sábado, 26 de junho de 2010

Pra lembrar de Quintana (Como se fosse possível esquecê-lo)

EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS MUITO LINDOS
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos

colhidos no mais íntimo de mim...

Suas palavras

seriam as mais simples do mundo,

porém não sei que luz as iluminaria

que terias de fechar teus olhos para as ouvir...

Sim! Uma luz que viria de dentro delas,

como essa que acende inesperadas cores

nas lanternas chinesas de papel!

Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas

do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te

e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento

da Poesia...

como

uma pobre lanterna que incendiou!



Mario Quintana (Quintana de Bolso)




OS DEGRAUS
Não desças os degraus do sonho

Para não despertar os monstros.

Não subas aos sótãos - onde

Os deuses, por trás das suas máscaras,

Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.

O mistério está é na tua vida!

E é um sonho louco este nosso mundo...



Mario Quintana - Baú de Espantos





SIMULTANEIDADE
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo!
Eu vou me matar! Eu quero viver!

- Você é louco?

- Não, sou poeta.



Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo (Poesia Completa, p. 535)



SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...

Quando se vê, já é 6ªfeira...

Quando se vê, passaram 60 anos...

Agora, é tarde demais para ser reprovado...

E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio.

seguia sempre, sempre em frente ...



E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.



Mario Quintana ( In: Esconderijo do tempo)





CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO

Eu sou um homem fechado.

O mundo me tornou egoísta e mau.

E a minha poesia é um vício triste,

Desesperado e solitário

Que eu faço tudo por abafar.



Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,

Com o teu passo leve,

Com esses teus cabelos...



E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender

nada, numa alegria atônita...



A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil

Aonde viessem pousar os passarinhos.



Mario Quintana



O SILÊNCIO
Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, n ão quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio...



Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo







PROJETO DE PREFÁCIO

Sábias agudezas... refinamentos...

- não!

Nada disso encontrarás aqui.

Um poema não é para te distraíres

como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.

Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe

Um poema não é também quando paras no fim,

porque um verdadeiro poema continua sempre...

Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte

não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.



Mario Quintana

Um comentário:

Marcello disse...

Sempre bom lembrar de Quintana. Mas Simone Aver é uma leitura deliciosa. Escreva, garota, escreva.


Beijos

Cello