terça-feira, 20 de maio de 2008

Quem eu sou


Alguns me consideram uma verdadeira chata.

Outros me acham pretensiosa,

mandona, autoritária.

Terceiros me vêem como humanista,

ou

contradição das contradições:

incendiária.

Quartos me dormem.

Quintos me acordam.

Sextos me sacodem.

Sétimos me dominam.

Oitavos me devoram.

Nonos me abominam.

Décimos... sei lá...


Quanto a mim, quando me vejo

me penso bem assim:

nem tão santa, nem tão bizarra.

Sou de estrela um lampejo

cantoria de cigarra.

Sou pirilampo travesso

que dança entre os festejos

de um São João deserto.

Eu sou assim.

Quem gostar de mim, que goste.

Quem não gostar, que se baste.


Eu sou o pó e a estrada juntas

o vento, o sol, a espuma, a prataria.

Não sou de vidro, não sou de barro.

Sou mulher.

Cuidado comigo,

eu amarro!





20.05.2008 - 23h35min

Madrugada

Na construção das frases, o deslize formatação de versos, declive e intenção de não-dizer, só dançar entre letras e provérbios e estupefatos espectadores da liberdade irmã. O rodopio molhado debaixo de chuva quando todo o mundo se recolhe e acena a cabeça como quem sofre de lento desespero infantil. Não te assustes, criança de mim, que mora em meu peito e pulsa feito relógio de corda, feito varinha de condão. São tuas as horas lembradas as livres revoadas de versos e risos soltos nas madrugadas negras em que estão presos os senhores toscos e em que se prezam os sonhos e as não-divergências e as adjacências das alegrias que não têm licença para aflorar de dia. São tuas as abstinências e teus os mistérios quando a troca é presença e remédio para as dores, ausências, tédio. O peito que abre em soluços e verbos sem pé nem cabeça, sem cérebro mas pleno de significados engraçados e veementes encantos sorridentes. Eu penso que assim são as gentes de pele arrepiada e sensibilidade primária de passo nunca poupado e luta diária de grito que ecoa na febre revolucionária. Eu penso que assim são os grandes com leveza de bailarinas e coração de gigantes... 20.05.2008 - 22h39min