segunda-feira, 28 de abril de 2008
Deriva
Antiga conhecida, a solidão arrasta o manto suave
entre as alamedas acinzentadas e tristes.
O sol, há muito desistente de clarear esses caminhos,
escolheu arder em outras paragens, fazer sorrir outras cores,
exercitar o calor em corpos menos dormentes.
A História recolheu as febres e as criações desses pastos
e passou a ferro quente as folhas amarrotadas
onde escrevera esses restos de ilusões amareladas.
Caminhar constante de lentos panos esvoaçantes
num dia sem vento ou desejo algum de servir mate gelado
aos fantasmas engasgados pelo desgaste de nada esperar.
As cobranças multiplicadas pelas décadas de silenciosas
amarguras, despetaladas as margaridas na última primavera
que ninguém lembra mais há quanto tempo se foi.
Os círculos se repetem e se repetem e se repetem
giram em torno de si mesmos, copiando o movimento
de um Planeta em extinção. Inesperada centrífuga de talheres
postos sobre uma mesa vazia de propósitos.
Dormem os viventes envaidecidos pelos sonhos.
Mal sabem que os olhos são cegos e que o ontem é repetido
mais de cem vezes, sob diferentes prismas e pacotes coloridos,
entre o real e o desejado humano, entre o saber
e a ignorância
total.
Dois extremos.
Entre eles, a humanidade toda.
À deriva...
28.04.2008- 19h30min
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