segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Voltando... devagar... bem devagar...

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (Gregório de Matos)
É como acordar de um longo sono. Não um sono restaurador, daqueles que te renovam as forças, que te fazem respirar diferente, que te trazem fôlego para o dia que te aguarda depois da madrugada. Não. É como acordar de um sono agitado, desses que te fazem acordar cansado, suado, exausto, louco de vontade de dormir de novo.
Mas desperto.
A despeito da inconstância deste Sol que não dura.
A despeito da pouca firmeza dos dias que ignoro.
A despeito da baixa destreza de minhas mãos trêmulas.
Desperto.
E tenho minha vida inteira pela frente.
E temo minha vida inteira pela frente.
E tremo minha vida inteira pela frente.
Desperto.
Se a beleza se desfigura, se são tênues as conquistas,
se os passos que dou são trôpegos
e me fazem hesitar entre as ruínas do que de mim sobrou
depois do terremoto,
desperto.
E despertar é uma escolha.
Escolhemos o tempo inteiro, inclusive a doença.
Escolho despertar.
Por mais que a alegria seja ilusória
por mais que a tristeza seja palpável
por mais que a vontade seja de morte
por mais que a verdade seja de sorte,
desperto.
Escolha feita.
Volta sacramentada.
Assim,
devagar,
lenta,
imprecisa quase.
Mas escolhida.
Desperto.
06.10.2008 - 20h51min

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