domingo, 16 de maio de 2010

Quem sou eu?

Sou a pedra de Drummond
que jamais chegou a ser
castelo de Pessoa
ou jamais chegou a ver
de Sísifo as mãos.
Sou letra redondinha
e fome de leão
carteira vazia
e voz de assombração.
Sou quem me alicia
língua queimada
fantasia.
Sou mesa posta para o jantar
e tristeza repentina.
Sou mãe, irmã, filha, avó
e cama vazia.
Sou manhã de luto
e luta inglória.
Afasia.
Sou feita de percevejos
e pontas de espadas frias.
Sou pimenta malagueta
no canto da boca do dia.
Sou quase nada
do que em mim havia.
Sou tropel, chapéu de palha
porta aberta, verso sem rima,
gaveta trancada,
chave pendurada
no esconderijo de onde
ninguém tem coragem
de pronunciar o nome.
Sou túnel e corpo possesso.
Sou veludo e enternecimento.
Sou cabeça, corpo e coração
separados de mim
para entretenimento
todos na palma úmida
da tua mão...


16.05.2010 - 20h20min
*Da Série - SOBRE QUEM SOU

3 comentários:

Cello disse...

Somos muitas coisas ao mesmo tempo. Você, mais do que ninguém.




Beijos

Maria Eduarda disse...

Você tem letra de professora (risos).



Abraços

Maria Eduarda (Imperatriz - MA)

Ricardo Kersting disse...

Na parte da carteira, somos bem parecidos né? Só que tu és muito mais do que isso. Acho que a constatação é muito simplista para a complexidade do tema, mas na verdade não tenho mais nada a dizer.
Saudações..