segunda-feira, 14 de julho de 2008
Heterônimos
Quantas de mim há em mim
diferentes umas das outras
extremos opostos de pensares
ou semelhantes dizeres de mim?
Quantas outras me habitam
eu, que nem sei direito
quem chegou primeiro à reta final,
se a original ou as derivadas de mim?
Quem criou essas terceiras,
quartas, quintas vértebras a mais,
que usam minha boca pra dizer
que abusam dos meus dedos, a escrever
o que querem e o que as assombra?
Quem enxerga, além delas,
a verdadeira moradora do meu corpo,
que nem sempre se manifesta
emudecida pelos gritos das outras?
Quem me alcança?
Com quantas pessoas diferentes consigo conviver
dentro da minha própria casca,
cada uma querendo a expressão exata,
pr'aquilo que nenhuma de nós consegue exprimir?
Qual delas é a verdadeira
escondida por trás das faces múltiplas
que foram nascendo
[ou que foram sendo construídas]
sem aviso prévio
sem licença ou permissiva minha?
E se qualquer delas
quiser se valer da morada
e assumir o controle do espaço
reservado pra todas as outras?
E se essa não for eu?
Quantas faces existem
por trás da máscara com que nasci?
Quantas máscaras têm
as mulheres que usam meu corpo?
Quantas são as cicatrizes
que escondo atrás delas?
Quem eu seria
se não fosse um heterônimo?
Nada além de um fantasma, talvez?
14.07.2008- 13h18min
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