segunda-feira, 3 de maio de 2010

De verdades e mentiras

Talvez a verdade não exista
e seja só uma invenção
pra gente não viver tão triste.
Talvez não exista a mentira
 tudo um grande axioma
com facetas diversas
que parecem o oposto do que são.
Talvez a verdade dependa só da gente
e da nossa vontade de acreditar no que não é.
Talvez essa crença seja nossa cura
ou a razão única da nossa doença.
A verdade, disfarçada de outra coisa
pra nos dar força
pra nos fazer sobreviver.
Sobreviver a que?
Aos desmandos diários
aos nossos próprios demônios
às ilusões a que nos agarramos
como se nenhuma outra alternativa houvesse
além do oásis-miragem
no quadro sensacionalista
que a gente carrega debaixo do braço
pra não esquecer.

Talvez o espelho deforme a imagem
- quem garante que o que vês
esteja de fato representado
no que existe de concreto? Ou
será que o reflexo é que reflete
o que de fato o fato é?-.
Talvez a mentira seja uma verdade
que enlouqueceu - de burrice, talvez?-.
Ou a verdade seja só um instrumento
talvez só um meio, pra se alcançar...
O que? A própria sombra,
morta de embolia pulmonar.

Talvez um dia as duas se descubram irmãs
gêmeas.
Talvez, e apenas talvez, numa hipótese muito remota,
as iguais se fundam.
E aí, talvez, e apenas talvez,
não haja mais razão de ser
da dúvida,
essa mãe da insensatez...

Até lá, as verdades e as mentiras
permanecerão confundindo nossas mentes
nossos olhos, nossas mãos.
Até lá, as mentiras bem contadas
serão verdades, até prova em contrário,
e as verdades mal contadas parecerão mentiras
correndo nós o sério risco de perder nossas preciosidades.

Talvez a verdade seja uma mentira que enlouqueceu
de tanto acreditar
.
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03.05.2010 - 03h26min 

5 comentários:

Ana Lúcia disse...

Sabe, Simone, eu também já me perguntei se a verdade existe. E acredito que sim, mesmo que ela seja difícil de encontrar. Eu sempre acredito, e me ferro. Mas vou continuar acreditando, senão quem vai enlouquecer sou eu, não a mentira.

Que legal o teu blog. Vou fazer um pra mim também. Depois venho te chamar pra conhecer, tá? Verdade verdadeira. Prometo.

Abraços
Ana Lucia
(notei que tu não dorme, como eu)

Luciano disse...

Ih! Taí uma coisa da qual nunca teremos certeza. Se as coisas são verdadeiras ou falsas. Resta arriscar. Mas você mesma já deu a resposta, muito antes desse poema, talvez antecipando intuitivamente essa necessidade de saber. "Sem risco, que sentido há no mundo?"

Luciano

Simone Toda Poesia disse...

Ana Lúcia, eu sempre escolherei "me ferrar", antes de "ferrar" os outros. Prefiro ser eu a enganada, que ocupar o lugar de enganadora. Melhor que eu sofra ao descobrir as mentiras, que os outros, ao descobrir que eu menti...rs...

Luciano, nem tinha me dado conta dessa antecipação de resposta...rs... E acredito muito nisso: não faz sentido nenhum continuar andando sempre nos mesmos ditames, pura e simplesmente por segurança. O risco existe, e talvez vencê-lo seja um grande desafio. Como é vencer o medo, a insegurança, a sociedade, a tradição, a cultura e as crenças específicas da região de cada um. Enfim, essa coisa de verdade e mentira abrange um sem número de situações e, ainda que a gente acabe caindo na rede da mentira, de vez em quando (e afirmar que nunca se mentiu já é uma baita...rs), importa ter bem presente que essa não seja uma prática diária, daquelas com as quais a gente fica tão acostumado que nem percebe estar fazendo.
Aff... falei demais...kkkkk...

Saudações poéticas, caríssimos...hehe

Anônimo disse...

Você dança. A caneta deve ser seu par permanente, e a canção deve ser sua angústia.

É isso aí, Simone Aver, você dança e rodopia com qualquer assunto, nada lhe é difícil ou encoberto o bastante pra lhe impedir de fazer poesia sobre. E se eu lhe pedisse pra desenvolver alguma palavra, atirada ao acaso, você faria maravilhas com ela. Você e (ou?) esse furacão que você carrega por dentro.

Se sair um livro disso, eu quero um exemplar, que ficará, depois de lido, guardado numa caixa com chave e poesia. Vai que ele resolve me devorar!

Assinado: Eu, ainda, aquele que admira a sua poesia mas treme de medo da força daquela que escreve.

Ricardo Kersting disse...

Ora, de verdade em verdade a gente vai mentindo um pouquinho. Numa distração aqui outra ali, as duas até aparecem....juntas.