segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Sou o que nada sei

Eu não sei em que verbo
meus versos te descobrem.
Eu nem sei se eles te descobrem!
Se és Aquiles,
não sei se alcanço teus tendões.
Se Eros sou,
as flechas miro nos teus olhos,
pra ganhar o urgente perdão.
Não estudei anatomia
- nem precisaria -
pra (não) saber onde lateja o dia.
Os livros me lêem ao avesso,
justamente quando sou perfume.
Danço entre assuntos
que não ouso apreender.
E me perco no nada
e não sei
e não sou...
Nascerei...
26.01.2009 - 13h49min

Do belo

Minha beleza nunca morou em mim vive nos teus olhos por isso mesmo é tua. 26.01.2009 - 13h02min

Limitações

Tenho um vocabulário limitado pela tonicidade. Não sei se de propósito ou se de puro desgosto, sempre evito a trilha certa prefiro os atalhos. E se a porta não abre, se a roupa no varal não seca, logo imagino um deus morto querendo me mostrar uma nova parafernália. Se a melodia destoa da voz ou se um livro pula a janela, é ela, a bruxa do espelho, que me sorri, avara. Enveredo por supostas alamedas desertas, encanto perdizes, e me perco em paraísos-defeitos. Desperto de um sonho impossível. O sono não me mata. Desculpa. 26.01.2009 -12h50min

A-Partes

Parto do princípio
de que minhas partes
participam de um todo
que independe de mim.
Ou que, dependente,
vira e mexe se rebela
e toma rumo próprio,
alheio à minha vontade.
26.01.2009 - 12h

sábado, 24 de janeiro de 2009

Vôo

Quem voa longe alcança o que quer? Depende da altura do vôo depende da força das asas depende da intenção da distância ou, talvez, só dependa da gente e do tanto querer... 24.01.209 - 11h50min (Aí, Airton, não falei que dava poesia?)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

TI gosto

Eu gosto do tom da tua pele do corte do teu cabelo da tua barba por fazer. Eu gosto da tua postura do teu jeito de andar da tua forma de dizer. Eu gosto do movimento que adivinho do teu peito sob a camisa do suor que te escorre pelo pescoço do osso do teu joelho machucado do teu tornozelo dos bíceps dos tríceps e dos três quadrúpedes que são teus. Eu gosto das mesmas canções e da tua pouca idade avançada. Eu gosto de poder te dizer tudo e de às vezes nem dizer nada. Eu gosto de te ouvir muito e de muito te ouvir, te entranhar. Eu gosto de estranhar nossa diferença se é que ela há. Eu gosto de esperar por TI e de te esperar, sonhar. De tudo o que eu gosto, o que mais eu gosto é de TI gostar. 23.01.2009 - 04h34min
("Eu gosto de como teus olhos
acompanham teu sorriso...")

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Ser

Sou um ponto no mapa
talvez um grão de areia
no prato fundo da sopa
de letrinhas.
Sou bola de sabão
que explode no instante
quase primeiro
em que se formou.
Sou pluma,
espuma de mar.
Sou escaravelho
ou talvez apenas esteja velha
pra definir
quem fui...
22.01.2009 - 19h21min

Disfarce

Sem rosto, sou corpo invisível
querendo voar...
22.01.2009 - 19h14min

Véus

Serão pedras supostamente mais leves
disfarçadas de solidão...
22.01.2009 - 19h09min

(In)completa

De mim sempre falta
um pedaço
de mim...
A morte,
talvez....
22.01.2009 - 19h

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Pedir por favor

Papel pede água.
Eu digo:
Olá.
Derramo tinta nele.
Pinto.
Coração pede porque gritar
se o amor não vem?
20.01.2009 - 16h39min
(Esse quem escreveu foi Alina, minha herdeira de versos,
minha filha, minha mais perfeita rima...)

Sob medida

Ele me pediu um poema
mas
como se derrama o coração
no papel?
20.01.2009 - 16h34min
(Sob medida, pra TI, só EU)

Doideira

Hummmm... tem uma teia de aranha logo ali uma barata passou correndo em direção à cozinha ai ai ai só falta rato e ratoeira e barulho de roedores pelos cantos do bar ai ai ai uma teia de aranha logo ali quando é que vamos movimentar logo aqui? aqui? aqui? uma teia de aranha logo ali e minha poesia tá presa emaranhada nas colas caladas dos poetas anônimos dos conhecidos anônimos dos sinônimos antônimos parônimos será que são parecidos com o rato que roeu a corda da aranha logo ali? e o meu verso que não se solta dessa teia colada dessa teia liberta? e o teu siso que não se arrisca no vôo impreciso que a teia permite logo ali? cadê esse meu povo que não vem aqui de novo pra matar a aranha pra pisar na barata e assustar o rato que rói esse meu verso sem nexo sem queijo sem acento agudo ou circunflexo? e a teia persiste em prender meu poema... Moço, um copo de suco de laranja por favor, sem teia de aranha sem barata boiando sem pêlo de rato (ai, que esse acento já era... e eu não sei mais escrever... ai) 19.01.2009 - 06h

