sexta-feira, 26 de junho de 2009

Queda

Caio eu cais tu caimos nós na mesma curva do rio e eu rio da linha torta que amortece a queda. Caio eu cais tu não seria mais acertado dizer que o mundo é cá no chão ao invés de alto ser? Caiamos nós na vertiginosa viagem de ir-se sumindo aos poucos como quem se esvai em fumaça e perfume barato. Caio eu e meus ferrolhos minhas tralhas meus tesouros. Cais tu e tuas bolhas tuas folhas amassadas tuas preces amanhecidas. Caimos nós no mesmo abismo imposto ninguém sabe d'onde ninguém sabe por que. Uma pá de cal sobre o buraco aberto da ferida. Sem pena ou esquina ou motivo algum que faça valer a vontade de sair daqui e resistir à dormência dos membros à partilha do remédio amargo ao aceno cru de adeus. Caio eu. Cais tu. E o cais do porto é um quintal de videiras e pontas de lanças que balançam sob a chuva. Uma chuva de gotículas salgadas que eu, de mim, doei pra secura do passo que eu dei. Caio eu. Mas tu... 26.06.2009 - 04h (reescrita) Ando com uma vontade louca de não levantar mais depois dessa última queda...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Último suspiro

E eu me concedi o direito de calar calei a voz calei a dor calei o absurdo de abster-me de dizer. Fechei os olhos, a boca, os ouvidos, curei os rastros apaguei as cicatrizes todas. Verti os sonhos nas taças do medo que emergiu do precipício onde resolvi me libertar. Calei a secretária eletrônica e as luzes dos faróis as fumaças dos cigarros e os sentidos e os surtos e os lençóis. Calei o silêncio. Pr'onde sopro, agora, os véus? Ausente de tempestades os vendavais são delírios acesos no meio dos quintais das famílias abastadas que se afastam e me arrastam no redemoinho das convenções. Pr'onde sopro, agora, os véus? 17.06.2009 - 0h45min Um tênue e extenuado último suspiro

terça-feira, 16 de junho de 2009

Ordem dos Elementais

Ordeno a história dispersa
presenteio o futuro com o que construo
a partir de recortes do passado remoto.
Removo as teias de aranha dos quadros
guardados desde o tempo da escravidão dos olhos
quando nada era permitido
quando nada era lido
quando nada era declarado.
Mas os Elementos adormecidos despertam
a dificuldade fecunda a terra
as peças do quebra cabeças se juntam
e os fortes prevalecem
com outros nomes
com outras peles
com outros motes.
A noite, grávida de assuntos,
ávida de prazeres,
delira ao alvorecer:
eles estão lá,
os criadores,
prontos pra nascer.
Na Idade das Trevas,
um ponto de luz ELEMENTAL.
16.06.2009 - 20h05min

RESPOSTA

Não sei quem és, nem a que vieste, mas parece que pensas saber da minha vida. Pensas, pq de fato não o sabes. Tanto é que consideraste estar eu desabafando por um motivo criado pela tua imaginação. Fértil imaginação, que se atreve a entrar na minha vida e dizer coisas que não me interessam em absoluto. Se desabafo, quem te disse que é pelo motivo descrito por ti? Sugiro que, ao ler um poema, procures nele algo que fale alto dentro de ti; não tente perscrutar o poeta ou adivinhar-lhe as razões e os nomes de seus objetos de inspiração. Não conseguirias, deveras. Ainda que possas apostar que sim.
Os jargões usados por ti denunciam teu lugar. E teu lugar, certamente, é bem longe de meus motivos, e de minha vida. De todas as minhas vidas.
Dispenso teus comentários.
16.06.2009 - 18h30min
*Perdoem-me os leitores que tão simpaticamente comentam meus poemas, no blog ou por mail. Prefiro deixar claro para esse tipo de pessoa, o que penso a respeito desse tipo de atitude.
Tenho certeza de que vocês, que acompanham e apreciam minha arte, irão entender...
Este assunto, a partir do próximo minuto, pra mim, estará encerrado.
E vamos em frente...

