segunda-feira, 25 de junho de 2012

Paredes

No espaço que habito
as órbitas são irregulares
é sempre hoje-agora-aqui
um ínterim de minutos
evaporantes e carmins.
O diminuto estreito
que a mim cabe
tem transbordos de flores
querubins no estrado
e violinos líricos
por todos os lados.
Não há espelhos
- nem mães d'água -
mas peles nas janelas
e pétalas de rosas nas escadas.
As quatro paredes que são minhas
guardam-me os sonhos
tesouros alados
moedas de versos
verbos escravos.
As preferências latejam primórdios
e os pontos dos 'is'
dançam
sem pares estreitos
nem estranhos compassos
ou claves de sol esparsas
só um rastro do astro rei
cortando a nota
- ríspido giro de braço -
e um si bemol
sem resposta.
Entre um ponto e outro
do que não me sobra
há fagulhas e vertigens
pintadas unhas de virgens
e abraços que desconheço.
Longos poemas escorrem
de gavetas
nas parede de pedra e cimento
onde moram-me os fantasmas todos.
Os mesmos
de quem eu roubo
os pensamentos.

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