sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ainda

Quanto tempo ainda
antes que a acidez facilite
a flacidez dos sentidos?
Quanto tempo ainda
té que que se salvem
os restos dos imortais
pendurados nas paredes
da biblioteca vazia?
Quanto tempo ainda
antes que as funestas previsões
destruam os degraus de votos
de saúde permanente e deslizes?




21.05.2010 - 05h51min

2 comentários:

Ricardo Kersting disse...

O tempo "ainda" está em nosso favor.
É preciso esperar o balanço da carreta ajeitar as melancias.
Quanto aos imortais, não posso dizer nada, mas acho surpreendente como se tornam imortais com tanta facilidade em nosso país.
Beijos.
( Este comentário se refere apenas à parte que presumo ter entendido)

Simone Toda Poesia disse...

Gosto de pensar nos MEUS imortais, que eu adoraria que o fossem de fato. Virgílio, Nietzsche,Sartre, Simone de Beauvoir, Shakespeare, Einstein, Paganini, Picasso, Dali, Clarice Lispector, Quintana...rs... Embora eu tenha uma atração quase irresistível pela morte, a imortalidade me fascina. A minha própria, inclusive (mais uma de minhas inúmeras contradições, essa...rs). A imortalidade que nos resta é a da lembrança, apenas. Eu gostaria que, de alguma forma, ela extrapolasse esse conceito. Talvez até o seja. Ou não. Não sei. Isso provoca em mim uma certa tristeza,que aumenta se eu prestar atenção (e não o faço com frequência) aos 'imortais' brasileiros, ao menos no âmbito literário. Penso terem sido acertadas algumas escolhas. Outras (as mais recentes, aliás... parece que quanto mais o tempo passa, menos se aprende a apreciar as boas castas) apenas baseadas em quantidade. E quantidade, diria Nietzsche, está muito distante de qualidade. 'A raridade está reservada para os raros', segundo ele. Eu assino embaixo.

Conheço a resposta para essa minha pergunta (sempre que se faz uma, a resposta já é nossa mesmo...rs). Estamos em contagem regressiva para a falência peremptória da memória do que realmente fez diferença. Ah, não me acuse de negativismo. Tenho olhos, e emmbora eles AINDA percebam muitas coisas boas, também vêem claramente que o bom gosto anda escorrendo ralo abaixo. Os movimentos contrários são poucos, portanto, fracos. Desistir? De jeito nenhum! Mas ter bem presente que é uma luta inglória.

A raridade anda cada vez mais RARA... Infeliz e definitivamente.

Beijos