terça-feira, 20 de julho de 2010

rascunho um outro dia
adentro portas impensadas
invento miraculosas poções
que encantariam qualquer idiota
rio de mim mesma
e dessa minha facilidade
de sofrer
arranco os papéis da parede
onde jazem escritos
os horários passados
soo dois passos à frente
ando cinco pra trás
rumino intenções de tamancos
e publico um sem número de opiniões
sou devassa
e de grão em grão
mostro as entranhas
nada bonitas de se ver
apalpo as terras revoltas
sem cadáver algum pra chorar
abduzido
danço nos véus escuros
de um entrincheirado comentário
perdido entre meus dedos
de poeta iniciante
revolvo as águas e as linhas
dos anzóis lançados
pelas vielas de asfalto
construo uma ponte
que não escalo
escolho talos de pimenta
comprimo os cumprimentos
executo uma réstia
de sal
no prato vazio
da breve vida
que em mim restava
o começo é o avesso
do que trago de certo
o certo está no fim
e desse não entendo
nem aceito
nem revelo
assumo
amanhecer sorrindo não é um dom
é um sinal
de que algo vai ruir
talvez o sol
estrela prestes a inexistir
talvez a lua
pássaro de aterrador olhar
talvez a paz
desejo inacabado e nu
talvez a boca
fadada a calar
fadada a calar
fadada a calar
deflaga o gesto cru
decíduo
o epílogo já vem embutido
no gênese
o x da questão
é a habilidade de mascará-lo
não o x
nem o epílogo
nem tampouco o gênese
mas o ilusório
ser que vos fala
por detrás de um par
de cegos olhos azuis
aquele tímido raio de sol
atravessado na janela
ele
único
frágil
claro
transparente

é que me impede

o pulo
na roda dos enjeitados
as histórias rolam
precipícios
cujos fins ninguém sabe
ninguém viu
na roda dos enjeitados
espirais de fumaça
enfeitiçados serviços
distribuem senhas
de silêncios
shhhhhhhhhh
ninguém sabe
ninguém viu

segunda-feira, 19 de julho de 2010

me dê uma folha branca


uma lágrima engolida

uma gargalhada

um fio de meada

uma viagem

uma estrela

uma especulação

um ínfimo de solidão

talvez a ponta fina d’alguma ferrugem

uma umidade na janela d’alma

um gosto de mel

uma esfera

uma espera em vão

uma esperança malograda

um canto de sala

uma pétala de flor amarela

uma esquisitice qualquer

um soluço

um erro

um aperto

um aparte

um apartamento vazio

esperando a asa de uma borboleta sonhada

uma peça de roupa no varal

um pássaro triste

um riso de criança

uma frase sem sentido

um disco de pizza

um computador

uma bala de hortelã

um acidente de percurso

um brinquedo quebrado

um pulso

um pé de vento

um pó de asfalto

um fio de cabelo

um ombro

um amigo

um espaço

um espelho

um frio

um começo

uma gota de sangue

dê-me uma construção gramatical perfeita

um aparente não-motivo

que o resto eu desfaço

desfio em estrofe

oculto as razões

saliento os tecidos

nasço à felpa

domingo, 18 de julho de 2010

sucumbir à tentação da estreiteza


depois da lua e do sol tido

depois de todos os anéis nos dedos

e os digitalizados sorrisos

pintados no papel branco

poema amanhecido e interrogado

quanto às demências e falhas sofridas

ir assim morrendo aos poucos

feito folha outonalmente caída
atravesso pântanos mortos


pálidas sombras de lamas

e cultas leviandades vividas

são curtos os dias de tranqüilidade

são sonhos os campos elísios

inalcançáveis soluções bastardas

de assuntos forjados nas feridas

cruéis cicatrizes de dores tidas

nada além de enganos e mitos
deixa-me pensar na ilogicidade da poesia

no escândalo que é inverter os sentidos

e agarrar-se aos versos

como quem busca a cura

para os males desconhecidos

ou paralelo para os mitos conhecidos

ou só uma tábua de salvação

deixa-me andar pelas sendas da inocência

e usar rimas na minha canção

inenarrável aventura diária

que independe das parcas moedas

eventualmente tilintantes nos meus bolsos furados

independe de respostas amorosas

e de companhia mais digna

além da caverna de uma beleza vazia

o sal da história antiga

dá gosto à edição d’outros verbos

vocábulos d’outras línguas

sonâmbulos criados

feito deuses supremos

fagulhas de sinfonias supostas

jazz
já não me assusta andar só
sou risco e pluma voejante
costume de sombra dormente
nenhum resto de história pendente
nada que me impeça de seguir
adiante
sem respostas
as perguntas emudecem
mudam as visões
vistas grossas
intrusões
sem proposta
a óbvia conclusão
soma-se à estrada
já trilhados os caminhos
viram sombras
da voz que já não ouço
nem espero ouvir

