quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cegueira

Aumentei o tamanho dos fatos deliciei a retina úmida nos olhos secos de inverno primaveril; concordei com as eras e as heras invadiram os selos; solucionei mistérios importunei ausências retornei à adolescência adormecida; despenteei as horas despenquei dos sentidos santifiquei orvalhos amassei o pão que não comi nem precisei. Ataquei as franjas dos minutos desvencilhei a garganta tranquei as mordaças abri as janelas e as vidraças. E nada vi... 30.09.09 - 21h (... mas ouvi um riso de criança e foi só por isso que sobrevivi...)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Emocionar-se

Gosto das letras que emocionam gosto de não poder conter as lágrimas essas gotinhas insistentes que aparecem sem licença e despudoradamente assumem o comando dos nossos olhos pra não falar do coração... Gosto mesmo quando as tais gotinhas chegam a existir sem aparecer - quantos outros sentires guardamos que jamais aparecerão aos outros? - mas inundam o peito de tal maneira que é como se tivéssemos chorado a vida inteira. Exagero? Qual nada! É assim que deve ser a emoção verdadeira. Aquela coisinha miúda que não desgruda que é eterna e que tanto bem faz à gente. Experimente.... 28.09.09 - 21h40min

Poetar

Quando a poesia te corre nas veias basta uma vírgula um riso um sal nos olhos um colírio qualquer uma flor uma frase uma alegria mínima uma tristeza mínima uma agonia mínima; basta uma cor de sangue ou um sangue azul talvez só o tipo do teu sangue; talvez só um nervosismo repente ou um repentino aperto de mãos ou uma partida num repente ou um repartido aparente, pra fazer verter essa coisa que não se explica mas que te habita e te domina e te toma num instante sem licença ou aviso: in-verso... 28.09.09 - 02h13min

Promessa

Se não parar de chover
juro que viro Sol...
28.09.09 - 02h07min

Imagem

Um sopro de lua estrelou-me a pele de arrepios derreteu-me os suores noturnos desenhou-me a dança no ventre da noite. Nas pontas dos pés o sono não veio. Nas pontas dos pés Morpheu insone foi meu par ... 28.09.09 - 02h04min

Insolente insônia

Não dormir hoje
é quase como impedir
que a manhã rompa a noite
e outro dia comece tudo de novo.
Não dormir hoje
é iludir-se que o hoje não termine
de puro medo do que amanhã haverá.
Amanhã não guarda
nada além de mistérios
e são eles que afogam os delírios
são eles que fazem tudo se transformar
em possíveis eventos
em passíveis eventos
em plausíveis eventos
inventos
intentos
insultos.
Amanhã torna tudo palpável
ao virar hoje
e matar o hoje
que se perdeu;
com ele, tudo o que foi meu.
Amanhã mitifica hoje
pinta de um colorido inexistente
- e é tão pouco provável o inatingível -.
Não dormir hoje
é perpetuar a hora.
Ou não...
01h58min - 28.09.09

Desconcerto

Não preciso de permissão pra sonhar nem ele precisa da minha, pra invadir-me as noites; ele, o sonho, esse monstro diuturno esse monte cancioneiro. Provoco ondas na relva pranteio curvas na relva pressinto ossos na relva. Vendaval assusta os cães raivosos arranca os telhados das luas despenteia as melenas dos leões prepara a travessia d'outra noite insone povoada de vícios e tramelas nas janelas velhas. Caminho aberto nem sempre é certo nem sempre é seguro. Muitas vezes, melhor lavar a roupa antes de despudorar-se no banho de chuva fria escorrida das cordas do violão desafinado que jamais aprendi a cantar... Desatino desconcerto sonho ou loucura? 28.09.09 - 01h20min

Tempero

Hei de arredondar as arestas do poço seco da garganta vazia como nascem todas as estrelas nas noites de inverno ou de verão ou de perfumada primavera sem vigílias ou restos ou desconhecidos rostos nos panos rotos das cortinas levadas pelos ventos tortos que balançam meus cabelos encaracolados de revoltas e reviravoltas entre teus dedos de lua e vertigem ardida. Pimenta e sal. Aos 59 minutos do dia 28.09.09

