sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Transição

Perco-me na cancela
o corredor estreito aperta a cintura fina da noite
e a poesia me oferece o bote salva-vidas.

(A mulher acende um foco de incêndio
na altura do ventre descoberto).

Transcrevo outras linhas
machuco a folha lisa
desobstruo os pontos que me cegam
temo pelos outros
mas não desisto.
Requisito o direito à rasura
rastreio as pegadas
e faço versos
pra contar minhas flores
regadas por teus beijos.




25.02.2011 - 21h

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Afeto

Quase 30 anos depois...

Atos lícitos
abotoados a lembranças
guardadas na caixa
de preciosidades
de outrora.
Renovar ansiedades
as saudades dos dias
orvalhados ósculos
inesquecíveis vidas.
A minha
a tua
à meia noite costuradas
numa praça
vazia de tudo
menos de afetos.
Esses perduram...





24.02.2011 - 19h

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cançoneta

Mais uma demão

de tinta na noite
pra enfeitar o sono

e inventar palavras

de dizer 'te amo'.








10.02.2011 - 02h

Memória

Ponto exclusivo
específico porto
acerto selado
acelerado posto
todo avesso é versado
composição de começo
corpo
oposição
laço


es-tre-me-ço...




10.02.2011 - 01h54min

Vela

Escorro
cera de vela ardente
derreto-me em substâncias febris.
Vidente
corro
antes que me delire o espaço e
eu seja apenas lembrança
do que tive.
Partes minhas me coram pedaços.
Ardem-me.
Não sobro.
Um sopro me funde contigo.
Um.







10.02.2011 - 01h07min

Escancarada janela

À flor dos nervos
a pele dança
a luz acesa
o frio na espinha
a chuva vindo
pingo d'água na calha lenta

dentro

cara limpa
tudo agora





leite fervendo.







Aos 47 minutos do dia 10.02.2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Operar

Planar





fugir de estorvos
encruzilhar-se
recuperar os pontos
sustentar as voltas
arrefecer-se
sombrear ausências
deflagrar afetos
aparelhar conquistas




descansar.






06.02.2011 - 16h21min

Valor

Alguns instantes
de tão simples
de tão doces
são tal flores brancas
no vaso transparente
em cima da pia
na casa da "Nona" velhinha
que já não diz coisa com coisa
mas que sabe distinguir
perfeitamente
margaridas
de
crisântemos.




06.02.2011 - 05h


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Vestimenta

De tons claros
os bolsos
esvaídos de razões
transbordam efeitos
simulam situações
sem chaves
sem documentos
sem propósitos
escoram os cotovelos
nos cantos da pias
meditam impróprias
alucinações
rebentam diques
indicam luas
sabotam escolhas.


Asmangasrasgadasdacamisabrigampeloespaçoabertoqueevitacontatoeespreguiçaachamaacesasobreoabrigo









04.02.2011 - 14h

No sexto dia, poetou

No sexto dia
amanhecido de vapores e sonolências
bate à porta um não-sei-que
que desmente o dito e o não-dito.
No sexto dia
há vestígios de clemência
suicidados logo ali, onde as colheres tem açúcar
e onde as línguas dizem o que a ninguém atinge.
No sexto dia
as campanhas compram pirulitos e hortelãs
os comportamentos saem das peles,
cobras trituradas em gaiolas frias
pra virar delírio e maçã.


As amarras se soltam
no sexto dia
e eu acordo pra vida:
um punhado de letras
na mão esquerda
na direita, uma palma vazia.







04.02.2011 - 05h

Insônia II

Pensando bem, devo ter mesmo um pé no outro lado do mundo


quando dormes, acordo em vão

quando durmo envolta em nuvens

teu corpo, descansado, de sol a sol me pune

por não existir contigo.
 
 
 
 
 
04.02.2011 - 03h50min

Apagão

Aqui tem luz


mesmo que a luz apagasse

haveria a lúcida, a límpida claridade

de todas as estrelas...
 
 
 
04.02.2011 - 03h43min

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Simplicidade




Mãos dadas
vento no rosto
abraço apertado
cordão de couro.
Canto de grilo
cadeira no terraço
cadeira de palha
cadeira de balanço.
Bichinho dormindo
motorista sorrindo
café com pão.

O jeito simples, comum, anônimo.

A magia, na quase extinção.





01.02.11 - 15h02min