segunda-feira, 3 de maio de 2010

Liberdade

Afio a língua
e cego a foice.
Liberdade é imperativo
pra quem sabe amar.
Abre as asas e voa.
Que os Oceanos não te sejam
obstáculos precisos
ou motivos suficientes
pra impedir-te do teu vôo alçar.
Cego a língua
afio a foice.
O cordão não é elástico
é preciso cortar.
Voa teu vôo livre.
Não te seja meu afeto
algema
que te impeça de permaneceres
no ar.
Vai.
Qual Menotti, voa e canta.
Diante dos teus olhos
o infinito.
Um mundo inteiro
a conquistar.
Vai, voa, e canta.
Constrói tua estrada
que o trem já vai passar.

Corto a língua na foice
afrouxo o nó.
Liberto.






03.05.2010 - 04h17min


Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.

Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas.


Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre
para o mais alto.


No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro, as canções que tens
na garganta.
Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desce que nasceste não és mais que um vôo no tempo.
Rumo do céu?
Que importa a rota.
Voa e canta enquanto resistirem as asas.


(O Vôo - Menotti Del Picchia)

Cidadania?

Sento a um canto, abro o jornal, e assisto escorrer o sangue.
Sento a um canto, ligo a televisão, e leio o mesmo sangue escorrido
do jornal assistido, pela manhã diária.
Sento a um canto, acendo a luz, e cego o pegajoso sangue
assistido no jornal, lido na televisão e grudado nos meus dedos
de espectador aprendiz.
Sento a um canto, deito os olhos na estrada e nada ouço
além do nada que cabe a mim.








03.05.2010 - 03h40min

De verdades e mentiras

Talvez a verdade não exista
e seja só uma invenção
pra gente não viver tão triste.
Talvez não exista a mentira
 tudo um grande axioma
com facetas diversas
que parecem o oposto do que são.
Talvez a verdade dependa só da gente
e da nossa vontade de acreditar no que não é.
Talvez essa crença seja nossa cura
ou a razão única da nossa doença.
A verdade, disfarçada de outra coisa
pra nos dar força
pra nos fazer sobreviver.
Sobreviver a que?
Aos desmandos diários
aos nossos próprios demônios
às ilusões a que nos agarramos
como se nenhuma outra alternativa houvesse
além do oásis-miragem
no quadro sensacionalista
que a gente carrega debaixo do braço
pra não esquecer.

Talvez o espelho deforme a imagem
- quem garante que o que vês
esteja de fato representado
no que existe de concreto? Ou
será que o reflexo é que reflete
o que de fato o fato é?-.
Talvez a mentira seja uma verdade
que enlouqueceu - de burrice, talvez?-.
Ou a verdade seja só um instrumento
talvez só um meio, pra se alcançar...
O que? A própria sombra,
morta de embolia pulmonar.

Talvez um dia as duas se descubram irmãs
gêmeas.
Talvez, e apenas talvez, numa hipótese muito remota,
as iguais se fundam.
E aí, talvez, e apenas talvez,
não haja mais razão de ser
da dúvida,
essa mãe da insensatez...

Até lá, as verdades e as mentiras
permanecerão confundindo nossas mentes
nossos olhos, nossas mãos.
Até lá, as mentiras bem contadas
serão verdades, até prova em contrário,
e as verdades mal contadas parecerão mentiras
correndo nós o sério risco de perder nossas preciosidades.

Talvez a verdade seja uma mentira que enlouqueceu
de tanto acreditar
.
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03.05.2010 - 03h26min