terça-feira, 4 de agosto de 2009
Tresloucada
Tresloucada escrevo novos versos
meio sem nexo algum
que é pra ver se desvirtuo
um tantinho só
um só tantinho
essa minha vontade de ser certinha
a certeza que eu nunca tive
o caminho que eu não cheguei a seguir.
Solto os dedos no teclado
e permito que eles mesmos digam
o que eu não ousaria dizer
de boca lavada
e cara limpa
diante de um espelho quebrado
ou de um microfone a todo volume.
Quero distância das sinceridades todas
prefiro as mentiras cabeludas
pra fazer tranças e longos penteados
e fingir que tudo permanece intocado
feito relva virgem
em clareira aberta na floresta desconhecida.
Permito que meus membros gritem
as coisas que eu não pronuncio
nem sonho em dizer sem testemunhas
ou quadros de funcionários
e discursos de teses sem sentido
sem intenção
sem conclusão precisa.
Eu quero a liberdade de saber-me nua
despretensiosamente destituída de conceitos
e propostas oficiais.
Eu quero a cicatriz que me rasgou o peito
e o peito que recebeu a cicatriz.
Quero a marca
a trégua
a régua que traçou a linha
que eu não fiz
que eu não pedi pra fazer
mas que tenho que seguir
à risca
dia
após
dia
no interminável solo aberto
diante de mim.
Tresloucada escrevo
e digo
despudoradamente
o que me vai nos extremos
dos membros que me bastam
dos socos sovados no estômago
dos santos orados olhados ocupados
pelas orações que eu não pedi.
Tresloucada.
Escrevo...
E tu não entendes.
Nem deverias.
Nem poderias.
Nem ousarias.
Escrevo
mesmo assim...
04.08.2009 - 15h
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