sábado, 17 de julho de 2010

os livros
os filmes
as canções
companhias
personalidades próprias
presenças invisíveis
construções

quarta-feira, 7 de julho de 2010

História infantil?

O amor é um bichinho
do tamanho de um hamster
só que com força de leão.
Como tudo o que pulsa nessa vida,
ele precisa de alimento
pra energia manter.
Sem alimento, o bichinho enfraquece.
Fraco, adoece.
Doente, definha.
Acamado, delira.
Delirante, morre.
Morto, vai para o céu dos passarinhos.
Lá cria coragem e alça vôo
vira estrela e nuvem e colchão.
É o jeitinho que ele dá
de não sofrer eternamente,
em vão.







07.07.2010 - 02h29min
Um exercício de sono interrompido

Do amor, esse desconhecido

Antes e acima de qualquer coisa
acredito no amor.
Acredito na sinceridade do amor-mentira
que se disfarça de real, por pura diversão.
Mal sabe ele que, ao divertir-se, diverte, também.
E isso é bom.
Acredito na sinceridade do amor-eterno
ainda que a pretensa eternidade dure alguns segundos
alguns milionésimos de segundos
algumas partículas tão pequenas de segundos
que nem tem nome, tão minúsculas são.
O que é o tempo?
Acredito na sinceridade de quem diz se importar
e ao dizer só repete palavras gastas, já ditas
como se fossem pela primeira vez proferidas.
É uma forma de se importar, afinal.
Acredito na sinceridade de todos os amores que tive
de todos os que não tive
de todos os que pensei ter
de todos os que eu gostaria de ter tido.
De um jeito ou d'outro, todos foram meus.
Os de verdade.
Os de mentira.
Os que disseram adeus.
Os que não disseram, mas foram.
Os que não foram, mas também não ficaram.
Os que eu não quis, pelos mais diversos motivos.
Os que não me quiseram, por motivos vários.
Acredito neles todos.

Acredito tanto que sei que todos se esgotaram.
E eu jamais ousarei dizer
que não vivi.








07.07.2010 - 02h18min
Acordando, pra escrever

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Fissura

Um salto no escuro
a fonte engole a moeda
rajadas de vento investem
contra os vestidos...

Envergaduras ponteiam dissabores.

Cumpridos os ditames da natureza
os dias repetem ocasos.




Caos.








05.07.2010 - 23h23min

Bloguear

Um diário em versos
fácil de ler nas entrelinhas
se entrelinhas houvessem
armadilhas rastreadas
nas sucessivas rimas
das virtuais fotografias.
Tarefas cumpridas
providenciais desabafos.
A solidão solidifica os muros
as tintas absorvem os abstratos
quadros de empecilhos e romarias
disfunções assinadas
de rabiscos impressionistas.

Novas fases
alheias luas


sem precedentes...


Só mais uma ilusão...




05.07.2010 - 22h27min

Aleatório


Alçar vôo
dispõe às incertezas do acaso.
Há dias
em que é melhor ter os pés
bem plantados
no chão...






05.07.2010 - 21h57min

Insondável



Às vezes
um gole define uma pena
um quê de nada
um assovio
talvez uma piscada
e a diferença se faz
para o bem


ou



para o mal.


Abismo.









05.07.2010 - 21h12min

Menopausa

Círculos.
Ciclos que não se repetem.
Pausas.
Fitas maiores depois dos descansos.
Circuitos.
Ciclones impiedosos.
Pautas.
Outros sonhos.
Conquistas.
Circunferências.
Gira a roda da vida.
Corte.







