quinta-feira, 3 de maio de 2012

Movimento

Movem-se céus e terras
e livros desfolham
as árvores d'outono frio.
Comovem-se ilhas e abanos
refletem atitudes
e certas maneiras
de fabricar sonhos
em asas desiguais.
Erguem-se gessos e geleiras
dúvidas e divisões tantas
de rodeios e obséquios
guardados nas tardes de sol
de dentro de mim.

Pedaços de lírios
pétalas de frutas e cascalhos.

Rumores.

Tal vez...




Eu não canto.
Descabelo lãs e linhas
e agulhas trançadas de montanhas
e parreirais.
Não traduzo.
Embriago licores de interrogações
cascateadas
de rumores e espíritos leves,
esvoaçantes vestidos de seda
sem vento
brisa
ou sopro
que revele
o que protejo.
Escondo
Me
de
mim
e não sei d'onde colhi
as risadas
e as tentativas fracassadas
de dizer.
Eu não danço.
Reponho imperfeições
na minha cabeça franca
de fagulhas saudosas
e vermelhos feitiços
rasgados de tremores
e vírgulas
que não são respostas:
são beijos.

Eu, só




Toca inventar poesia.
Pincelar cá e acolá
um tantinho de cor do dia
feito manhã enluarada
ou sol posto na estrada
de pedras
e paus
e tropeços.
Toca desenhar soluções
e estruturas
nas paredes balouçantes
das pinguelas
que derretem
velas e veias
de palavras que não dizem
o que a areia

o pó e o desafio
dividem ao meio.
Uma parte é minha
a outra
achocolato
com ferro
fogo
cimento 
e bala de hortelã
e sigo adiante.

 




Farinhas


 Para meus amigos queridos: Carlos Farias, Claudinha Rebel e Lenita Lataes



Cambaleio
nas linhas firmes
do caderno extinto.
As tintas reunidas
ruminam sinais
irre
conhecíveis?
Farias outros versos
n'outros bares
ausentes de trapos
frangalhos d'outrora?
Sim, Carlos, Farias.
Farelos d'algodão ou cinzas
soprados das lareiras frias
apagadas freguesias
improvisos nos próximos quintais.
As canetas deslizam
nas curvas de rebeldia
de uma certa Claudinha,
na doçura inata
da nata da poesia: Lenita.
Tesouros e versos
nunca vem sós...
Saudosos trapos triplos
dos quais jamais
em tempo algum
desfarei os nós.