I
Sou vassoura velha de piaçava, daquelas que as bruxas usam pra voar.
Só que não sei voar... ainda não aprendi, mas vou inventar...
II
Eu sou um verso em construção, que desandou, e virou dó.
Dó de pena, dó de maior, dó de talvez, quem sabe um dó de doer,
ou ainda e piedosamente, um dó de violino marrom.
Ouve.
Eu sou um dó manco e calejado de crases e frases pela metade.
Um dó cantado.
O avesso de mim.
Eu-verso.
Dó.
Não.
Mim.
III
Eu sou a que não dorme.
A que vela teu sono
no clarão da vela acesa
orvalhada de luz de veia aberta.
A luminescência desse teu sono
que me incendeia
e mais me desperta
a vontade de poetar.
Eu sou a insone
a madrugada muda
a impertinente manhã
que não chega.
Eu sou o impossível descanso
a dor permanente
e insuficiência do alívio.
Eu sou a que perambula
constante sonâmbula
de traços fecundos
e de intrigantes, do rosto, maçãs.
Ah, isso foi só intuito
pro ritmo manter
nada mais além...
Eu sou tudo o que deixei de ser.
Trafico versos amargos
costuro ilusões fáceis
falseio argumentos inúteis.
Eu sou a que degusta estrelas
desgosta dos apelos
e arremeda pesadelos vários.
Sou a que estremece orvalhos
e se deixa vencer.
Eu sou a que não dorme
sou a que desmaia
a que quer desaparecer.
Escritos entre as 19h do dia 11.02.2010 e as 3h30min do dia 12.02.2010