terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Passagem

O caos desacelera o passo da harmonia complica os atalhos já gastos desgosta o império erguido a dor. A ferro e fogo o calmante cala meu verso cala minha saliva cala a sílaba dispersa que procurava a folha branca pra, borboleta, pousar. O caos estanca o fluxo e a partícula é o meio do mundo que não vislumbro que não prevejo que não adivinho na borra de chá do fundo da xícara de café. O caos espanta a linha. O cúmulo do absurdo é não ter uma expressão que se encaixe entre meus dedos pr'eu saber que a vida excede qualquer textura ou texto ou intenção de orvalhar os dias com pimenta e sal... Um dezembro outonal... 16.12.2008 - 17h55min

Desistência

Não quero mais mudar o mundo.
Não quero mais impossíveis atos.
Não quero mais a ilusão
de que tudo pode,
afinal,
dar certo,
no final
(e quando chega esse tal de "final"?).
Não quero mais mudar o mundo.
Eu, hoje, órfã da minha idéia mais querida...
16.12.2008 - 17h10min

A frase

É esse silêncio que rasga o poema na intenção não alcançada e que agora paira no ar.... 16.12.2008 - 04h12min

O Grito

Publico um grito.
Escuta e aquiesce,
que os tempos dirão
do freio das tramas.
Além disso
silêncio...
Shhhhhh....
16.12.2008 - 04h10min

Rasura

Se rasgo o raio
e solto o verbo
sobre o corpo resvalo
em estrelas multicores,
é porque me faltam olhares
suficientes
que te alcancem os braços
tatuados de vertigem e sopro quente.
Se enveredo pelas alamedas
confortavelmente já conhecidas
é porque maltratam-me as retinas
as centelhas do fogo de ontem
que consumiu-me os arrepios
e as censuras
e os cuidados
e os limites todos da lucidez.
(Embriagada sede de loucura vã.)
Se te dou ouvidos e olhos e bocas
é porque me faltam as palavras
que enchem esses espaços vazios.
Cadarços abertos nos sapatos
esquecidos na soleira da porta
que deixamos de abrir.
Jaz ali o desejo imediato
e a sensação inusitada
do belo
do ralo
do sempiterno
assovio...
(Escuta o vento
vislumbra a fada.
Solidão é algema que mata
nas minhas mãos
o teu suor.
A veia que verte de TI...)
16.12.2008 - 04h07min

Movimento

Pareço parada.
O movimento me é;
estanco o palanque
que afronta meus brios.
O destino afoga o afago
que esperava por mim.
Não tenho sossego
embora pareça sempre a mesma...
16.12.2008 - 01h15min

Aflição

Esperei, de novo... Logo eu, que detesto a espera, que guardo o desejo secreto de ter todas as estações ao mesmo tempo só pra não ter que esperar pelas flores primaveris ou pelo orvalho frio das madrugadas de inverno ou pelo calor do sol forte de um verão escaldante ou pelas folhas secas dos plátanos cobrindo meus caminhos. Logo eu, que detesto a espera, sento aqui, debaixo dessas estrelas de mil cores e espero. Sina sem badalos. Espero... E nada... 16.12.2008 - 03h09min