sábado, 12 de abril de 2008
Despertar
O acervo das minhas obras
esgota o pensamento hostil que me cerca.
Acordo entediada com olhos de abismo
postos sobre os próximos minutos
que me aguardam indecisos
quanto à presteza do meu estado atônito
diante do curso que o rio do tempo toma.
Tiranizo o relógio. Eu mesma faço as minhas horas.
As honras enfraquecem os laços
ou os desfazem ao seu bel prazer.
Beijo as espumas dos dias corridos.
Serão resgatáveis os minutos perdidos?
Os pontos finais serão mudanças
ou abrirão expectativas outras
que sequer suspeitávamos, nós dois?
Piores são as reticências. Silêncios prolongados
em que não sei se estás ou se já foste
entre um emaranhado de conversas antigas
que nem sequer chegamos a ter.
Adapto o mundo ao som de um piano distante
que canta de dentro das páginas do livro
na estante próxima da cama.
São espaços que não me pertencem,
que dançam entre os dedos,
com cheiro de cera líquida,
recém coberto o assoalho de tábuas escuras
por onde meus pés passeiam agora.
Espreguiço e estremeço o corpo
diante da possibilidade de jamais vir a escrever
as linhas que tracei no horizonte do sonho
e que se vão perdendo, rapidamente,
enquanto a lucidez assume o comando
e o estômago reclama um pouco de café.
Amanhece o dia.
Faz frio.
Acordo.
12.04.2008 - 20h28min
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário