quarta-feira, 28 de maio de 2008

Canção de aniversário*

Cantar a pedra que te ofereço agora não pedra sabão nem pedra canção do tipo que a gente esquece no primeiro acorde ou do tipo com o qual a gente, de cara, concorde. Cantar a pedra da idade que te chega ou que de ti se esvai hoje feito poesia escorrida pelo telhado da vida da tua vida de insistente escritor. Cantar a pedra que, longe de ser doçura, é liberdade e provisão. Providência de verso escancarado que promove reflexão e escárnio. Escarram teus contos um quê de grito. Do teu grito? Do grito do pranto? Do grito do outro? Do grito de todos os que não têm coragem ou vontade de gritar? Cantar a pedra do começo permanente da busca permanente, do constante estudar. Cantar a pedra que te guia que eu não sei que nome tem, que tu não sabes também, mas que ambos conhecemos. Cantar a pedra dos teus anos. E desejar que sempre estejas bem. 28.05.2008 - 04h39min *Para Fabrício, meu amigo querido, no dia do seu aniversário

Vem

Quando ele vem não tenho tempo pra mais nada não estou pra mais ninguém. Desfaço as amarras das convenções liberto os delírios covardes das ilusões, acorrento o medo. E espero. Na capa do livro, apresento o estilo da história que quero viver no momento em que ele vem. Quando ele vem não há deserto ou instrumento que eu não tenha aprendido a tocar. Há liras, sonetos, soluções, há espadas e épicos e histórias bem contadas, quando ele vem... 28.05.2008 - 0h39min

Irônico rugido

Eu tenho o raro dom de domar a fera que há em mim e sou tão especialista que ela nem sabe que existo que ela nunca me diz 'Sim'. Mas a mantenho cá dentro em total silêncio e segura prisão. O que diriam os moços, as mulheres, as crianças, os dementes, os anciãos, se, de uma hora pra outra, assim, de repente, a fera virasse bela e quisesse o mundo de presente? 28.05.2008 - 0h32min