quinta-feira, 4 de março de 2010

Sobrevivência

Eu não sei se pinto o muro
se faço chacota da vida
se invento histórias mal contadas
se durmo três noites seguidas.

Eu não sei se é melhor esquecer
ou remediar de vez
talvez computar mais detalhes
ou escrever em bom português.

Eu não sei se me atiro na areia
ou se abro a boca e olho pro céu
se danço um tango no intervalo
ou se choro na chuva vestindo apenas um véu.

Eu não sei as razões da agonia
ou talvez possa enumerá-las todas
sem errar uma vírgula sequer.

Eu não sei das chaves nem dos portões
nem sequer eu sei
onde foi que eu errei.




As respostas se perderam no meio de um emaranhado de pontos de interrogação sem nenhuma outra explicação além da usual aquela mesma vaga em todas as várias ocasiões igualmente especiais exceto pelo fato de não serem perigosas em absoluto ainda que se equilibrassem sobre as linhas pintadas de amarelo bem no meio do asfalto ao longo de aproximadamente duzentos quilômetros que parecem há anos muito mais longos que a Muralha da China muito mais finos que um fio de cabelo branco pintado de vermelho religião





04.03.2010 - 23h21min

Fazer saber


Quem manda aviso é a vida. 
Que a morte não pode ser convencida 
a vir outra hora, quem sabe outro dia,
quem sabe nunca, 
talvez...
Mas a vida, essa coisa curta e tão bonita, 
papas na língua não tem. 
Fala e repete, em bom e alto som, 
que o sonho é agora
e a chance, na palma da mão
mora.
A mesma mão ferida
o mesmo lombo dormente
do escrito intocável,
escapado de um acidente.

Que sorte, meu Deus,
que bênção
ter sobrevivido...







04.03.2010 - 21h33min

Aflição













Ai. 




Que tristeza me deu. 
Que dor repentina
no fundo d'alma,
aperto agudo no peito. 
Sensação de impotência.
A vida é um fio.
De navalha.
Afiada.
Corta rente
e alguém desaparece.
Vez em quando manda aviso
e o vivente sente
só um vento
um vidro quebrado
uma ferragem retorcida.

Ai.
Que tristeza me deu,
assim num repente,
do que eu não vivi
e que quase se perdeu.






04.03.2010 - 20h38min