domingo, 20 de janeiro de 2008

Importância

O invólucro é só um papel a embalagem pra abrigar o que abarca além do céu. O invólucro é só um papel rasgado no primeiro minuto e no segundo, esquecido. O invólucro é só um papel cheiroso, reticente, colorido muito usado para o engodo de quase toda a gente. O invólucro é só um papel que contém o pertinente um frasco, um recipiente de vidro ou de concreto permanente. O invólucro é só um papel... Um papel de presente... 20.01.2008 - 23h48min

Nudez

Se a gente desvestir o medo,
o que sobra?
A gente...
A gente...
20.01.2008 - 23h42min

Cantar

Desafinado? Pode. Errando a letra? Também pode. Pode inventar? Pode. Pode improvisar?Também pode. Só o que não pode é o coração deixar lá de onde a gente veio. Esse tem que estar junto saltar da boca, rebolar na gente. O coração tem que dançar na escolhida canção no erro da afinação na nota, no escorregão. Cantar? Sempre pode. Com o coração... 20.01.2008 - 23h40min

Vale a pena, Pessoa...

Viver sempre vale a pena amar sempre vale a pena sorrir sempre vale a pena entregar-se sempre vale a pena versejar sempre vale a pena ainda que o sonho seja pequeno ainda que a via esburaque ainda que o tempo não ajude ainda que, na porta da venda, o burro empaque... Viver vale a pena... sorrir vale a pena... chorar vale a pena... sentir vale a pena... amar vale a pena... criar vale a pena... ouvir vale a pena... vale a pena de viver vale a vida de penar vale o intento de SER... 20.01.2008 - 22h28min

Genoma




Nos livros que eu li

encontrei previsão

encontrei solidão

encontrei beleza

e dispersão.

Nos livros que eu li

encontrei vida e verdade

sonho e realidade

sucesso e escuridão.

Nos livros que eu li

encontrei poesia e loucura

abraço apertado, ditadura

sossego e delícias e estrutura.

Nos livros que eu li

vi olhos malditos

vi olhos atentos

vi olhos bem vistos.

Nos livros que eu li

jamais encontrei

um décimo sequer da letra

um décimo sequer da conta

um décimo sequer da força

de "Genoma"...



20.01.2008 - 22h05min

(Para Roberto - "Genoma", meu livro de cabeceira...)

Natural


Faço versos como quem vai à feira.

Como quem se balança

no pneu pendurado na árvore

do quintal da casa do vizinho da direita.

Faço versos como quem toma banho

na água morna do chuveiro novo.

Escorrem pelo corpo as palavras aceitas

lavam a alma os melhores vocábulos escolhidos.

Faço versos como quem se vê ao espelho

sou eu e a imagem e o novo e o velho

cabelo em desalinho, olhos sonolentos,

escovar os dentes, o sono que sempre nego.

Faço versos como quem cuida de um filho

carinho, cuidado, afeição e desvelo

tudo no mesmo momento, de mãos dadas,

de braço dado, de orelhas em pé,

de olhos atentos e beijo na testa suada do menino.

Faço versos como quem faz amor

rebuscado amor na folha de papel sulfite

revoltado amor na tela brilhante do micro

correspondido amor mergulhado no seio

do corpo presente... do teu corpo presente...

Faço versos como quem acredita que faz poesia...





20.01.2008 - 21h46min


Pimenta!



Pimenta no meu dia
é tua sonora risada
é a linha já escrita
é o copo grande de água.
Pimenta no meu dia
é tempero indispensável
construção na tela fria
revisão na madrugada.
Pimenta no meu dia
é viagem estrada afora
cansaço, sono, descanso,
primavera, coberta, nevasca.
Pimenta no meu dia
é ardência na língua
quentura na boca
coleção de signos
explosão de louca.



20.01.2008 - 21h30min
(Imagem:http://www.rainhasdolar.com/media/1/20060921-spice_0909090.jpg)

Descoberta

Descobri-me, hoje, poeta de versos curtos:
EU TE AMO.
20.01.2008 -02h38min

Trespassar

Que coisa é essa que atravessa minha poesia? Nenhum verso suficiente para descrevê-la nenhum verbo inventado ainda, para abarcá-la nenhum suspiro dado que a demonstre inteira. Que coisa é essa que atravessa minha poesia? Uma falta de ar de repente como se todo o oxigênio do mundo,não fosse, ardesse nas narinas e não preenchesse os pulmões, o sangue, a alma, as retinas. Que coisa é essa que atravessa minha poesia? A voz, o tom, o acerto, tamanho, forma, discernimento, doçura, rouquidão, argumento princípio de saudades inerentes consolos de verdades bem presentes contornos de frases conseqüentes. Que coisa é essa que atravessa minha poesia e a põe em alerta, corpo inteiro versificado em rimas ou não, em vocábulos de línguas diferentes, e de um só coração? Que coisa é essa que atravessa a minha poesia? Paixão. 20.01.2008 - 02h34min