Nitidez

As sombras de sol insípidas
nas solas dos sapatos
de lama pintados
insistentes crueldades limitantes
nas molduras dos quadros hostis.
Os quadris encaixam fluidos
e lembranças esvaem melodias.
Consigo hibernar das dores
e as pernas bambas afogam os olhos
que espreitam os restos de luz.
Transfiro canções do peito
e meus lábios emudecem na tua boca.
A passagem dos minutos
convence a chegada da hora.
Arrepiam-se as gramas
e os pássaros gorjeiam paralisias.
Imagens se fundem
construções sem força se erguem do nada
emergem das linhas verdes
da tua íris clara
asas de um futuro querido.
Meço a distância que já conheço
e desisto de partir.
Meu sangue é teu
oferenda voluntariamente pensada
bordada nas dobras de tuas vestes
nos couros que tua pele protegem
no teu passo, na tua palavra, nas tuas escoras.
Eu, tua.
16.06.2009 - 16h31min

Contigo

Se são nítidas
as impressões das lâmpadas apagadas
na estrada que desconheço
e se tateio o espaço
à procura do calor que não alcanço,
se bendigo o teu nome
e se sustento meus caprichos,
se lanço sementes de sonhos
e se abrigo tua insegurança,
se moro num projeto distante
e se assumo tuas lutas
como se minhas fossem,
se encontro a tarde calada
e se entendo teus tímidos sinais,
se espero pacientemente
pelo vão do tempo escasso,
se atraso os afazeres
e enfeito de cuidados
as horas dos sustos
lembrando que as quedas fortalecem
e que não há motivo para sofrimento,
se jogo e permaneço,
se não durmo, se estremeço,
se molho minhas entranhas de desejo,
se escolho acreditar nas tuas escolhas
se opto por andar contigo
e se abraço tuas causas
porque elas estão em ti
e tu carregas meu peito,
então não temo, nem desisto.
Estar contigo é o que me basta.
16.06.2009 - 14h10min

terça-feira, 9 de junho de 2009

Desabafo

Banana? Tomate? Remédio de farmácia Amitriptilina E sei mais lá o que.... Uma tonelada de bananas Dois mil quilos de tomate, suco de comprimidos compreensão e compressas de panos úmidos. Tapo o sol com a peneira e peneiro o ouro que escorre da manga do pólen do girassol que virou anjinho e me trouxe um sopro de descanso nesse raio de deprê... Uma tonelada de Rivotril com suco de tomate e batida de banana caturra misturada com cenoura e leite gelado nesse frio do sul o meu sul pólo sul agora nessa minha bipolaridade latente. Haja bananas haja tomates haja farmácias haja ombros e ouvidos e abraços e travesseiros de penas e provas de motivos pra sobreviver. O Sono me suga e a fome me devora nesse pólo de agora.... Quanto tempo, pra muda de pele da cobra? Não sei; ninguém sabe, mas as bananas existem e os tomates também. Vamos aos sucos espremer meu sangue no copo transparente da bula do corpo esguio que eu tento carregar todas as manhãs inventando novas manhas pra desviar dos bueiros enormes que se abriram no meio do caminho; pois é a pedra de Drummond virou bueiro nessa minha depressão... E haja bananas.... 09.06.2009 - 2h Ainda não é uma volta.... só um desabafo

sábado, 6 de junho de 2009

QUERIDOS LEITORES:

Ficarei algum tempo fora do ar, para resolver algumas coisinhas de dentro de mim. Organização interna...rs... Não sei quanto tempo precisarei pra essa faxina. Costumo ser demorada nas minhas 'arrumações'. Mas voltarei qualquer hora dessas, renovada, estejam certos. Tenho certeza de que vocês ficarão bem. POESIA SEMPRE!!!!!!! Mil beijos e até a volta...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Definição

Poesia é uma lágrima que virou verso e pingou.... 05.06.2009 - 20h11min

Tempo

Na primeira metade do tempo menti que podia. Na segunda metade fingi que sabia. Na terceira metade fiquei, à revelia. Na quarta metade sorvi o peso do dia. Na quinta metade descobri que sofria. Na sexta, desisti... De quantas metades precisa um pretérito mais-que-perfeito? 05.06.2009 - 20h02min

Contração

Persigo o horizonte caçada ininterrupta coberta de abelhas mortas e estradas de areia movediça. Imito o som que não distingo afogo as mágoas na cachoeira do destino e nas lágrimas que guardei. Exercito meus dotes culinários e produzo maravilhas incomunicáveis. Apimento meu sangue na moldura do espelho e devoro os sinais que não entendo porque sou felina e ferina e faminta de imagens coletivas que não sou capaz de discernir. Engulo a fama de louca. Aprendiz de marinheiro, navego em terra firme. Passeio os olhos pelas promessas apenas suspeitas penduradas nas paredes da sala de trás do parto da rua. Misturo mel e sal sobre uma fatia de pão seco. Assalto o medo e machuco a queda instintiva. A multidão vazia abstrai meus brios sufoca meus estrondos encolhe meus nervos na tentativa absurda de calar-me o chão. Tremem meus pentes nas fronhas das misturas dos dias escusos. Escondo o escuro. Estrela dolorida de contração. 05.06.2009 - 19h16min

