terça-feira, 27 de abril de 2010

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Escrevo.
Vão-se meus dedos
anéis e planos
escorregando por oceanos
de detalhes, vírgulas e sensações.
Grãos de areia nos sapatos das gentes
gotas d'água nos tempestuosos copos
virados de cabeça pra baixo
sobre mesas vazias 
de desconhecidos ausentes.
Escrevo.
Vão-se os suores e as permutas
os sonos  e as calculadas
variações nas rotas dos cometas.
Vão-se os vãos das cartas marcadas
e as premissas de estiletes afiados.
Vão-se os meus delírios
e as minhas sacadas
os termos abstratos e as favas contadas.
Vão-se os interlúdios
os colóquios
os diálogos certeiros
as prendas bonitas
as plantas rasteiras.
Vão-se as almas de terceiros
e os nascimentos 
os fins e os meios.
Escoam
quando escrevo
os meus 
medos...






Aos 52 minutos do dia 27.04.2010

Bala Fumaça





Nas avenidas movimentadas
inevitáveis cruzamentos
e ocultas forças desiguais.
Há que se ter paciência nas paradas
consideração nos silêncios
alegria nas arrancadas.
Há que se ter domínio de passos
e um guarda-chuvas gigante
pra evitar as repentinas trombadas
de chuva ácida e despeito evidente.

Quando o trem passa
bala ou fumaça
o resto é detalhe
pequenas impertinências
querendo impedir viagem.

O trem, maior que a maldade
o trilho, maior que a intenção
o destino,
fornalha,
paixão.





Aos 27 minutos do dia 27.04.2010