domingo, 17 de janeiro de 2010

Noite






Adormeço, exausta, nos anéis da vida...



17.01.2010 - 21h37min

Retrato


Nas páginas do diário esquecido
rabisco flores e borboletas
sem pensar nem deliberar deveras.
São dez enfeites de sal
nas desordenadas linhas dos afetos.
As fotografias amarelecidas recordam
as coisas que vivi
e não dei importância
confinadas agora a pedaços de papel.
Antigos namorados
planos de barcos sem remos ou âncoras
plenitudes de instantes passados.
Vou competindo com o tempo
que passa
avaro.




17.01.2010 - 21h02min

Trama



Talvez as dicas
não precisem das horas
e as explicações tardias
sejam pingos dos 'is' resvalados
d'alguma insana profecia dormida.
Rabiscar telhados
é chover imprevistos.
A ingenuidade é irmã da insensatez
e acomete os poetas bêbados de rimas
sempre que os olhos deixarem de ver
o infortúnio das eras
nas palmas das mãos partidas.
Os versos longos
são frutos de linhas salientes
gás de lágrima
folha na planta do pé.
A cintura da vida
dispensa da castidade o cinto.
Assunto proibido
nas rodas da fortuna
ou nas dos excluídos
tanto faz
é tudo a mesma aberta lacuna.
As unhas esmaltadas
disfarçam o vício
a falta de sono repetida
a inspiração que não se afasta.
Os ocasos são mistérios mal resolvidos
acompanhados de letras opostas
rabiscadas à revelia
por algum cego sem lei.
A complexidade não resgata
nem assalta o ponto negro
na base do aveludado luto
que esconde os figos
e as feridas
abertas em cicatriz.



17.01.2010 - 20h12min
» Dom Quixote, de Vitor Reis »
http://fotolog.terra.com.br/viagensnoolhar

Bailar


Essencialmente é de luz e sombra
meu próximo passo de dança.
Nas pontas dos pés comprometo
a hora e a meia assumida.
Os plurais excessivos
discursaram no palco da vida
e esconderam os tules
e as atitudes pressentidas.
Acidentalmente as sapatilhas
alargam as estradas
e as tábuas do assoalho gasto.
Grandes as esteiras
escorregam nos perigos
e pintam de onças e picassos
as velhas medidas.
A brincadeira de roda e o banho de mangueira
perpetuam a estrela da infância perdida.

Nas pontas dos pés
valsam as luas.
Nostalgia.



17.01.2010 - 17h03min

Honorífico


Arremato a sensação única
de não estar sozinha.
Pesquiso alternativas outras
que levem à ordem seráfica,
das alusões aos lírios.
Um passo depois do outro.
Tranquilamente desperdiçados
os ninhos se misturam
na subida do morro.
Meu estilo é o caos concreto
a dança das cadeiras estáticas
os lados dos cubos espasmódicos
nas reviravoltas dos assoalhos dos mundos.
Conquisto os instrumentos das falas
e falho na aquisição de novas regras.
Sou exemplo de extermínio e sabotagem
no canto da planta do sapato de salto alto
quebrado na última dança. Tango.
Na bainha do dia
torço a expectativa da sala vazia.
Embrulho o papel
deixo pra lá os ajustes
e crio a seleção dos riscos.
Arrasto a prancheta
acomodo os gastos
desgasto as bordas das orelhas.
É meu livro que acumulo aos poucos
no meio das confusões e detalhes fortes.
Desmitifico a invenção da lua
e encontro a trégua
até a próxima jornada.
O encanto seguinte...





17.01.2010 - 15h