quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Hoje




Sou elo de corrente embrutecida
de cansaço e torpor
canal de cãs pintadas
e trilha no meio do nada
pra lugar algum.
Serpente de ligeiras curvas
indiscretas revelações perturbadoras
problemas sem solução.
Sou poço d'água turva
e balde transparente de canetas azuis
folhas brancas em asas de borboleta
gosto de anis dentro do café da tarde
prato de sopa de ervilha quente
arrependimento de caco de vidro
nas telhas da cancela
na dobra do origami alaranjado
que jamais conheci.
Sou imagem e semelhança de mim
e estilhaço de sonho
no telhado de zinco
de cinco loucos dedos no teclado
querendo dizer o que não se diz.
Sou uma bolha no minuto
do relógio de pêndulo que eu não tenho
um fio de cordão cinza no pescoço
que não amarra nem distrai.
Sou a única nota desafinada
escapulida porta afora da noite.
Qualquer definitiva indefinição
do toldo que cobre o túnel
da nobreza ou da completa impressão.
Hoje.
Amanhã...
Não sei...


E tu
o que sabes de mim
qu'inda não leste
nas entrelinhas da razão
ou nos degraus da partilha
onde a boca seca
é símbolo de rosa cega
e linha vazia é sinônimo de apreensão?
O que sabes dos verbos calados
e dos des-ditos aos quatro ventos
enferrujadas tempestades
de litros de algodão ensopado de luz?
Hoje.
Amanhã...
Não sabes...
(Eu, nem...)







09.12.09 - 01h29min

Sei?




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