terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Defeito

Sem manha
coxeio entre as linhas
manco
tonteio
erro a mão
risco
começo de novo.

Poetar é mais que dizer
ou diferenciar
ou arrefecer.
Poetar é dar-se conta
dos defeitos que a letra tem
podar as vírgulas
regar as circunstâncias
não explicar, com prazer.
Poetar é dobrar neblinas
e encontrar solução
onde já não há.
É assim, num repente,
descobrir-se doente
de amor
essa doença bem lida
nos versos que cá entre a gente
vamos bordando
emprestando sabor.
Poetar é apaixonar-se
sem medo ou cuidado,
permitir-se a entrega
virar rima e balanço
na pétala de uma flor.

Sem manha
coxeio na folha
e reconheço meu defeito:
nasci poeta
por amor...






14.12.2010 - 20h34min

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Resenha

De capa a capa
o encarte arde
dessas ardências de leve
despertar de muitos sentidos.
Roupas fechadas
bons tratos de letras.
Palavras.
Algumas tão nobres
que bem mereciam
um ritmo mais lento.
Ainda assim
o encaixe perfeito
anima os ouvidos.
Preciosa pedra do rock.









07.12.2010 - 13h44min

Passeio

As ruas casam Travessas
consideram nossas mãos dadas
debaixo da garoa fina
no banco descascado de verde
entre vendedores ambulantes
e palhaços de pernas de pau.
Sem guitarra de grife
as violas caipiras repetem
o mesmo som mil vezes ouvido.
Os saltos das sandálias
descalçam as lentes
altura de desejo
pintura de photoshop.
(Eu lembro de cada vírgula
dos pontos, do espelho)
Espumas de desenhos
na capa de raro CD.






07.12.2010 - 13h35min

Confissão

De repente
não sou mais eu
sou todos os verBos
que me brotam desordenados
impacientes medidas
rimas soltas
complexas ou simples
- pouco importa -
nessa minha Lista
de poemas urgentes.
Todas as letras
querem brilhar teu nome
colorir o que depois de ti
só pode ser experiência.
E a minha mão não dá conta
de cantar o que me transborda.
Não sei d'outros assUntos
só teus olhos
teus caminhos
tuas roupas
teus risos
me são rios de motivos
e plantas de fraturas
do que antes de ti
mE foi mais do que suficiente...






07.12.2010 - 05h55min

Laço

E se a lã do sol
quebra a noite fria
raios de nylon descolam
as unhas e as energias
pra compartilhar de sonhos e euforias.
Essas mesmas
que inundaram as avenidas
os bares, os movimentos, as testemunhas
do que pra nós foi mais que estrela
Universo desenhado em domínios
os teus e os meus
finamente combinados.





07.12.2010 - 05h31min

Diferença

As manhãs continuam geladas
polainas de lã
nas canelas frias
cortante som de pássaros
desafios.
No entanto, há qualquer coisa
que não conheço
que difere do de sempre
que eu sempre tive.
Suspeito
seja a tua lembrança.




07.12.2010 - 05h23min

Despedida

Todas as despedidas
deveriam ser assim
sem dor
nem lágrim'alguma
sem precipitação
ou palpitação outra
que não a d'uma
algodoada saudade.
As despedidas
acenos leves d'alegrias
vividas
por isso mesmo merecedoras
da mais tenra harmonia.





07.12.2010 - 05h02min

Vestígios

Apagar outros vestígios?
Que vestígios
se desintegraste toda possibilidade
d'outras existências
que não a tua?






07.12.2010 - 4h45min

Simples assim

Eu quero a matéria prima dos meus versos
essa mesma que eu toco
e que dissolvo sobre a folha
feito experiência química
na física do que me proponho:
ser tua, eternamente...



Nos primeiros 11 minutos do dia 07/12/2010

Realidade

Não
sonho não foi
foi vida e valor palpável
maciez nas marcas
e aspereza nos fios.
Não
sonho não foi
foi sentimento exposto
pra ser impresso na mente
e ali permanecer.

Sonho vivido
vira palavra
poesia fervida no pulso
servida em porcelana importada
e-terna
em sua fragilidade
frágil
em sua infinitude.



Aos 5 segundos do dia 07/12/2010

Ó, meu pobre, meu grande amor distante,
nem sabes tu o bem que faz à gente
haver sonhado... e ter vivido o sonho!
(Mário Quintana)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Possível

Long Play dos sons dos risos
ridos nas madrugadas
em que os vizinhos desejaram
a morte de nós dois.
E se os plantões nos sonham
e os futuros aceleram a saudade,
a lembrança mantém vivo
o edredon macio e mudo
nas letras das canções
declaradas com A no começo
princípio de estado das coisas sem peso
prazerosamente ligadas
pela beleza do dia D.





