sexta-feira, 13 de junho de 2008

Não escrever

E se eu não quisesse mais escrever? Pra onde iriam meus desabafos meus espalhafatos, meus diários gritos? E se eu não tivesse o papel em branco na minha frente, na escrivaninha do quarto, pra sangrar nele a minha dor, o meu delírio, a espera insana, a arritmia? E se eu só quisesse esquecer como é que se junta as letras e se formam os versos e se formatam poemas assim, dessa forma ligeira, quase sem nem perceber? E se eu não me quisesse mais lida, e de repente fosse sumida sem ninguém mais de mim saber? E se eu descansasse, finalmente descansasse, dessa minha vontade de dizer? Ah, minhas letras viriam sozinhas acostumadas que estavam com a caneta, com as linhas que bordam, que guardam meus sentimentos todos, minhas solidões perdidas nas noites frias em que o orvalho lava a lágrima e a escuridão acena ao riso que não fere a garganta aflita. E se eu aposentasse a pena? Ai, ai, ai... O que seria de mim? 13.06.2008 - 22h37min

Falsidade

Qual é o sorriso que mais te agrada? Espera, deixa eu ver se tenho aqui. Ah, sim, é este, o aberto, que até parece sincero? Sim, é este mesmo que tenho pra te oferecer, hoje, aqui. Não? Queres que eu chore contigo as tuas agruras, os teus delírios, as dores que não pediste? Sim, tenho lágrimas aparentemente sinceras, aqui. E posso até te oferecer um lenço perfumado, bordado com as iniciais de alguém que nem conheço mas que leva o meu nome. É de um abraço que precisas? Tenho de todos os tipos cores, formas e pressões. Nem será necessário fazer força, nem será necessário esperar, nem será necessário questionar. Terei abraços, sorrisos, palavras de consolo, juras de amor eterno se for o caso. É só pedir. Trago tudo aqui... 13.06.2008 - 14h50min

Só mais uma

Decidi. Hoje é meu último dia. Amanhã não existirei mais. Outra pessoa levantará da cama, em meu lugar. Estou exausta. Desisto, hoje, de ser quem eu fui até a presente data. Sempre fui diferente. Sempre joguei limpo. Sempre fui sincera. Contei quem eu era. Nunca experimentei uma máscara. Não sei que peso elas têm (talvez até sejam confortáveis!). Pois cansei de não encontrar lugar pra mim. Cansei de ser diferente. Cansei de ser apenas quem eu era. E não serei mais. Hoje é meu último dia. Amanhã não existirei mais. Amanhecerei mudada. Mascarada. Dissimulada. Fingida. Mentirosa. Assim pode até ser que eu tenha dificuldade de encontrar um lugar pra mim, posto estarem praticamente todos ocupados, mas serei apenas mais uma entre os milhares e milhares e milhares de outros seres com o dito perfil. Não consegui pagar o preço altíssimo cobrado de quem não finge. Não tive meios de sobreviver sozinha. Não dormi bem, a despeito da minha consciência tranqüila. Não fui mais feliz por ser mais sincera. Não tive mais sorte por não mentir. Não respirei aliviada por estar com a cara limpa. Máscaras. Hoje gastarei o dia escolhendo, separando e preparando um belo estoque de máscaras para todas as ocasiões. Ensaiarei as mentiras mais convincentes, os sorrisos mais cínicos e os mehores fingimentos da praça. Tive ótimos exemplos até agora. Sou inteligente (aliás, devo fingir burrice, também, a partir de amanhã, mas hoje ainda posso admitir esse traço pouco valorizado no mundo), e sei bem quais são as formas de mentir, enganar, ludibriar, iludir, dissimular e todos os verbos considerados mais sensacionais e muito usados por esse mundo das pessoas (de Deus é que não é). Respirarei fundo, amanhã, e sairei à rua, com minhas máscaras tinindo de novas. Exibirei todas elas. Distribuirei falsidades de todas as formas, cores, jeitos e tamanhos. E dormirei, finalmente, em paz. Hoje é meu último dia. Amanhã, no meu lugar, uma mentira andará pelas ruas e responderá quando chamarem o meu nome. Porque eu não existirei mais. Terei morrido esta noite, de pura exaustão... 13.06.2008 - 14h

Amanhã?

E hoje foi só mais um dia depois da noite escura que manchou a face da vida hoje foi só mais um dia. Ontem esvaiu-se na lembrança ficou pra trás, depois da curva e não recebe mais visitas. Hoje escorrendo-me das mãos os risos se perdendo o brilho se apagando o som dos passos se distanciando. Hoje escorre-me das mãos... Só mais um dia. Até que o amanhã nasça pra começar tudo outra vez... Aos 15 minutos de 13.06.2008Um novo dia...