sábado, 3 de julho de 2010

Algumas palavras

As flores secas cantam canções passadas
as páginas abertas transpiram ontens
o vento sopra perfumes esquecidos
as fotografias amarelam lembranças tidas.
Não paro. Meus pés, embora eu não desejasse,
dão passos à revelia, na dança da vida.
Desço as ladeiras das técnicas
pesquiso outras palavras e formas outras
de dizer o que não escrevo.
Gravo em grão de arroz meu erro
que é pra ninguém saber que dependo
da minha própria aprovação
pra seguir em frente. E sigo.
Deito em colchão de virgulas
e sutilmente mergulho em pesadelos
escondida debaixo de uma consciência
de envenenados espinhos letais.
Quero descobrir-me além das leituras
além das histórias que semeio em mim
além dos sabores que pensei provar.
Afasto o definitivo.
A partir de agora, só os efêmeros
roçarão minhas vestes leves.
Só eles chegarão perto do meu dom:
o de crer na liberdade de tudo
a despeito e antes e acima de qualquer outra coisa
inclusive do amor
(mas o que é o amor?)
.
.
.







03.07.2010 - 22h44min

2 comentários:

Marcello disse...

Nada é definitivo. Tudo é transitório. Mas o efêmero é mais que transitório. O efêmero parece mais rápido. Menos profundo. O que nem sempre acontece com o transitório. Esse pode até passar, mas deixa marcas.
Entendo você. Chega de marcas, certo?




Beijos


Cello

Marcello disse...

O que é o amor? Amor, certamente, não é prisão. Mas também não é essa liberdade toda, minha querida. Ouça: amor é estar preso de boa vontade, e alegrar-se com isso, e desejar manter-se prisioneiro da liberdade de estar com a mulher amada.
Tive esse entendimento muito tarde. Agora ele não me serve pra nada.




Beijos


Cello