sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ainda...

Têm sono esses meus olhos risonhos. Tem risos essa minha boca de sono. Tem sonhos essa minha vida de passos trôpegos pousos de vento... O riso é meu desafio diário que carrego debaixo do braço para as ocasiões premeditadas não por mim, pelas cartas marcadas dispostas sobre uma mesa invisível que eu não aprendi a virar. Ainda. Ando em zigue-zague e apronto a refeição de sempre: poesia. Porque meu trem já descarrila na linha reta que se aproxima; sem passageiros outros, além de mim. A folha seca pelo sol estala debaixo do meu pé. (Ou será o sol que estala o meu pé, sem querer?) Conjectura infantil de quem se recusa a crescer. As unhas se quebram. Alguém quebrou a vidraça da loja. Alguém quebrou o relógio da praça. Alguém não quer que as coisas durem. Dura é a partilha da dor. Parto a laranja ao meio e como as duas metades. Medo é arrependimento antecipado. O concurso ainda não mandou o resultado. O paralelo é só o outro lado da mesma coisa. O sufoco é só mais um jeito de mentir. O poema ainda não calou o monstro. Ainda. (Alguém mora em mim...) 05.09.2008 - 01h28min

Delírio

Há canções nos sons dos passos que passeiam pela escuridão coberta de estrelas apagadas agora. Observa... São trilhões de astros quietos que povoam teu universo. ACORDA! Sacrifica a preguiça do topo da montanha. Exorcisa os demônios das luas nas espadas de Jorges e samurais escondidos debaixo dos abajures da tua sala de estar nua. Estejas nua quando o ponteiro chegar na hora marcada pelo destino. Os astros rastreiam as pegadas dos grandes pensadores que antecederam os anônimos criadores de pseudônimos cruéis. Cospe a centelha de cem lâminas sobre as cortinas de fumaça que despistam as ganas que te arrastam para os caminhos que não pensaste trilhar. Evita o abandono, o desabafo, a partilha. Guarda teus segredos sem pudor algum. Esconde os pensamentos que não juraste diante do santo mumificado que te obrigaram a ter no altar. Abriga teus sonhos em panos quentes. Assume tua luz apagada. Acende a estrela cadente. Ascende pra longe daqui. Recupera. 05.09.2008 - 01h06min

Mas, afinal...

Mas o que é o tempo? Maldição, talvez. Bênção, perdição, qualquer coisa que leve um til sobre um A; qualquer coisa que rime com 'não'? Quem terá as respostas que insistem em ser perguntas e, sobrepostas, são escadas que não levam a lugar nenhum? Mas o que é o vento? Não admito a comodidade do ar em movimento, como se a carícia em meus cabelos não passasse de um capricho da natureza, dos deuses, das minhas fantasias. Mas o que é o que sinto? Exagero de um dia, talvez de um minuto, quiçá de uma vida inteira, mas sempre exagero, sempre superlativa essa cadência cá dentro do peito. Mas o que é o futuro? Mas o que é o presente? Mas o que é a falta? Essa falta que me consome a alma e atormenta a mente? Mas o que é esse excesso? Essa necessidade de explodir em brilhantes cores desiguais? Mas o que é o porém que impede-me o adiante e castra a partida já preparada antes? Mas o que é essa asa quebrada sem gesso sem estrada sem esteio sem mais nada além dela mesma pela metade? Mas o que é a palavra insuficiente caminho por onde enveredo meus desaforos. Por onde desafogo minhas mágoas disfarçadas de versos e poesia leve? Mas o que há de novo, afinal? Mas o que há para se recompor, afinal? Mas o que há dentro do sol, afinal? Mas qual será o final? Mas há final? Finada... Aos 47min do dia 05/09/2008