quarta-feira, 25 de março de 2009

Papiro

Escrevo.
Desconheço o limite
onde começa o delírio
onde termina a ilusão.
Escrevo.
Escrevinho mentiras
e açoites e afoitos rumores
de coisas que não haverão.
Escrevo.
Descabelo a noite
e a água fervente
na chaleira vazia
sobre a mesa oval de corda.
Escrevo.
Decoro as formas e os rumos
e as exatas medidas
que eu não soube escolher.
Escrevo.
Desato as gravatas dos nós
que não furam as agulhas
emperradas das máquinas
de costura de lavar de correr.
Escrevo.
Desabo sobre os dedos
cerro os olhos e as janelas da alma
e de todas as minhas posturas
vãs.
Escrevo.
Creio no frio da navalha
descrito no seio da linha
que corta teu rosto
e sangra teu peito
nu.
Meu grito.
Meu consolo.
Meu lamento.
Cru.
25.03.2009 - 21h

2 comentários:

Anônimo disse...

Sempre temos a escrita... pra quem sabe a graça q tem a escrita. Mas ainda assim, temos.

Ricardo Kersting disse...

Papiros meu suporte milenar, tanto quanto perene da múmia de Tutmés, Amenhotep IV, Amenóphis ou Akenáton...Eu em meio dessa companhia ilustre escrevendo em papirus...Serei também múmia? Minha linda poeta, traz para mim um pouco da tintura do Nilo com a qual descreverei meus sonhos..Em teu papiro.
Teu servo.