Inutilidade

É inútil minha arte.
Ela nada te acrescenta
além de perguntas
cujas respostas
são outras interrogações.
Se meu corpo te fala,
não afirma;
provoca.
Se meu risco te grita,
não define;
duvida.
Se minha palavra te diz,
não explica;
confunde.
Se meu gesto te traduz,
não expõe;
multiplica.
Minha arte desfia lãs.
Desfila curingas e copas de rainhas.
Minha arte copia sonhos.
É incapaz de soluções.
Respira o vício da busca.
Procura.
É inútil minha arte.
Complacente, passa por ela
e sorri...
20.01.2009 - 14h20min

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Por enquanto

O canto do copo quebrado na boca.
A parte sem todo, manca.
Silêncio na noite, sono insosso
sabido remédio pro meu desespero.
Delírio sem trégua. Distúrbio.
Enviesado revés de vida. Sorte.
Na lata do lixo, os muros.
Esmurro as pontas das facas.
Enfraqueço os mitos.
Desminto as madrugadas.
Amanheço viva.
À cabeceira dos dias, sinto.
Ainda.
E só por enquanto.
19.01.2009 - 13h50min

(Con) Seqüência

Derramo no corpo tinta branca
pra pintar-me a alma
cansada das mesmas nuances de cinza.
As expectativas seguem-me os passos
como se já não me bastassem
as incessantes chuvas de verão.
Discordo da maioria
e descanso meus pés
na estrada da esquerda.
Desvio dos caminhos
superpopulosamenteentediantes
e mergulho no que considero vivo.
Descubro reflexos onde não sabia
e almoço soluções tardias para meus defeitos
vários
avaros
inválidos.
Sem sol, secam-me as carnes
de uma fome que não me cabia.
Abrem-me vagas nas poças d'água
e minha imagem já não é.
As muralhas pesadelam-me.
19.01.2009 - 12h30min

sábado, 17 de janeiro de 2009

Definitivo

Tu és qualquer coisa que não encontro no dicionário.
Talvez sejas um perfume
ou um vocábulo grego.
Talvez sejas a mordida na maçã vermelha
ou o peso do cinto na minha pele.
Tu és alguma coisa indescritível
maior que MARAVILHOSO
mais forte que CORAJOSO
mais leal que o som de voz difuso
perdido no nebuleiro da distância.
Tu és qualquer coisa que eu não encontro no dicionário.
Não estás lá.
E eu não sei como TI definir...
Eu não sei...
17.01.2009 - 06h
(Acontece que TER dispensa definições...)

Moço...

Moço, chama aí alguém que esteja passando com uma viola debaixo do braço
Um dedo de prosa
uma pitada de poesia
um tantinho de pimenta
e está pronta a mistura perfeita
pra melhorar o meu dia...
Moço, chama aí alguém que esteja passando meio malemolente
que aqui um jeito dá à gente
meio sem medo de andar sem pressa
nesse bar escurecido
nesse lugar em que esqueceram
de acender o lampião
c'o último fósforo
da carteira vazia.
Moço, chama aí alguém que esteja passando com um livro não lido
entre as duas mãos de um ente querido
que as mulheres querem ouvir canções
que os homens querem arrastar as asas
e os chinelos e os tambores e as pretensas verdades
que as falhas acodem nas mesas vazias.
Moço, chama aí alguém que esteja passando
pra preencher a madrugada transbordante de um vácuo mudo
incandescente de uma tênue e lúgubre folha branca...
Moço, chama aí alguém
que eu já não aguento
de solidão...
17.01.2009 - 02h12min

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Semântica

No meu dicionário de significados
os sentidos jazem sobre as flores
e as palavras são meros espectadores
dos meus obscuros emaranhados.
Desconstruo o poema
como quem senta à mesa
do banquete de um Imperador.
Cato feijão nos acentos circunflexos
e alinhavo a próxima estrofe
com as batidas do meu coração
como quem planeja uma metrópole
(mas metrópoles são desordenadas
desorganizadas
barulhentas
violentas e ricas
de qualquer coisa mofada
que purga de suas feridas).
E a minha criação se ri
do que seria um abismo sem fundo.
No canto da boca-página
um filete de sangue
escorrido do vocábulo
escolhido a dedo
pra não assustar os estranhos
que povoam os ninhos
dos meus pensamentos.
Apalpo as linhas que visto
e já não sei se o que vejo sou eu
ou os meus instintos escritos
descritos
pormenorizados
na avalanche descontrolada
- poética impertinente -.
O ritmo da tua leitura
mantém acesa a chama
e o espaço entre uma e outra escrita
permite o descanso do vazio
que sucumbe
ante o braço enlameado da plebe.
As farinhas desmancham os pães.
Sem alimento, farto-me de orvalho.
Estremeço.
15.01.2009 - 13h10min

