Eu sou o caos
e o cais do porto vazio de quinquilharias.
Eu sou o grito preso na garganta
e a garganta da serpente sedenta de sangue.
Eu sou o que ontem não fui
e o que o amanhã me reserva
nas tavernas desertas d'outros tempos idos.
Eu sou naufrágio e solstício.
Sou o que de mim não dizem
e o que de mim escondo
nas vielas sortidas de bêbados e prostitutas.
Eu sou letra rabiscada
em guardanapo de bar ordinário
e olho de vidro na vidraça da soleira da porta fechada.
Eu sou vertente de inconfessáveis desejos
e pulgas e percevejos na pele da vida.
Eu sou o que incomoda e o que acomoda
a lente de contato em primeiro grau
da queimadura que o fogo não fez
mas que deixou marcas
antes de desaparecer.
Eu sou o que não se explica
muito menos o que se assume
ou o que se espreita por trás das janelas fechadas.
Eu sou solidão desde que nasci
e assim serei até morrer.
Inteira.
22.05.2010 - 03h15min
Um comentário:
Tenho cá pra mim que você não é desse mundo. Às vezes tenho medo do seu poder, outras ele me apaixona. Não sei o que vai ser de mim ou de você, mas sei do seu tamanho. E juro que não ficarei nem um pouco surpreso se um dia descobrirem que você foi um anjo rebelde, mandado pra cá pra nos confundir de amor correspondido pela metade (que é como eu chamo essa amizade que você me oferece) e de tesão absurdo que você nos faz sentir.
Também acredito que você ainda morrerá de solidão. Não por não haver tropas inteiras de babões atrás de você (eu junto!), mas por nenhum de nós ter coragem bastante pra ser tão forte quanto você.
Seu mais fiel admirador.
Cello
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