sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Esconderijo

Direi do poeta
que ele é um verso maldito
escandalosa rima doída
barulhenta estrofe dita.
Direi que foi paixão e loucura
ou reviravolta de um escrivão fantasma
que devorou a rua
e deliberou a frase sarcástica.
Do poeta direi calúnias
e incentivarei a prova
que incrimina as luvas
as mesmas que jamais foram usadas.
Do poeta cantarei deveras
despedirei as metades caras
dissiparei as brumas.
Direi do poeta a memória
e a calada ciência da vida
sem toldos nem gotas de orvalho
sem anjos ou mãos ressentidas.
Dele colherei as lágrimas
e saquearei o verso descrito
na última estrela mentida
no passo gigante do homem na lua.
Dele direi demências
e denunciarei  a bainha
o lençol revolto
o voo dormido.
Nele disfarçarei meus medos
fobias e empecilhos.
Vestirei meus olhos.
Roubarei meus quilos.
Armarei as rotas.
Conhecerei meus vazios.
No poeta.
Do poeta em mim.







15.01.2010 - 02h37min

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom! Direi os podres do poeta, do poeta que sou eu... fazer verso é se expor mesmo.