segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dormência

Risco de giz as oposições a que me submeto
um lento desperdício de escolhas
assoalhos gastos na calçada da fama
tranças de equilíbrios nas poeiras das ruas.
Paradeiro de corpos comentados
executivas discussões salgadas
e tuas mensagens no meio das frases
gotas de fogos de artifício nas minhas manhãs.
Veneno e antídoto na saliva do sonho.
Meu dom é ver-te a alma
e nela embalar meu livro
de contos fantásticos
e de crônicas vistas.
Visito teus segredos
desconto os não-ditos
e os digeridos conselhos
nas janelas dos meus dias.
Adivinho.







31.05.2010 - 22h

Viajante

Nas curvas das horas
teus passos chegam cinco antes
enquanto os meus se arrastam
do lado de cá do Oceano.
Teu relógio não se ajusta
ajuíza minhas vontades
e derrete o fio do tempo
que assume proporções diversas.
Fina seda de vento soprado
pelas veias onde corre teu nome.
Duas sílabas douradas
entremeadas aos meus versos
nós de marinheiro no deserto
dessas mesmas horas
sedentas de ti.
Te espero.




31.05.2010 - 20h44min

ENSAIO PARA O FIM DO MUNDO

I

Se os finais entrelaçam os dedos

Dos começos adivinhados

Intencionalmente previstos

De crateras e cortes e poemas pela metade

Ou inteiras alegrias

Sonhadas ou vividas páginas

Divididas em explosões de dúvidas

E um sem número de ilusões

Não há fim, se mundo não houver

E de quantos mundos se precisa

Para construir um começo

Que dure o suficiente

Pra dizer que foi feliz

Mesmo depois que se tiver esvaído

Pelos vãos da proximidade

Com o que se desconhece?

Andar sobre as águas

E molhar a ponta da língua

No dia que jamais vai nascer

Feito anjo decaído

D’algum sobrevivente planeta outro

Escancarado de resvalos

E ditos sonâmbulos.

O fim do mundo promete

Tudo o que nada expõe

Nada que não tenha sido tentado

A salvação mutante

Do que já não existe mais.



II

Se hoje o mundo findar

Meu espelho quebrado

Sem partes encaixadas delicadamente

Nas centenas de possibilidades

Que eu não consigo contar

Estarei exausta de vida e de espera

Nas névoas conquistadas de anéis coloridos

dos caminhos que eu não conheci.

São vagas as horas últimas

Da contagem regressiva

Em que as maravilhas melódicas

Da rouca voz amanhecida

Nas afiadas presas da liberdade

Cantam composições tuas

Que encantam meus ouvidos

E prometem favorecer as probabilidades

De haver amanhã

Depois que o fim dobrar a esquina

E não houver outra chance

Além de reconsiderar.



III

Explodem estrelas

Pra recomeçar a vida

D’algum inesperado ponto.

Um porto conquistado desde os mais remotos

Extremos da terra

Talvez dez mil quilômetros

Transfigurados em milímetros

Depois da grande erupção.

Vida na lava ardente

Microscópica diferença

Ensaiada no espaço vazio

Entre um ato e outro da grande peça

Sem platéia nem improviso algum.

O fim do mundo é o começo de alguém...






30.05.2010 – 20h26min
Aí, Roberto Amezquita,
futuro Prêmio Nobel de Literatura,
 Simone promete, Simone faz...rs