domingo, 22 de março de 2009

Eu

Eu sou o vento e a fantasia. Sou poesia e solidão. Sou o que está à mão e o que escapa. O que escorre entre os dedos e o que maltrata. Sou a nudez e o exagero, a febre, o sono e a delícia, a água na boca, a preguiça, a faca, o queijo e a reticência. Sou o disfarce de gente, da demência, e um anjo de candura na letra. Sou um grito calado, uma espécie de riso apenas sugerido, um tipo de dor inda não inventado. Sou a pretensão, o divórcio, a escolhida. A fera, o fogo, a exata medida. Sou a desconfiança vestida de mulher e a confiança cega, travestida de infância. Sou a relevância e a figura em quinta dimensão. Um sim prematuro. Um amargo não. Sou a fé sem fundamento e o soco certeiro, de direita. Sou a trave no olho e o tremor dos lábios, na hora do adeus. Sou o próprio adeus e o sorriso de boas vindas. Sou as rendas e as pintas das joaninhas verdes, que esvoaçam entre as flores vermelhas. Sou as trepadeiras e macieiras cheias de frutos doces. Mas também sou o frio, a fome e a miséria. Não pague pra ver. (O que diriam teus pares, quando, afinal, descobrisses que apesar de tudo isso, ainda assim quiseste me ter?) Aos 02 minutos do dia 22.03.2009

Um comentário:

Ricardo Kersting disse...

Lindo poema, Simone. Do zero ao infinito em poucos segundos.
Pares que me perdoem, ter é fundamental.

Bjs.