quarta-feira, 21 de maio de 2008
Exposição
Pendurada no varal, minha poesia
posta à prova pelo povo letrado
que já se vai, que silencia.
Pendurada no varal, minha vida
escorrida entre os dedos do dia
feito pétala desnuda que se desprende
da fantasia, do cabelo, da folia.
A semântica é um detalhe
os livros lidos, mistério
as invenções, os sucessos, questões
em aberto no grande palco
iluminado por estrelas vadias.
Procura-se um genuíno intelectual
entre os prendedores do varal
com os óculos no bolso,
na mão um punhal.
Quer cortar o preconceito
do verso manco, sem jeito
que escrevi sem nem pensar.
Quer sacanear as regras
quer investir às cegas
num único verbo: C A N T A R O L A R.
E eu, ciumenta da minha obra,
observo estática os observadores
que dela tomam uma prova.
Molho a língua n'água doce exposta
e sei que não sou eu
é minha pele, boca, alma à mostra
aos olhos frios que passam
aos bons olhos que me alcançam
e sabem de mim
e me abraçam.
21.05.2008 - 20h28min
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Lendo-te, fico aqui pensando que poesia, para o poeta, é como filho. Não se tem filho para si, mas se tem filho para o outro. Entende? Esse "ciúme" da palavra contemplada no varal... e saber que a palavra sai do poeta mas pousa em quem a lê, passa a ser sentimento de quem a sente.
Êita mulher que sabe expor palavras no varal. Adorei.
Abração
Postar um comentário