letras putrefam fadas
feitos ressuscitam letras
nas histórias mal contadas
que nos obrigaram a engolir
lajes de luz, pás de inspiração
holofotes que confundem
e depois enterram no quintal de papel
os cegos mortos no tiroteio das frases
olhos fechados em ataúdes no tinteiro
vermelho líquido na ponta da flecha
e na veia e no veio e sobre o travesseiro
o indescanço arranhando a madeira
a indecência disfarçada na esteira
estendida na soleira da porta trancada a chave.
Mortos! Mortos! Mortos! Que fazem ainda no chão?
Não escutam o poetar nas árvores?
Como ousam não erguer-se ao canto de um pássaro da manhã?
Os ninhos foram construídos à noite
enquanto mortais normais dormiam
o sono justo dos que por justiça lutam
e o horizonte alaranjado anunciou o amanhecer.
Reflexo polido por deuses, aos clarins anunciando
o resto azul que virá se prostrar
até o instante silenciar-se em escurecer.
Que esse leve trilar estremeça a vida
Que conceda ao homem a chance
De, das cinzas, renascer
e viver em poesia outra vez.
02h – 19.07.2008
Com Pedro Augusto