como as duas metades. Medo é arrependimento antecipado. O concurso ainda não mandou o resultado. O paralelo é só o outro lado da mesma coisa. O sufoco é só mais um jeito de mentir. O poema ainda não calou o monstro. Ainda. (Alguém mora em mim...) 05.09.2008 - 01h28min

Delírio

Há canções nos sons dos passos que passeiam pela escuridão coberta de estrelas apagadas agora. Observa... São trilhões de astros quietos que povoam teu universo. ACORDA! Sacrifica a preguiça do topo da montanha. Exorcisa os demônios das luas nas espadas de Jorges e samurais escondidos debaixo dos abajures da tua sala de estar nua. Estejas nua quando o ponteiro chegar na hora marcada pelo destino. Os astros rastreiam as pegadas dos grandes pensadores que antecederam os anônimos criadores de pseudônimos cruéis. Cospe a centelha de cem lâminas sobre as cortinas de fumaça que despistam as ganas que te arrastam para os caminhos que não pensaste trilhar. Evita o abandono, o desabafo, a partilha. Guarda teus segredos sem pudor algum. Esconde os pensamentos que não juraste diante do santo mumificado que te obrigaram a ter no altar. Abriga teus sonhos em panos quentes. Assume tua luz apagada. Acende a estrela cadente. Ascende pra longe daqui. Recupera. 05.09.2008 - 01h06min

Mas, afinal...

Mas o que é o tempo? Maldição, talvez. Bênção, perdição, qualquer coisa que leve um til sobre um A; qualquer coisa que rime com 'não'? Quem terá as respostas que insistem em ser perguntas e, sobrepostas, são escadas que não levam a lugar nenhum? Mas o que é o vento? Não admito a comodidade do ar em movimento, como se a carícia em meus cabelos não passasse de um capricho da natureza, dos deuses, das minhas fantasias. Mas o que é o que sinto? Exagero de um dia, talvez de um minuto, quiçá de uma vida inteira, mas sempre exagero, sempre superlativa essa cadência cá dentro do peito. Mas o que é o futuro? Mas o que é o presente? Mas o que é a falta? Essa falta que me consome a alma e atormenta a mente? Mas o que é esse excesso? Essa necessidade de explodir em brilhantes cores desiguais? Mas o que é o porém que impede-me o adiante e castra a partida já preparada antes? Mas o que é essa asa quebrada sem gesso sem estrada sem esteio sem mais nada além dela mesma pela metade? Mas o que é a palavra insuficiente caminho por onde enveredo meus desaforos. Por onde desafogo minhas mágoas disfarçadas de versos e poesia leve? Mas o que há de novo, afinal? Mas o que há para se recompor, afinal? Mas o que há dentro do sol, afinal? Mas qual será o final? Mas há final? Finada... Aos 47min do dia 05/09/2008

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Quem eu sou

. Alguém que vive aqui
perto ou longe de ti
com ou sem fuso horário
não importa.
Sou alguém que se importa,
que sente saudade,
que chora à toa,
que ri por bons motivos,
que dorme, às vezes,
mas tem sono o tempo todo.
Sou alguém que ama
mas esperneia
e incendeia as próprias crinas.
Crio meus problemas
e não lembro onde larguei o guia.
Não tenho manual de instruções
nem imponho condições
pra ser quem sou.
Mas sou. Estou. Vou.
Vôo adiante como se a liberdade
me fosse característica.
Mas sou.
Alguém que vive aqui,
sem fuso, sem fiar, sem cruz.
Alguém que vive aqui,
sem horário comum
ou palavras que combinem
entre si. Bobagens.
Brutamontes.
Brutas mentes.
Eu vôo.
Suo.
Sou.
04.09.2008 - 03h20min .

Miss you

My name
Your name
Our dreams
Morpheu listen our voices?
Or
Our voices don't say
Don't speak other words
Across "I miss you, darling"?
(one short poem above all for you, my dear... kisses... and... Iyi geceler)
04.09.2008 - 02h40min
*For Átilla
**O inglês pode até estar ruim,
mas a idéia é tão bonitinha...
quase infantil....rs...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Setembro II

Setembro vem de braço dado com a Primavera...
Vê o pólen cobrindo o manto do dia, pra que a noite ilumine a flor que já desabrocha...
02.09.2008 - 15h20min

Setembro

O diferente me atrai
mas não me prende.
A segurança se atrela
à minha pele. Permanece.Tensa.
É o constane que fica.
A mudança é só um vão
na silenciosa hora inesperada.
Salada gelada de exóticas frutas frescas
em dia de sol escaldantemente desértico.
Devoro o instante que me abre
as possibilidades que eu aposto ter.
É temeroso enfrentar o perigo
e eu não me dou conta dos riscos
que riscam círculos em volta do meu riso.
Brindo à vida com água,
nessa clara manhã,
anúncio de Primavera.
As flores abrem as portas
dos orvalhos mágicos
precioso pólen renovado.
Um diferente, que vem igual,
ou um igual que se apresente diferente?
Setembro.
Outras formas.
Outra vez.
02.09.2008 - 14h08min

Um conto... poeticamente romântico

Introspectar-se.
Contar um romance poético.
Poetizar um conto romântico.
Romancear uma poesia contada.
En-cantar.
02.09.2008 - 13h50min

Mestre*

É oportuna a tua idade. São maníacos os mornos que esperam por ti. Os bons ventos não trazem notícias, trazem apenas movimentos, que a gente transforma no que quiser, no que puder, no que possuir. Os muros dividem lotes. E a lotação vem abarrotada de suores. O suor do teu trabalho é mais forte que a peçonha dos que se enroscam entre as pedras vazias do chão que já pisaste. O sucesso te aguarda logo ali, depois da curva. A mesma curva por onde desapareceram os medos dos que arriscaram. Vai. E cá estou eu, de novo, embriagada com os versos do maestro Segundinho. Saturada da beleza de tuas letras. Ressaca? Não sei se perfeição produz ressaca. Parece que sim. Doem-me as têmporas. Dói-me o peito, como se teus versos fossem chagas a me consumir. Não, isso não é ruim. Não é um destruir. É um corroer. O que todo poema deveria provocar no leitor. O corroer d'algo doente que habita na gente, e que tem que morrer. Poema-remédio. Poema-dor. Doem-me os olhos, que lutam pra não deixar rolar a lágrima que teima em sair deles. Talvez ela também queira fazer parte do poema. Ou roubar-lhe um pouco da força que há nele. Quem pode saber? Eu não sei. Eu não sei de nada, quando quedo aqui, e admiro a obra do maestro/mestre Segundinho. E curvo-me, em reverência, antes de agradecer. 02.08.2008 - 0h40min
*Comentário para ASA DE COBRA e VERSOS AVESSOS
do Grande Glauco César II