EU DEIXAREI QUE MORRA EM MIM O DESEJO
DE AMAR OS TEUS OLHOS QUE SÃO DOCES
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz
NÃO TE QUERO TER PORQUE
EM MEU SER ESTÁ TUDO TERMINADO.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como uma nódoa do passado.
EU DEIXAREI... TU IRÁS E ENCOSTARÁS
A TUA FACE EM OUTRA FACE.
TEUS DEDOS ENLAÇARÃO OUTROS DEDOS
E TU DESABROCHARÁS PARA A MADRUGADA
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei a minha face
na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos
da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
EU FICAREI SÓ
COMO OS VELEIROS NOS PORTOS SILENCIOSOS
MAS EU TE POSSUIREI MAIS QUE NINGUÉM
PORQUE PODEREI PARTIR
E TODAS AS LAMENTAÇÕES DO MAR,
DO VENTO, DO CÉU, DAS AVES, DAS ESTRELAS
SERÃO A TUA VOZ PRESENTE, A TUA VOZ AUSENTE,
A TUA VOZ SERENIZADA.
Vinicius de Moraes
27.06.2010 - manhãzinha
domingo, 27 de junho de 2010
Orinoco
Orinoco, deixa-me em tuas margens
daquela hora sem hora:
deixa-me como outrora partir despido
em tuas trevas batismais.
Orinoco de água escarlate,
deixa-me mergulhar as mãos que retornam
a tua maternidade, a teu transcurso,
rio de raças, pátria de raízes,
teu largo rumor, tua lâmina selvagem
vem de onde eu venho, das pobres
e altivas soledades, dum segredo
como um sangue, de uma silenciosa
mãe de argila.
(Pablo Neruda)
27.06.2010 - alta madrugada e dois ebooks de Neruda, abertos, diante de mim...
'(...) Talvez não vivi em mim mesmo, talvez vivi a vida dos outros.
Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre - como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado.
Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta'. Pablo Neruda
daquela hora sem hora:
deixa-me como outrora partir despido
em tuas trevas batismais.
Orinoco de água escarlate,
deixa-me mergulhar as mãos que retornam
a tua maternidade, a teu transcurso,
rio de raças, pátria de raízes,
teu largo rumor, tua lâmina selvagem
vem de onde eu venho, das pobres
e altivas soledades, dum segredo
como um sangue, de uma silenciosa
mãe de argila.
(Pablo Neruda)
27.06.2010 - alta madrugada e dois ebooks de Neruda, abertos, diante de mim...
'(...) Talvez não vivi em mim mesmo, talvez vivi a vida dos outros.
Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre - como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado.
Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta'. Pablo Neruda
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