Não quero paz.
Eu quero o que existe.
O desassossego, a procura,
o instante que se perde
num piscar de olhos.
Eu quero a pressa,
a incerteza, a incompletude.
O que não vi,
o que não sei,
o que jamais serei.
Eu quero o fundo
do poço e da alma.
Eu quero o risco,
o rabisco, a salsa,
a rumba, o merengue,
de preferência cor de rosa.
Eu quero algodão doce
derretendo na mão.
Calor de 40 graus,
neve em pleno verão.
Eu quero sede de beijo,
abraço que não termina,
risada tão alta,
tão longa, tão nossa,
que seja quase um desatino.
Eu quero a manhã ensolarada
depois da noite, em Porto Alegre.
Eu quero o nervoso
na tua chegada,
quero o amor que se bebe.
E quero antes e principalmente
essa mania de querer tudo
o que tenho direito
e mais um pouco.
Além do que alcanço,
além do que mereço.
Eu não quero a paz.
Eu quero o estorvo,
o torto, o turvo, o maldito.
Quero a tua insanidade
as vozes que ouvimos
as mentes brilhantes
que cercam o infinito.
Eu quero o vôo da águia
sobre a rica planície.
Eu quero a língua
da serpente
a peçonha da aranha
o veneno da vida
na minha garganta
no meio da minha lida.
Eu quero te ver chegando
de braços abertos pra mim.
Eu não quero a paz.
Eu quero tudo
menos paz....
07.02.2008 - 23h05min
(Alina e Simone Aver)