sábado, 30 de outubro de 2010

Delírio

Antes e depois dos limites
as sombras encolhem entranhas
entrelaçam suspiros
corroem e colorem estrias
nas estreias dos começos.
Vestidos esvoaçam nos varais
das calçadas entrecortadas de olhares sangrentos.
Há verbos dançando no ar
e línguas ferinas
abrindo feridas
comparando fraquezas e fatos
nas frestas e réstias de luz dos orvalhos.
Orelhas dependuradas nos brincos das luas
pintadas em desenhos de criança.
Nem tudo é disfarce
nem tudo solidão
nem todos os cobertores deitam a cabeça na pedra
nem todos os dedos dedilham canções.
Somos estardalhaços ou estilhaços de vidas
perdidas nas pedras das trilhas
abertas entre alvoroços de versos
e partituras de velhos amigos
transformados em papel cartão.
Somos incompletos
e a incompletude dos meus braços
desfaz a incompreensão dos teus.
Somos inconclusos
e a inconclusão dos meus passos
descruza a invasão dos teus.
Somos insossos
e a insensatez dos meus rasos
desdiz a intrusão dos teus.
Somos nada
e ao nada nos recolhemos
todos os dias
às apalpadelas do absurdo
às aparências do que  já não é.
Nem poderia ser.




30.10.10 - 17h23min

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