quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Laço
Um único meio de contato
e o laço rompido
num repente.
Assim, meio sem jeito,
meio sem razão,
meio sem susto,
ou saturado dele.
O laço rompido
num repente.
Um botão desligado
um fio cortado
um frio no estômago
e o laço rompido
assim
num repente.
Deserto escarrado na areia.
Frequente cordão cedido
solto n'água desnuda.
E o laço rompido
assim
num repente.
Parêntese aberto
perdida a direção do laço
rompido
repente.
Rebento de silêncio
não-anunciado.
Etéreo sonho desperto.
Laço rompido num repente.
Evidente primogênito da dor
o tal laço
rompido
num repente.
Ouve, ao longe, muito claro
muito nítido
muito limpo
o barulho da janela que se fecha.
O solista já não canta.
Setembro não terá flores.
Só um laço
rompido
num repente.
19.08.2009 - 21h37min
Coletivo
Encontramos curvas nos labirintos da mente
ou desmentimos os cravos das madeiras
que insistem em resistir ao tempo.
Enfrentamos abraços de polvos
enevoadas carcaças de pólvoras
amanhecidas nas conchas das mãos em brasa.
Esquecemos por onde andaram nossos pés
ou os açúcares das letras pintadas nas paredes
das impertinências fantasticamente criadas
pra desviar as canções caladas nas gargantas
dos outros, que não conhecemos.
Espantamos os fatos nas pontas das canetas
e embriagamos as vertentes de perguntas
e palpitantes vôos de trombetas.
Sacrificamos o sangue de terceiros
porque do nosso já não há gota
nem nada mais que valha um níquel.
Mostramos as fontes no brilho das frontes
postadas nas portas dos orfanatos que não visitamos
dos quais tampouco ouvimos falar
no raso das línguas superficialmente ornadas
de pétalas vermelhas de flores e coloridos vasos alheios.
Montamos quebra-cabeças antigos
e entoamos recitais dos quais não lembramos
nem queremos
nem questão faríamos
não fossem os delírios de uma sociedade anônima
ou de uma lucidez entranhada nas veias
envelhecida de pouco uso.
Caminhamos a lentos passos trôpegos
e não escolhemos o destino
ele é que nos separa do trigo;
joio, nós, os obtusos seres
que perambulam nas ruas de pedras
empertigados de tolos orgulhos
que morrerão conosco
ou antes de nós.
Té que o controle se esgote
e o sol brote das raízes
jamais plantadas
por mãos nunca conhecidas.
19.08.2009 - 21h26min
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