segunda-feira, 20 de julho de 2009
Questões
Se motivos eu não tivesse
motivos eu não daria
pra receber o farto livro
de mentiras e de soluções mal quistas
nos entrelaçados cordões umbilicais
que me enforcam
pra não dizer que me atrelam
a um passado que eu não foquei
mas que carrego às costas:
corcunda desconfortável
sem previsão de deixar de existir.
Sou sopro esvaído da boca
d'algum vento errante
que sumiu bem no meio do deserto;
daí essa imensidão de vazio
e esse calor debaixo dos pés
que me arranca as peles e as feridas
descascadas de cansaço.
Não passo de uma breve passagem
que nem pegadas deixa atrás de si;
nenhum vestígio de luta
nem de desejo
nem de conforto.
Conforme passam os dias
deterioro os pensamentos que não tive
não compro gato nem lebre nem lembrança alguma
dos fantasmas que pertencem aos mercados
guardados nas minhas entranhas.
Eles me acompanham
embora não os veja mais.
Eles me devoram
me denunciam
desdizem meus feitos
sem dó nem piedade
e consideram piegas essa minha doença
que me arranha a garganta
seca de palavras não ditas.
Apaixonadamente percorro minhas estradas
destituída de qualquer ambição
devorada por minhas contradições todas.
Comparo as curvas e fecho as cortinas.
Não gosto da viagem
gosto do porto desnudo
gosto da porta aberta
nem sempre
às vezes a porta fechada é um alerta
ou uma pretensão
nunca uma proteção.
Cerro as venezianas e encontro teias de aranha
nas dobradiças enferrujadas.
Sem canções tristes, tudo fica meio cinza,
as árvores não balançam
nem os pássaros conversam entre si.
Sem canções tristes não escrevo
nem faço meus rabiscos
que ouso de desenhos chamar.
São meus
são pra mim
são frutos do grafite
que eu gosto sem gasto
ou defeito de luzes.
São minhas curvas e meus açoites.
São meus gritos.
Restos das sobras
do que haverá de ficar de mim...
Não são pegadas
são nós frouxos
pra serem soltos
por quem me vir.
Por ti...
18.07.2009 - 15h
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