Eu quero mudar minha cabeça.
Talvez deixá-la espetacularmente oca,
sem eco nenhum além do extraordinário silêncio.
Eu quero mudar o meu corpo.
Talvez deixá-lo maravilhosamente translúcido,
sem um ponto sequer de contato com o mundo.
O fundo do poço sem fundo.
Eu quero mudar os meus olhos.
Talvez torná-los assustadoramente rasos,
folhas brancas desnudas.
Eu quero mudar os meus versos.
Amuar minhas letras.
Amparar o túnel no fim da luz.
Calçar luvas de espelhos.
Eu quero mudar meu andar.
Envergar as pegadas na areia da lua
que eu construí pra mim
e nem sei se existe de fato.
Eu quero mudar de posição,
mudar de opinião,
mudar de casa e de língua.
Quero mudar as referências e as aparentes penitências
às quais me submeti.
Eu quero mudar minha pose de força e
ser o caco quebrado,
quebrantado,
da ponta da foice de face cortada.
Eu quero.
Quem disse que consigo?
12.02.2010