Bordo a página que me liberta
dos fantasmas, dos perigos,
das bonecas de pano rasgadas,
das estátuas, das bailarinas...
Meu corpo é palavra que alucina
alucinação que prevalece...
Palavra é faca de dois gumes.
Espada que fere e mata
o que há de vil na pele
o que há de mau na alma.
Palavra é magia dúbia
às vezes cala
às vezes grita.
Ninguém sabe ao certo
se está empapada de mandinga
ou de bom mistério...
Palavra é saco de risadas
aberto dentro da igreja.
S A C R I L É G I O !
Gritam os fiéis do silêncio,
explodem as bocas malditas,
dispostas a fechar a matraca
dos desobedientes, que insistem
em proferir dizeres vãos em solo crente.
Palavra é privilégio.
Peito que verte leite-alimento
aos poetas, aos loucos, aos insanos.
E S Q U I Z O F R Ê N I C O S
que ouvem vozes distantes
e são amigos de invisíveis homens nus
cantantes, de permanente bom humor.
COISA DE LOUCO!
Dirão os profetas do pessimismo barato
que fazem plantão, ladeados de serpentes,
nas portas das casas dos requerentes do
seu quinhão de vida e de alegria decente
(seja lá o que se considere decente na alegria
seja lá o que se considere recente decência
seja lá o que se considere decência no dia).
MORTE AOS POETAS!
Praguejarão os desprovidos de imagens
os desprovidos de suavidades
os desprovidos de provas de coragem
os des-providos de provimentos
de beleza, de amor, de sorrisos
de palavras.
Praguejarão os desprovidos de canetas
e os desprovidos de idéias
e os desprovidos de sonhos
e os desprovidos
de palavras.
Esses, sim, os esquisitos.
Vazios de sentidos ou mistérios.
Iguais. Robôs. Repetintes de medos
dos outros. Os outros. Os outros.
Os vazios de palavras.
Os vazios de verbos.
Os vazios de si mesmos.
Os que silenciam
e obrigam o silêncio dos outros...
14.02.2008 - 02h06min
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