06.12.2010 - 23h50min

domingo, 5 de dezembro de 2010

Fetiche

Chegaste antes ao nosso destino compartilhado
e ao ponto final da tua partida.
Eu vim depois
inda que antes tenha nascido.
Entre nós, as estradas estendidas.
Mãos dadas.
Inusitado enlaçar de nossas vidas.
As minhas preferências, e as tuas
em Porto Alegre a acolhida.
Nenhum outro
tão perfeito encaixe.
Nossas dobras
de quilômetros separadas
agora já não são mais duas
são juntas ou separadas
uma única e branca névoa
pelas tuas mãos macias validada.

Tu chegaste antes
manchado com meu sangue
de carne crua.

Recitar poemas ao pé do ouvido
cantarolar, no meio da rua
sem saber de que lado fica a lua
se em teu olhar de feitiço
se em meu poder de mulher nua.

Fetiche.





05.12.2010 - 14h12min

Histórico


Outra forma de poesia...


Porto Alegre já não é a mesma. Agora, o cheiro dela tem um fundo que eu conheço, e que foge à maioria, exceto aos poucos que nos viram juntos e adivinharam que, da minha pele, era o teu suor que escorria.
Aviões, ônibus, táxis, transeuntes, panos de fundo de uma história que não se inicia, já que quase aniversaria, mas que se alimenta das tuas pupilas, nas minhas satisfeitas íris.
As ruas andaram em câmera lenta e até os minutos, inimigos de todos os amantes, compartilharam e condescenderam dessa nossa alegria.
Os vizinhos, ou odiaram, ou sorriram, complacentes. Viver de amor é sucesso garantido, de um lado ou outro do contraditório sistema de assuntos do dia.
Nada mais lindo que a tua barriga, molhada de chuveiro, depois das minhas marcas, tatuadas nos teus pelos.
Pelo jeito, Porto Alegre se encolhia, nas últimas madrugadas quentes, em que teu corpo me continha, e eu compunha versos incoerentes e balbucios permanentes, na tua orelha, atenta de mordidas.
Palco de madura energia, a cidade que me pratica respeitou a ansiedade do primeiro início, suco de sopro esperado, que nem eu, nem tu, evitamos viver.
Depois do conforto, o sossego, medido a palmos, insuficiente, por ser infinito.
E se foi apenas um breve fim de semana, não tão breve foi teu beijo, ainda plantado na minha garganta, na despedida.
"Voa e canta, enquanto resistirem as asas"*, concretizada transformação alquímica, do que já foi vidro, e que o Guaíba, os corredores de ônibus e as avenidas, testemunharam virar real diamante.
Porto Alegre já não é a mesma; na pele dela escorre agora a tua gota, e a minha.
Sem reservas.
Só venturas.







05.12.2010 - 13h15min

*O VOO - Menotti Del Picchia

Bem

Tantas pontas nuas
nuances de espátulas
e plantas de pés descalços.
Tantas horas confirmadas
nas felpas dos fios
nas plumas dos lençois
manchados com meu sangue
curados com teu sal.
Feitiço feito a ferro e tempo
exigido nó presente
na capa do disco
qu'inda não ouvi
(por isso, invento).
Meu nome no teu grito
argumento único da tua chegada.
Sensação de prazer cumprido
na mancha no chão do quarto
testemunha da tua doce investida.
Teu sono tranquilo.

O fim não termina
quando anuncia o novo começo.

Na despedida
recuso a tristeza
saciada que me sinto
de alegrias.

Outros planos
diferentes dos já tidos.

Pontas de barbantes molhados
vasos de estrelas
posições estapafúrdias
contas que não fecham
- nem deveriam -.
A união faz a força da energia.
Urgência resolvida
agora é cuidar da lembrança
e
assim
à distância
permanecer alimentando
o mais bonito dos meus dias...




05.12.2010 - 12h45min

Adonada

Ser tua.
Ter teu fôlego
beber teu sal
suar a exaustão tida.
Rir do medo
saciar a fome
lavar a ferida.
Nascer sem dor
a planta da vida.
Provocar soluços.
Oferecer guarida.
Ser tua.
Sem sentenças
sem reservas
sem malícias.
Multiplicar minutos
alternar lados
lubrificar a sina.
Ser tua.
Ajoelhar mantras sagrados
salivar teu nome santo
na minha língua molhada.
E, na tua,
ser eu,


despida...











05.12.2010 - 12h20min

Furor

Alcançar o ponto exato
é quase queda abísmica.
Adentrar segredos insondáveis
é produzir outros tantos
assuntos de guitarras
e sussurros, murmúrios e beijos.
Minhas sandálias calçam teus braços,
meus apertos, laços prenhes
de leite vivo e espasmos.
Sou qualquer coisa fora de mim
que te arranha
às entradas da casa
e supõe as pressas
nas afiadas garras da cama.
Deito teu ombro em minha cabeça
teus odores aguardam meus cheiros
perfumes de toda nossa espera sofrida.
Alimentar os alcances
é fúria de fome
do que de fora veste
posto já estarmos donos de dentro
dos lados e a postos
para mais uma cartada do destino.
Renovadas forças
de renomado poderio.
Amor de fúria.
Heavy Metal...




05.12.2010 - 12h