Um dia...só

Como seria se só existisse o dia? Talvez faltasse uma pitadinha de poesia na pimenta da estrela que a gente não viu... 15.01.2009 - 01h30min

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Brinde

Talvez estejamos nós dormindo... Sonha, que o tempo é deveras ligeiro Sonha, que o medo é deveras sem freio Sonha, que o sentimento é das claudias ou das heloisas, ou das simones, talvez das marisas, ou das lenitas, outras quermesses, outras diretrizes, outras mordidas doendo nas carnes, outras vertentes cobrando pedágio, outras estradas outras verdades outros poemas brotando dos vales das entranhas da terra das entranhas de mulheres poetas... Mas e os homens profetas? Moço, um brinde à poesia feminina, tão perfumada tão lasciva, tão bendita, tão desarmada, quanto um copo de vinho tinto... Brindemos, amiga Lenita, enquanto os profetas não chegam enquanto os homens não estendem, eles também, os copos transbordantes de delírios... Brindemos, amiga Lenita... Brindemos à poesia blindada que brilha, inda que presa... Brindemos... Brindemos às odes, aos sonetos, às desordens dos versos... Brindemos à magia da vida... 14.01.2009 - meia noite... (Para Lenita, amiga poeta)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sobre quem sou

Vivo mudando de idéia sobre quem sou eu. Será por não conhecer, em absoluto, a resposta, e andar vagando por hipóteses várias, ou será por essa característica de camaleoa, mudando sempre, portanto sempre sendo nova? Uma boa nova? Ou uma utopia? Quando eu descobrir, respondo... ou não... 12.01.2009 - 15h

Bem-vindo, poeta!

Entra, poeta,
que a poesia está de portas abertas,
pra versos exclamados
na comunhão dos decassílabos
ou dos invertebrados...
que importância tem?
Toda, oras,
afinal é de estrofes que é feita a vida
e de estrofes malogradas ou mal dormidas,
talvez mal amadas,
quiçá bem resolvidas...
Estrofes de almofadas e de suspenses,
que nos levam as sementes
e as inspirações dormentes
e as catástrofes nos copos d'água...
Entra, poeta,
e traz uma pitada da tua poesia,
que a mesa anda sedenta
de um tantinho de beleza,
de um tantinho de prosa e verso...
Moço, traz aí a sobremesa...
(Para os meus amigos queridos, do Sarau On Line,
depois de um longo período de afastamento meu...)
11.01.2009 - 17h30min

sábado, 10 de janeiro de 2009

Falta

Sinto falta das canetas,
dos versos,
dos amigos,
da dança do poema na minha frente,
alegrando-me os dias...
Sinto falta do sopro do verbo
no meu ouvido atento,
do riso da palavra escolhida a dedo,
do sentido obscuro da frase,
solta por acaso,
entre um suspiro e outro,
de alívio ou solidão,
tanto faz.
Sinto falta da beleza de uma lua que resiste às manhãs...
10.01.2009 - 01h22min

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Marginal_Arte&Cultura

Sempre estive "às margens", embora sempre tenha parecido "dentro". É confusa essa situação. Serei eu uma marginal perfeitamente integrada? Talvez eu não seja nada. Talvez apenas arremedo d'alguma arte que me passou rasteira, n'alguma outra vida, em que,certamente, fui cega e perdida. As margens exigem mais equilíbrio, ainda que um olhar desatento taxe de bêbado o passo da marginarte. Imaginação. Arte. Cultura. Corda bamba. Daí o balanço, daí o requebro, daí a contra da mão do conhecido e sempre arbitrário PODER.
01.01.2009 - 02h48min

Por amor

Por amor
sou meus desenhos
dispo-me das dores
dos tecidos
dos verbos
dos receios
dos cuidados todos.
Por amor
sou minhas poses
minhas quebradas
minhas colinas
meus vales
serenatas
cachoeiras
sumarentos e finos recortes.
Por amor
sou as mulheres que fiz
cada traço
cada curva
cada compasso marcado
no tempo certo
ou no intento
imprevisível
da tua chegada.
Por amor
sou retrato
e janela.
Abertura
estilhaço
saliva
abraço.
Por amor
sou a sombra
desenhada
feminina
felina
amada
amante
graça.
Por amor
sou tua
em traço
ou nua.
Tanto faz;
é tudo pra TI.
01.01.2009 - 01h50min