05.07.2010 - 20h21min
Um novo ciclo se inicia...

domingo, 4 de julho de 2010

Resgate

O nosso amor a gente inventa

Composição: Cazuza / João Rebouças / Rogério Meanda




O teu amor é uma mentira

Que a minha vaidade quer

E o meu, poesia de cego

Você não pode ver



Não pode ver que no meu mundo

Um troço qualquer morreu

Num corte lento e profundo

Entre você e eu



O nosso amor a gente inventa

Pra se distrair

E quando acaba a gente pensa

Que ele nunca existiu



O nosso amor

A gente inventa

Inventa

O nosso amor

A gente inventa



Te ver não é mais tão bacana

Quanto a semana passada

Você nem arrumou a cama

Parece que fugiu de casa



Mas ficou tudo fora de lugar

Café sem açúcar, dança sem par

Você podia ao menos me contar

Uma história romântica



O nosso amor a gente inventa

Pra se distrair

E quando acaba a gente pensa

Que ele nunca existiu



O nosso amor

A gente inventa

Inventa

O nosso amor

A gente inventa.

Codinome Beija-Flor

Composição: Cazuza / Ezequiel Neves / Reinaldo Arias





Pra que mentir

Fingir que perdoou

Tentar ficar amigos sem rancor

A emoção acabou

Que coincidência é o amor

A nossa música nunca mais tocou...



Pra que usar de tanta educação

Pra destilar terceiras intenções

Desperdiçando o meu mel

Devagarzinho, flor em flor

Entre os meus inimigos, beija-flor



EU PROTEGI O TEU NOME POR AMOR

EM UM CODINOME, Beija-flor

Não responda nunca, meu amor

Pra qualquer um na rua, Beija-flor



Que só eu que podia

Dentro da tua orelha fria

Dizer segredos de liquidificador



Você sonhava acordada

Um jeito de não sentir dor

Prendia o choro e aguava o bom do amor

Prendia o choro e aguava o bom do amor

sábado, 3 de julho de 2010

Algumas palavras

As flores secas cantam canções passadas
as páginas abertas transpiram ontens
o vento sopra perfumes esquecidos
as fotografias amarelam lembranças tidas.
Não paro. Meus pés, embora eu não desejasse,
dão passos à revelia, na dança da vida.
Desço as ladeiras das técnicas
pesquiso outras palavras e formas outras
de dizer o que não escrevo.
Gravo em grão de arroz meu erro
que é pra ninguém saber que dependo
da minha própria aprovação
pra seguir em frente. E sigo.
Deito em colchão de virgulas
e sutilmente mergulho em pesadelos
escondida debaixo de uma consciência
de envenenados espinhos letais.
Quero descobrir-me além das leituras
além das histórias que semeio em mim
além dos sabores que pensei provar.
Afasto o definitivo.
A partir de agora, só os efêmeros
roçarão minhas vestes leves.
Só eles chegarão perto do meu dom:
o de crer na liberdade de tudo
a despeito e antes e acima de qualquer outra coisa
inclusive do amor
(mas o que é o amor?)
.
.
.







03.07.2010 - 22h44min

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Simples

Uma flor amarela tropeça na luz de um raio
o dia quente sufoca a melancolia
qu'inda insistia em escorrer garganta abaixo
(é que colher uma onda gigante esgota a saliva).

A terça parte da vida
tem flores amarelas
molhadas de orvalho
e luz...






Aos 38 minutos do dia 02.07.2010
Cello, depois de me fazeres rir,
aqui minha retribuição.
Obrigada pela disponibilidade.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Rompante

Equilibro minhas linhas tortas
nas cordas moles dos estalos
gêmeos das mortes
das mortes todas nos valos
das valas rasas das beiras de calçadas
vazias.

Colho assombros nos ponteiros dos relógios
nos assovios das solas de borracha
suspensórios de ícones jovens
algodões nas escalas de areias.

Quando é que os fios justificaram os freios
e as sombras apagaram a luz
do mesmo movimento
milhares de vezes repetido
ao espelho?

Balanço a cabeça e confundo amenidades
improviso uma desculpa esfarrapada qualquer
e esclareço a veemência dos pares de sapatos
jogados nos pés avessos
dos terremotos que me tonteiam.

Ameaço uma aposta.
Perco, pra não dizer que
vencer, temi.






Aos 57 minutos do dia 01.07.2010