Entre a palavra e o silêncio

Tem vezes que só o que eu quero é calar.
Não brota de mim um único verso;
sequer um verso amargo.
Nada.
Nenhuma frase que se aproveite.
Nenhuma palavra que provoque outras ao grito.
Nenhum desejo de dizer.
O silêncio, então, é meu companheiro,
e mergulha comigo numa mudez severa,
quase doída,
completamente doida,
daquela doideira
que os outros consideram normalidade.
Porque a minha palavra é louca.
E quando ela cala,
eu até pareço igual aos que me cercam:
o orvalho me molha,
a chuva me molha,
o suor me molha.
Quando ela fala
eu sou outra,
eu não existo:
a água me adormece,
o calor me atiça,
o tiro me aviva.
Quando a palavra me fala,
sou qualquer coisa que triunfa,
n'algum ponto que ninguém desvenda,
porque não encontra,
e não encontra porque está perdido
entre as folhas amareladas
do livro da minha vida torta.
A mesma vida que de vez em quando
se dá o direito de calar,
e,
por instantes,
se acreditar parte d'algo maior,
té que a torrente de vocábulos
exploda de novo
destrua o dique
e me obrigue a abraçar
minha assumida sina:
a solidão completa...
Aos 49 minutos do dia 28.09.09

Volta

Volto assim, meio sonolenta
meio dispersa
meio confusa
como desnorteados são meus dias
e meus pensamentos de versos difusos.
Volto assim, meio extremada
que não sou mulher de meios:
meias palavras
meias usuras
meias entregas
nunca.
Volto assim, meio desconfiada
e afio as facas sem gumes
nos lumes das estrelas vagas.
Volto assim, meio voraz
de bênçãos
de beijos
de balanços gerais.
Volto aos poucos
pra chegar inteira
e preferir ficar.
Volto...
Aos 37 minutos do dia 28.09.2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Omertà

Shhhhhhhhhhhhhhhh 25.09.09-22h58min

Na cara

Vergonha na cara é coisa que não tenho. Na cara tenho uma pinta uma dúzia de rugas e um brilho oscilante que se acende quando TI vê... Vergonha não sei onde foi nem sei se sequer existiu. Na cara tenho uma pinta onde planto uma dúzia de estrelas e oscilantes rugas acesas. Anis. Quando TI vejo ou TI sonho ou TI adivinho. Ou... (Tá na cara, tchê...) 25.09.09 - 22h26min

Cicatriz

Carga de telhas quebradas nas calhas enluaradas de jóias castigos de pontas de vidros em vôos de asas sem anjos quadrantes de brotos de vagens sem caldos doces ou caveiras dispostas em círculos ou raios de sol. Amanhece num rasgo o experimentado futuro inspirador... 25.09.09 - 22h10min

Reivindico o vento....

Reivindico o direito de ficar muda de não ver nascer a inspiração de sobreviver ereta e tranquila sem sobressaltos ou ilusões. Reivindico um quarto de lua e uma dose de coragem na veia de rum pra nunca mais sacrificar o espelho na imagem que não vi se formar. Reivindico a vontade de sol e calor a moldura do dia e o brilho da madrugada a canção sofrida e a voz do fantasma desnudo. Reivindico a claridade a clareza a clarividência a verve a virtude o vento o vento... 25.09.09 - 22h

Sei não...

Houve um tempo em que minha poesia foi um suspiro de dor de alívio de tensão... sei não... Sei não onde foi parar o verso que não escrevi a rima que ficou no ar o riso que não explodi o suspiro... sei não... A caneta não arrisca o verbo nem o antes nem o depois do que já não espero... sei não... Sequei... Sequei? Sei não não sei... 25.09.09 - 21h

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Extinta

Na última chuva forte afogou-se minha poesia. Triste dia triste dia... 11.09.09 - 15h17min

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Batom

Batom vermelho. Mais que sedução, força. De batom vermelho, enfrento o trânsito e transito entre os passantes desconhecidos, que nem suspeitam quem sou. Mais que colorir o rosto, minh'alma se ilumina de sangue quente. O mesmo sangue passional que me ferve nas veias expostas, versos do meu próximo poema. Uma leve melancolia me acompanha. Essa mesma que nasceu comigo, e comigo entrará no céu. De boca vermelha, ouço Maysa: "Ne Me Quitte Pas". Um adeus vermelho, sangrado, pulsante, vital. Um quase não-adeus... De boca vermelha, de alma vermelha, de vermelhas faces, abro a porta e recebo de braços abertos as flores da vida: pétalas de rosas vermelhas, ainda que ladeadas de espinhos, lindas, perfeitas, perfumadas. Vale a pena... 10.09.2009 - 15h37min