quinta-feira, 12 de julho de 2012

Alforria

Há mordaças e viseiras
nas esquinas
de cada rua
do lugar.
Há documentos que obrigam
o uso compulsório
de cada acessório
que o rei mandar.
E ameaças
perambulantes de
extenuados zumbis
com olhos de sangue
esfomeados
por cérebros sadios.


Ali, a liberdade é só uma palavra presa entre as capas de um livro qualquer.


(Mal sabem eles que o mesmo livro onde pretendem manter presa a liberdade
esconde a força da revolução
mal sabem eles...)







Mês um


Quando
num repente
a linha de um
cruza
a vida do outro
traz na bagagem
a ímpar sensação
de ser único
de não haver qualquer corpo
que tão bem se encaixe
mais saborosas formas
que as formas
do cheiro "loro" dele
nas formas
do cheiro negro dela.






Peleia

Aposto minhas fichas
no dia que há de vir.
Deposito expectativas
que me valem
a cabeça a prêmio
em bandeja de prata antiga
d'estrelas vermelhas pintada.
Mantenho os pés firmes
e a atenção redobrada
nas desigualdades multiplicadas
pelo desespero evidente
do adversário
que ruge
esperneia
e se debate
ante a clara e inegável
possibilidade
de perder o cetro
para as grades.

Sal da terra




Se o povo perde a língua
na lâmina fria
da espada do rei
inda lhe sobram os gestos
e tudo que escrito se lê.
Os escravos
um dia se revoltam
pois que eles também votam
e seus olhos sabem ver
a mentira estampada
no papel que nega a chibatada
e nega a forma da lei
que reza a expressão livre
na boca
no livro
na opinião manifesta
de que nesta terra sem sal
tudo acaba em pizza
paga com cheque viciado
UPAda em maca fantasma
esburacada na via principal
das promessas quebradas
que o trono
pretende obrigar a esquecer.
O próprio tronco
onde os falantes são erguidos
GRITA
os abusos dos governantes.



(E se eu, peixe pequeno, morro pela boca,
o ditador, pela urna será deposto).