Criação

Pesco palavras
de terceiras línguas.
A embocadura do sax
não encaixa nas veias avessas
e nas filas sem senha
que assanham os botecos e os livretos
de impostores e viciados pastos
secos de armadilhas e ardis.
Quebram-se as passarelas enevoadas
de quentes hálitos cafeínicos
e chocolates brancos quebrados ao meio
derretidos nos bolsos vermelhos
de sonhos imperfeitos sabores impensados
nem um pouco sutis.
Esmiuço as colunas gráficas
do acervo de insistências
e despedidas acumuladas
pra desmontar motivos
e compreender propósitos
que escorreram dos minutos cegos
em que atentar contra meus próprios versos eu quis.
As mesmas palavras pescadas
de terceiras línguas
em veias devassas
sem senhas
ou sonhos
ou assanhados ardis.
As mesmas palavras
redentoras de poemas
e de problemas que brotam sem trégua
das línguas de terceiros
nos traços que eu fiz.
Assustadoras armadilhas senis.
05.06.2009 - 16h12min

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Mea Culpa

Produzo minha poesia como quem ergue muros ou edifica uma cidade de letras e vocábulos ocos rebelados contra um poder que invade minhas entranhas e os caminhos de meu sangue mergulhado de solidão. Planto curativos nas minhas feridas vertentes de sonhos e saltos nascentes de representações e obstáculos e raízes e cordões. Posto as folhas brancas nas gavetas das curvas vazias e respondo ao sol escondido que não quero nada. Um tiro no claro da noite de brumas... Corpo inerte da construção erigida atrás de outra porta escancarada. Emudeço a escolha e a raça dôo o acento e assento meu lápis no topo da lista que não escrevi. Minha poesia é um muro que divide uma cidade de letras escorridas de sangue de véus e de verdades nuas. Minha poesia é um soco no estômago de dentro de mim pra desviar a dor a oca dor ventríloqua uma louca dor poetada... 04.06.2009 - 22h08min

Farfala

Poesia é um verso que virou lágrima ... e voou ... 04.06.2009 - 18h57min

Chocolate

E o chocolate de bule não leu a bula que informava célere, como todas as bulas do mundo: "Não me tome não me dome não me domine não me trema nem me tema que sou demônio ou bálsamo amargo que te cobre de doce e te adocica a fome de quê? quem poderá saber? talvez de força talvez de dores talvez de formas ou de falta de cores quem poderá saber? os sintomas não mentem nem desmentem deveras o que não soa da flauta nem dá conta da falta que te corta e flutua. Não me dome não me tome não me forme não me informe não me insone nem me ame. Não. Não me ame" O bule não achocolata nem o chocolate bule embolo o bolor e choco a visão do leitor. Desavisado leitor de versos tortos... 04.06.2009 - 22h

Círculo (vicioso?)

O eco espera o grito o rito não assunta o prêmio não delira o pêndulo espreita o rumo o prumo incendeia a culpa a catapulta não define a linha a dupla não definha a sobra o sopro esfria o leite o luto esconde o enfeite a luta esfrega o azeite o verso não tem medalha a migalha não tem respeito o remendo emenda a hora a honra ocorre sem medo o cinto não reclama os dentes os pentes não alisam os pontos o peito deleita o amigo o ronco mente o sono o ranço pinga o sonho o som dança a valsa a vala abraça o corpo o copo afasta o beijo o susto afasta o desejo o medo afasta a meta o modo afasta a liga e eu? 04.06.2009 - 21h11min

terça-feira, 2 de junho de 2009

Lembrança

Rasgo a alma o peito a gana no arame farpado dos anos que me viciam de vida. Chuto o balde quebro os elos alicio as sombras da palidez nas faces do espelho que arrebento. Observo os estilhaços da imagem que se forma de quebra-cabeças depois das fronhas depois das presilhas abertas das poses pedidas das fotos oferecidas do corpo exposto das veias expostas do sangue exposto do sonho escorrido. Depois... Prendo as audácias e reconheço o erro - o meu erro tenho a posse dele! - eu e minha vasta experiência. Apesar das cicatrizes erro... Um caco do espelho na capa do álbum coleção das minhas dores... 02.06.2009 - 23h40min

Finito

Era uma vez uma sonhadora Era uma vez Era... 02.06.2009 - 11h24min Feliz Aniversário