terça-feira, 20 de maio de 2008
Madrugada
Na construção das frases, o deslize
formatação de versos, declive
e intenção de não-dizer, só dançar
entre letras e provérbios e estupefatos
espectadores da liberdade irmã.
O rodopio molhado debaixo de chuva
quando todo o mundo se recolhe
e acena a cabeça como quem sofre
de lento desespero infantil.
Não te assustes, criança de mim,
que mora em meu peito e pulsa
feito relógio de corda, feito varinha de condão.
São tuas as horas lembradas
as livres revoadas de versos e risos soltos
nas madrugadas negras em que estão presos
os senhores toscos e em que se prezam
os sonhos e as não-divergências e as adjacências
das alegrias que não têm licença
para aflorar de dia.
São tuas as abstinências e teus os mistérios
quando a troca é presença e remédio
para as dores, ausências, tédio.
O peito que abre em soluços e verbos
sem pé nem cabeça, sem cérebro
mas pleno de significados engraçados e
veementes encantos sorridentes.
Eu penso que assim são as gentes
de pele arrepiada e sensibilidade primária
de passo nunca poupado e luta diária
de grito que ecoa na febre revolucionária.
Eu penso que assim são os grandes
com leveza de bailarinas e coração de gigantes...
20.05.2008 - 22h39min
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2 comentários:
belo!!
Emoção eriçada sobre a pele.
Levanta vôo esse pedaço de beleza e vem pousar aqui no meu ombro. Traz com ele a inspiração e este súbito bem estar que me assalta e me renova.
Leva embora poeira e também dores, ausências, tédio.
Não tem pé ou cabeça, mas tem sentido. E faz sentir.
Deixa o corpo leve e o coração transbordando de encanto.
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