terça-feira, 25 de março de 2008
Despedida
Ajusto a saia na subida da escada
não caio nem titubeio na decisão
as fotos antigas ficam no álbum
esquecido dentro do armário
igualmente esquecido num canto
da sala de estar vazia.
Ajeito as malas e as tralhas
na porta de saída da casa.
As caixas e os depósitos de lembranças
amargas e distorcidas pela culpa
ficam no divã do analista
enriquecido pelas minhas moedas
sedentas de ouvinte e de opinião.
Estou seca e dura. Pedra pouco preciosa.
Sem lágrimas, dobro a esquina do medo
e não olho pra trás nem admito arrependimentos.
Nada carrego comigo além do desejo
de uma liberdade que já tive um dia.
Passo pelo espaço frio da falta de companhia.
Esse, velho conhecido.
Não ando nua. Não mais. Nunca mais.
As feridas expostas significam luta e sobrevivência.
Doeu, mas estou aqui.
As feridas expostas significam cautela agora.
E silêncio.
Nos primeiros 11 minutos, do dia 26.03.2008
O que será...
Embriago a alma com poesia e música
troco as pernas na dança esguia
de uma liberdade que desejo
e que ainda escorre entre meus dedos
água quente pré-filtrada pela areia alheia.
O egoísmo é uma forma selvagem
de violência doméstica.
Infrinjo as regras das boas maneiras.
Deito meu corpo cansado nos braços
do amigo do peito que me acompanha
diuturnamente e que me ama
apesar de saber-me bem.
Concentro as energias na fervura do sangue
nas veias que carregam meus últimos planos
na vermelhidão que incendeia meus cachos.
Não como, não durmo.
Há dias que os dias se sucedem como mantos
brancos de pura feitiçaria.
Há dias que as noites são turvas
e as curvas não escondem os desvios
das trilhas que me forçaram seguir.
Traço a rota do desvio no desvario
das troças que me obrigaram ouvir.
Agora é questão de honra e brio.
Por enquanto, ainda rondam os palhaços
no circo erguido pra despistar percepções.
Eu não durmo.
Eles haverão de dormir.
E então, irei...
e
será pra sempre....
25.03.2008 - 21h20min
Coragem
Foges. Te escondes dentro de ti mesmo.
Procuro por ti entre as letras lançadas
ao vento, colhidas pela folha de papel
que eu já conhecia...
Foges. Tens medo de qual de nós dois?
É de mim, ou de ti que te recolhes?
Um vento frio anuncia a chegada do outono
e a continuação da tua fuga.
Até quando?
25.03.2008 - 01h09min
Inclusão
As diferenças tantas, tamanhas, tacanhas...
As diferenças são cantos, arestas, volumes...
As diferenças são cordas que nos amarram ao outro,
ao invés de nos amarrarem ao poste da indiferença.
As diferenças são bem-vindas à minha vida,
à tua, aos espaços e planetas que nos circulam.
As diferenças nos fazem únicos e permanentes
ao mesmo tempo que nos mostram o quanto somos
i n t e r d e p e n d e n t e s.
Quais são as nossas diferenças? Idade, altura,
espaço ocupado na Terra, família, cultura,
que outro motivo nos impede de S E R M O S?
Que outra razão me impede
de te incluir
na minha vida?
Que outra razão te impede
de me incluir
na tua vida?
25.03.2008 - 01h03min
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