quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vertigem



Dedilhar a próxima hora
balanço de lua sem luz
limiar de explodidas menções
n'uma ou n'outra nota musical
de revés.
Ao invés de saturar-se de nadas
delineia-se um azul difuso
na próxima curva.

Côncavo.

Convés.






24.08.2011 - 22h

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Previsão



Canto a pedra da próxima hora
abrem-se os parênteses
e as linhas curvas turvam
os olhos
esvaziados de composturas.
Disponho as cartas
sobre as mesas verdes
de algodão doce.
Não tenho tempo
nem cruéis esperanças vãs.

Voo.





10.08.2011 - 20h19min


sábado, 6 de agosto de 2011

Inacabado




Abotoo as portas
amontoo os freios
e fricciono vertigens
comporto miragens
e experimento limites
basta que os olhos pintem
Artes e ofícios
e debaixo dos tapetes
escondam os ouvidos mudos.





06.08.2011 - 20h

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

À Francesa

Esteira

estende-se
port'adentro

o soco soa fundo

esguia

esgueira-se
port'afora


o fundo falso
abalroa
o passo


ninguém vê


a boca miúda


não comenta





05.08.2011 - 22h

Realidade

Pé no chão
assoalho gelado
pra fazer lembrar do dia
da hora precisa
em que o real virou fantasia
e o suposto bem mais que deveras
existira.
A língua trava no meio da rua
não olha o lado
e cospe fora a palavra
que jamais diria
não fosse o azul que grita:
SOPRA!
e o sabão se esvai na bolha
antes que o dia acabe.

Pé ante pé
o chão
resvala...



05.08.2011 - 15h23min

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Trajeto

Ganhar não é difícil
mas exige esforço
jogam-se os dados
e os próximos passos
são marcados de mistérios
sem verdade, impossível
sem entrega, improvável
as linhas não garantem
segurança de nenhum lado
té que no meio do deserto
surja o milagre.




04.08.2011 - 21h

Jogo

Jogo
mas não jogo alto
ando pelas beiradas das regras
recuo alguns instantes
e uso armas-surpresas
de vez em quando
pra não perder de vez a mão
a mão que do outro lado
recua alguns instantes
e usa desconhecidas
artimanhas suspeitas
de vez em quando
pra não perder de vez a linha
conheço alguns movimentos
outros invento
ao longo do campeonato
que pode se estender
por uma temporada inteira
e
se os jogadores tiverem
sorte
astúcia
vontade
repetir a dose
na próxima
enquanto isso eu jogo
mas não jogo alto
vou reconhecendo terreno
descobrindo o adversário
calculando os erros e
as possibilidades de acerto
equilíbrios perfeitos
nas mãos de quem joga
mas não joga alto

por enquanto


por enquanto
há que reconhecer terreno
avaliar o adversário
considerar as possibilidades de erro
e de acertos
certamente


nas mãos de quem joga
mas não joga alto


por enquanto



nas mãos dos participantes
o resultado
impactante


por enquanto


empate







04.08.2011 - 17h24min

Xadrez

Pontos de linhas cruzadas

costuras alinhavadas em quadros

devagar

perde sentido a couraça

estrada

um passo de cada vez

som de colírio nos ouvidos cansados

sem mestres

ninguém dirige nada

nem nada impede

nem nada empaca

jogo de dama

no xadrez vestido

posto à prova

na dificuldade do nó

que não intimida




desafia.









04.08.2011 - 01h34min

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Atuação






Aparo as pontas quebradas

lixo as arestas

corto as linhas em excesso

traço as próximas metas

meticulosamente

liberto-
-me.








02.08.2011 - 23h04min

Evasão


Foge
desesperadamente evita
os pontos escuros
da rua
foge
a rua
desemboca em beco
migra
esconde a embocadura
foge
alucinadamente pinta
laços obscuros
no lado de lá
íntimo
foge
a fuga espantada
do susto
estampado
na folha tingida
de nada
foge
no lado de cá
lançada a sorte
resulta em fuga
o que hoje me foge.

Como sempre
é minha
a palavra final.






02.08.2011 - 22h23min

Quieta

.
.
.
.



Nada direi
do que nada me resta dizer
falar confunde os termos

silenciosamente

tremo.


.
.
.
.




02.08.2011 - 01h03min

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Interpretação

Eu quero tudo às claras
meias palavras não bastam
vírgulas não revelam
insistentes reticências assustam
o que as metáforas permitem:
entendimentos vários.
Eu quero tudo decidido
saber onde meus pés pousam
entender o que me espera
do outro lado do pântano
e do nebuloso assunto.


Eu quero todas as respostas
antes que venham as perguntas
dentro dessa minha impaciência tanta.



01.08.2011 - 02h33min